Isto Posto… Alberto Dines: a última trincheira da resistência no jornalismo.
EDITORIAL – Hoje, nestas poucas linhas, venho com enorme pesar render minha homenagem, meu profundo respeito e eterna admiração pelo senhor Alberto Dines, o maior jornalista que esse país já teve.
Aos 86 anos, quisera o destino levá-lo. Ceifando o deleite dos que conviveram em sua companhia, e impondo a tristeza àqueles que como eu o tinha em grande consideração pelo profissionalismo, a lucidez e a incansável resistência na luta diária de situar o jornalismo como elemento primordial à construção da cidadania pela emancipação do sujeito humano.
O professor, escritor e jornalista Alberto Dines foi um combatente de suma importância para o Brasil dos tempos da ditadura militar e continuava sendo uma das poucas vozes a conclamar por uma imprensa realmente livre – por que não dizer libertária? – já que via no seu ofício um instrumento hábil a produzir transformações imprescindíveis à sociedade brasileira.
Já algum tempo conduzia um dos mais importantes programas que teve a televisão brasileira, o Observatório da Imprensa, onde esmiuçava as manchetes de jornais de grande circulação, sempre perscrutando as verdades que se ocultavam nas entrelinhas, a fim de pela análise lúcida do noticiário questionar qual o papel dos meios de comunicação, do ofício do jornalista e sua contribuição para o fortalecimento de uma nação em que democracia fosse um privilégio de todos e não propriedade apenas dos intocáveis senhores donos da República.
Alberto Dines fazia jornalismo como quem duela com o perigo, como o jogador que aposta tudo no único bem que vale a pena, pois somente a liberdade de pensar e ser são o destino e glória que engrandecem a pessoa humana.
Nem a truculência dos generais o fizera temer, pois quando da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), sob a forte e violenta ameaça que pairava sobre as redações, utilizando-se de inteligentes metáforas sobre a previsão do tempo, narrou o momento político e a censura, nestes termos:
“Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos…”.
Por fim, após ser preso em virtude da defesa da liberdade de imprensa e da democracia, arrematou:
“Eu sabia que haveria consequências, mas não imaginava que fosse ser preso. Temos que arriscar. São desafios que a vida profissional oferece e temos que saber aceitá-los, porque senão ficamos à margem da vida.”
Para terminar deixo aqui o abraço de quem, embora de fato não tenha grandeza igual a tua, sente-se como irmão teu nas afeiçoes e dores humanas e na incansável resistência da luta pelo por vir.
Então como dissera o poeta que “a terra lhe seja leve!”.
Por: Adão Lima de Souza
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