O PT e a esquerda dissidente Freudiana.
No site do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o professor Mauro Luís Iasi, expoente maior do que podemos ainda chamar de esquerda neste país, faz uma análise criteriosa sobre os possíveis blefes cometidos pelo PT e pelo PSDB e a extrema direita no Brasil, na macha contra e a favor do Impeachment de Dilma Rousseff.
Porém, em que pese os grandes acertos da análise, percebo que as observações do professor Iasi são incisivas e muito coerentes, no entanto, sua análise sobre o interesse que poderia ter a burguesia monopolista (industrial, bancária, agrária, comercial, etc.) no Impeachment parece insuficiente já que este modelo de governança conserva a estabilidade institucional e garante a mais valia, nas palavras do autor.
Ademais, conforme bem suscitou o texto, nunca os capitalistas acumularam tanto lucro quanto no governo petista, em razão do poder que sempre detiveram para prescrever seu remédio amargo, como as medidas de austeridade econômica tomadas em detrimento dos interesses do operariado. Então a pergunta que me resta fazer é se essa burguesia que comanda e abarrota seus cofres com os recursos públicos apoiaria a deposição de Dilma para encerrar este ciclo de governos petistas só por tédio ou por inveja? Por tédio por ser tão fácil ganhar dinheiro? Ou por inveja do que acreditam representar o PT para o trabalhador?
Então, restaria concluir, e esse é o ponto que mais me incomoda nos líderes políticos mais a esquerda, todavia isso é mais clarividente em partidos como o PSOL que no PCB, que toda indignação com o PT se apresenta semelhante aquela revolta que costumam ter os filhos quando são contrariados pelo pai. Ou seja, numa visão Freudiana, seria o eterno fantasma do poder patriarcal dirigindo as escolhas do filho. E isso fica patente na conclusão, não surpreendente e sim previsível, atribuída ao barbeiro no texto: “Sabe, eu acho que ninguém quer o impeachment, o que eles querem é deixar este governo sangrar por quatro anos para depois derrotá-lo de uma vez por todas nas próximas eleições”.
Por fim, a condução milimétrica e eficiente das regras do jogo para alcançar um fim perverso. Diante disso, a primeira ruptura a se promover no cenário político brasileiro, para haver uma esquerda afinada prática e teoricamente com o interesse do operariado, é com os laços freudianos que a liga ao PT. Tal como um adolescente que, não mais suportando a opressão, resolve sair no braço com seu pai.
Por: Adão Lima de Souza
Caro Adão. Com todo respeito, acredito que você interpretou o Mauro Iasi com um certo equivoco e está caindo num debate que não explica muita coisa (sobre indignação como de um filho contrariado pelo pai).
A classe dominante não interrompe apenas governo de esquerda. Essa é uma avaliação equivocada:
“Impedimentos e interrupções institucionais não são utilizados apenas contra governos de “esquerda” ou de um reformismo potencialmente perigoso à ordem capitalista (duas coisas que o governo do PT não representa nem remotamente), mas também contra governos que já cumpriram sua função e passaram a se tornar incômodos. É o que aconteceu quando surgiu a necessidade de interromper o Estado Novo getulista ou a autocracia burguesa no final dos anos 1970.” (Mauro Iasi. A adaga dos covardes, ou, O limite da imbecilidade direitista).
No período da redemocratização, a burguesia não obteve êxito com alternativas que tivessem legitimidade e inserção entre os trabalhadores. Como você deve saber a “social democracia (PSDB), no Brasil, já nasce defendendo ideias “neoliberais”. Os governos Collor e FHC encontraram bastante resistência da classe trabalhadora. Esse impasse foi resolvido com o amoldamento do PT à ordem do capital. O PT foi fundamental para garantir a acumulação de capitais ao passo em que apassivou e segurou setores importantes da classe trabalhadora. No entanto, o desgaste em relação ao governo aumentou e a película ideológica que dizia que tudo ia bem começou a se romper, os trabalhadores insatisfeitos não se detêm nos limites do pacto entre o PT e a burguesia, e começam a retomar as mobilizações, como (entre outros exemplos) nas greves de 2012 e nas manifestações de 2013; o PT se esforçou para demonstrar eficiência para a burguesia, disposto a reprimir a classe trabalhadora, para manter a “ordem” (a exemplo, da lei de greve, da lei “antiterrorista”, das prisões, etc.). Essa experiência do PT acabou desarmando e despolitizando a classe trabalhadora, abrindo caminho para os setores reacionários.
