Tag Archives: Uruguai
Morre Alcides Gigghia, o carrasco do Brasil na Copa de 1950
Morreu nesta quinta-feira o ex-atacante Alcides Gigghia. Foi dele o gol da vitória por 2 a 1 do Uruguai sobre o Brasil na Copa do Mundo de 1950, na partida que ficou conhecida como Maracanazo. Ele sofreu um ataque cardíaco e não resistiu. Tinha 88 anos, e era o último jogador vivo de uma das maiores partidas da história do futebol.
Coincidentemente, a morte de Gigghia ocorre exatamente no 65º aniversário daquele jogo, disputado também em um 16 de julho, no Maracanã lotado por 199.854 torcedores. O então jogador do Peñarol marcou o gol da virada celeste, aproveitando a famosa falha do goleiro Barbosa, que não defendeu seu chute no canto esquerdo.
Gigghia tinha saúde estável, mas que ficou debilitada depois de um acidente de carro, em 2012, que o deixou no hospital em estado grave. No entanto, ele sempre comparecia a eventos importantes em que era convidado, como o sorteio dos grupos da última Copa do Mundo, que aconteceu em 2013, na Costa do Sauípe, na Bahia.
Dono da medalha de Ordem de Mérito da Fifa, a lenda do Uruguai foi homenageada em 2009, colocando os pés na Calçada da Fama do Maracanã. Ele foi apenas o sexto jogador estrangeiro na história a ter essa honraria, após o chileno Elías Figueroa, o paraguio Romerito, o alemão Beckenbauer, o português Eusébio e o sérvio Petković.
Agradecido, emocionou-se e chorou.
“Nunca pensei que seria homenageado no Maracanã, estou muito emocionado. Meus sinceros agradecimentos ao público. Agradeço profundamente. Viva o Brasil!”.
Maconha é regulamentada no Uruguai para uso medicinal e em pesquisas científicas
A compra e venda de maconha para uso medicinal e pesquisa científica foi regulamentada no Uruguai, por meio de um documento publicado, nesta quarta-feira (4), pelo governo do país. Haverá ainda uma nova fase na implementação da lei, que irá regulamentar a venda da droga para uso recreativo em farmácias. “Encontra-se permitida a plantação, o cultivo, a colheita, o armazenamento e a comercialização de maconha psicoativa e não psicoativa para ser destinada, de forma exclusiva, à pesquisa científica, ou à elaboração de Especialidades Vegetais, ou Especialidades Farmacêuticas para uso medicinal”, informou o decreto.
Será permitido que pesquisadores comprem cannabis de produtores autorizados pelo Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (IRCCA), ou ainda peçam autorização ao órgão para produzir a droga, contanto que seja destinada “exclusivamente à atividade científica”.
No entanto, ainda não foram definidas quais empresas ficarão responsáveis pela produção. Por meio da prescrição de um médico, usuários maiores de 18 anos poderão comprar a droga, por 30 dias, com o intermédio de drogarias e farmácias.
Por conta de uma lei aprovada em dezembro de 2013 e regulamentada em maio de 2014, todos os usuários devem se inscrever em um cadastro e escolher como terá acesso à substância, com limites previamente estabelecidos.
‘Não há só uma esquerda na América Latina’, diz Mujica
No fim do seu mandado, o presidente uruguaio José Mujica diz ter uma visão flexível da nova geração da esquerda latino-americana. “A esquerda que está se formando tem suas peculiaridades. Não há uma só esquerda na América Latina, há muitas. Não se pode cair nessa redução”, disse, em entrevista exclusiva à BBC.
“Agora há uma moda. Quando a direita não gosta de alguma coisa, diz: ‘isso é tudo populismo’. E a esquerda diz: ‘isso é tudo neoliberalismo’. Não é assim. Há o capitalismo e há o liberalismo. E dentro da esquerda nem tudo é populismo. A coisa é mais complexa. Não gosto dessa argumentação em branco e preto, porque é infantil.”
A chácara de Mujica é um museu desorganizado, uma exposição das memórias do presidente uruguaio que, no final de seu mandato, afirma que, mais que uma vida, viveu uma peripécia.
Nas estantes da casa de campo de “Pepe”, nos arredores de Montevidéu, há um busto de Che Guevara e outro do papa Francisco; um retrato de Fidel Castro –que é uma “relíquia”, diz ele, “mas está bem da cabeça” –; dois iPads para ler os jornais; uma foto do dia de sua posse como presidente em março de 2010 e uma velha bicicleta de corridas que percorreu metade do país.
