Morre Ferreira Gullar, aos 86 anos

Ferreira GullarO escritor, poeta e teatrólogo Ferreira Gullar morreu na manhã deste domingo (4), no Rio de Janeiro, aos 86 anos. A causa da morte ainda não foi divulgada. Ele estava internado no Hospital Copa D’Or, na Zona Sul do Rio.

Gullar era o quarto dos 11 filhos Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Ele nasceu em São Luís (MA), em 10 de setembro de 1930, com o nome de José Ribamar Ferreira.

O sobrenome materno adaptado ao português foi adotado somente pelo escritor aos 18 anos, quando começou a publicar poesias. Ativo, Gullar se afiliou ao Partido Comunista após a instauração da ditadura militar, em 1964. Neste período, se exilou em Buenos Aires, onde escreveu “Poema sujo”, uma das suas principais obras.

O escritor voltou ao Brasil somente em 1977 sendo preso e torturado pelo Departamento de Ordem Política e Social – DOPS. Gullar foi libertado dias depois, após forte pressão internacional.

Em 2002, foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. A indicação foi endossada por nove especialistas de três países: Brasil, Portugal e Estados Unidos.

Uma resposta para Morre Ferreira Gullar, aos 86 anos

  1. Manassés disse:

    O Açúcar.

    O branco açúcar que adoçará meu café
    nesta manhã de Ipanema
    não foi produzido por mim
    nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
    Vejo-o puro
    e afável ao paladar
    como beijo de moça, água
    na pele, flor
    que se dissolve na boca. Mas este açúcar
    não foi feito por mim.

    Este açúcar veio
    da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.
    Este açúcar veio
    de uma usina de açúcar em Pernambuco
    ou no Estado do Rio
    e tampouco o fez o dono da usina.

    Este açúcar era cana
    e veio dos canaviais extensos
    que não nascem por acaso
    no regaço do vale.

    Em lugares distantes, onde não há hospital
    nem escola,
    homens que não sabem ler e morrem de fome
    aos 27 anos
    plantaram e colheram a cana
    que viraria açúcar.

    Em usinas escuras,
    homens de vida amarga
    e dura
    produziram este açúcar
    branco e puro
    com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

    F. Gullar.

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