“Continuamos acreditando que a opção principal da direita, no sentido mais preciso dos interesses de classe ligados ao grande capital monopolista, caminha em outro sentido, qual seja, de produzir uma transição sob um governo fraco e sob cerco, enquanto se gesta uma alternativa para substituí-lo nas eleições de 2018. Alertávamos, no entanto, em outra oportunidade, que um dos mecanismos desta operação, a constante ameaça de impedimento antecipado da presidente, poderia ganhar uma dinâmica própria e se viabilizar como alternativa e, desta maneira, não estaria por princípio descartada como possibilidade pelo bloco dominante.” (Mauro Iasi É o lobo, é o lobo!)
Diferente do PSOL, que é hegemonizado por um setor que aposta, ainda, na estratégia democrático popular, nós, do PCB, temos divergências estratégicas, programáticas com o PT , e não moralistas. Por isso também consideramos que que o PT e o Governo devem ser compreendidos pelo programa e pela ação política objetiva que executa, e não pela origem de classe de parte da militância do PT e de membros do governo.
Nós, do PCB, temos claro que o nosso papel é lutar para que os trabalhadores se apresentem no cenário político, com projeto próprio, com autonomia e independência de classe, e não reduzindo a participação política dos trabalhadores a base amorfa e inercial de apoio e defesa de um projeto que não é o seu. Portanto, não procurando apenas uma alternativa de governo, mas uma real alternativa de poder, para se contrapor ao bloco conservador que se formou nesse país.
Caro Adão. Com todo respeito, acredito que você interpretou o Mauro Iasi com um certo equivoco e está caindo num debate que não explica muita coisa (sobre indignação como de um filho contrariado pelo pai).
A classe dominante não interrompe apenas governo de esquerda. Essa é uma avaliação equivocada:
“Impedimentos e interrupções institucionais não são utilizados apenas contra governos de “esquerda” ou de um reformismo potencialmente perigoso à ordem capitalista (duas coisas que o governo do PT não representa nem remotamente), mas também contra governos que já cumpriram sua função e passaram a se tornar incômodos. É o que aconteceu quando surgiu a necessidade de interromper o Estado Novo getulista ou a autocracia burguesa no final dos anos 1970.” (Mauro Iasi. A adaga dos covardes, ou, O limite da imbecilidade direitista).
No período da redemocratização, a burguesia não obteve êxito com alternativas que tivessem legitimidade e inserção entre os trabalhadores. Como você deve saber a “social democracia (PSDB), no Brasil, já nasce defendendo ideias “neoliberais”. Os governos Collor e FHC encontraram bastante resistência da classe trabalhadora. Esse impasse foi resolvido com o amoldamento do PT à ordem do capital. O PT foi fundamental para garantir a acumulação de capitais ao passo em que apassivou e segurou setores importantes da classe trabalhadora. No entanto, o desgaste em relação ao governo aumentou e a película ideológica que dizia que tudo ia bem começou a se romper, os trabalhadores insatisfeitos não se detêm nos limites do pacto entre o PT e a burguesia, e começam a retomar as mobilizações, como (entre outros exemplos) nas greves de 2012 e nas manifestações de 2013; o PT se esforçou para demonstrar eficiência para a burguesia, disposto a reprimir a classe trabalhadora, para manter a “ordem” (a exemplo, da lei de greve, da lei “antiterrorista”, das prisões, etc.). Essa experiência do PT acabou desarmando e despolitizando a classe trabalhadora, abrindo caminho para os setores reacionários.
“Continuamos acreditando que a opção principal da direita, no sentido mais preciso dos interesses de classe ligados ao grande capital monopolista, caminha em outro sentido, qual seja, de produzir uma transição sob um governo fraco e sob cerco, enquanto se gesta uma alternativa para substituí-lo nas eleições de 2018. Alertávamos, no entanto, em outra oportunidade, que um dos mecanismos desta operação, a constante ameaça de impedimento antecipado da presidente, poderia ganhar uma dinâmica própria e se viabilizar como alternativa e, desta maneira, não estaria por princípio descartada como possibilidade pelo bloco dominante.” (Mauro Iasi É o lobo, é o lobo!)
Diferente do PSOL, que é hegemonizado por um setor que aposta, ainda, na estratégia democrático popular, nós, do PCB, temos divergências estratégicas, programáticas com o PT , e não moralistas. Por isso também consideramos que que o PT e o Governo devem ser compreendidos pelo programa e pela ação política objetiva que executa, e não pela origem de classe de parte da militância do PT e de membros do governo.
Nós, do PCB, temos claro que o nosso papel é lutar para que os trabalhadores se apresentem no cenário político, com projeto próprio, com autonomia e independência de classe, e não reduzindo a participação política dos trabalhadores a base amorfa e inercial de apoio e defesa de um projeto que não é o seu. Portanto, não procurando apenas uma alternativa de governo, mas uma real alternativa de poder, para se contrapor ao bloco conservador que se formou nesse país.