Do lado de fora dorme seu Fusca azul celeste, mundialmente reconhecido desde que um xeque árabe lhe ofereceu US$ 1 dólares por ele em uma cúpula internacional na Bolívia.
“Essas pessoas resolvem comprar até um par de sapatos do seu avô… são excentricidades”, diz.
Após a vitória de seu partido nas eleições presidenciais uruguaias, em que o ex-presidente Tabaré Vázquez recebeu mais de 53% dos votos, Mujica respondeu às perguntas dos dois serviços latino-americanos da BBC: a BBC Brasil (em português) e a BBC Mundo (em espanhol).
Aos seus pés nos assistia Manuela, a cadela de três pernas que, aos 18 anos, já é quase tão famosa quanto seu dono. No quarto ao lado está sua esposa, a senadora do partido Frente Ampla Lucía Topolansky, que assiste à televisão.
Nos últimos anos, centenas de meios de comunicação estrangeiros desembarcaram no país sul-americano intrigados pela vida do homem batizado de “o presidente mais pobre do mundo” –um adjetivo de que ele não gosta muito.
“Isso me preocupa bastante, me preocupa como anda o mundo. O que é que chama a atenção do mundo? Que eu viva com pouca coisa em uma casa simples, que ande com um carrinho velho. Essas são as novidades?”, indaga.
“Este mundo está louco porque se surpreende com coisas que são normais. Eu vivo como vive a maioria do meu povo. O normal na política teria que ser a minha forma de vida.”
No entanto, José Mujica sabe que sua aparência e sua forma de entender a vida, tão comentadas dentro e fora do país, constituem também uma ferramenta política tão valiosa quanto as maiorias no Parlamento ou a capacidade de negociação.
“A imagem também não é gratuita, [a austeridade] é uma maneira de lutar pelo republicanismo na época em que vivemos”, diz.
“Isso não é casual, mas também não é uma pose. Eu não faço nada além de viver como vivia há 30 anos quando vim para cá.”
Até seus maiores críticos reconhecem que, em cinco anos, ele ajudou a colocar o Uruguai, um pequeno país de 3,5 milhões de habitantes encaixado entre a Argentina e o Brasil, no mapa.
Seu nome já apareceu na primeira página dos principais periódicos do mundo graças a seu estilo de vida austero, a um bom desempenho da economia e à aprovação de leis pioneiras na região em temas sociais, como as que regulamentam o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a maconha.
Agora que se aproxima o final de seu mandado, ele tem um apoio de 56%, o mais alto desde os primeiros meses de governo.
Quando Mujica voltar de sua última viagem pela América Latina como presidente, começará a se reunir com seu sucessor Tabaré Vazquez, um médico de 74 anos que foi presidente entre 2005 e 2010.
Eles têm posturas diferentes sobre assuntos nos quais o Uruguai ditou a agenda recentemente: Vázquez vetou uma lei de descriminalização do aborto em seu mandato anterior e se opõe à venda de maconha em farmácias.
“Cada indivíduo é como é, mas isso é muito circunstancial. O que importa é que pertencemos a uma definição programática do mesmo tom e temos certeza de que há políticas sociais que vão ser mantidas e multiplicadas.”
“Na realidade, o problema não é Tabaré. Com Tabaré teremos uma comunhão muito grande. O problema é a realidade, porque não fazemos o que queremos, fazemos o que podemos dentro da margem da realidade, e há alguns sinais de que a economia mundial está se complicando”, diz.
Mujica admite que não conseguiu, em seu mandato, atualizar a malha de estradas, portos e trens necessários ao desenvolvimento econômico do país.
No âmbito da educação, área que seus críticos definem como um dos fracassos de seu governo, o presidente reconhece que será necessário melhorar as bases do sistema de ensino.
“Em um país desenvolvido, para cada dez estudantes há quatro ou cinco que estudam tecnologia ou ciência. Aqui estamos a anos-luz disso.”
Aposentadoria?
Mujica reconhece que cinco anos de gestão lhe deixaram esgotado. “Sim, estou cansado, mas não paro até o dia em que me levem em um caixão ou que eu me torne um velho gagá”, diz.
“Vou continuar lutando. Acredito que a vida é uma luta pelo que a pessoa pensa e pelo que sente.”
Quando deixar o poder, o presidente planeja abrir uma escola agrícola em um galpão nos fundos de sua casa. “Vai começar em março, para aproveitar a terra que temos, os meios que temos, e com isso já posso me divertir com as crianças do bairro.”
Ele afirma, no entanto, que não pensa em se afastar da política.
“Não serei um velho aposentado que fica em um canto escrevendo minhas memórias. Eu não vou escrever nada, não tenho tempo, tenho coisas para fazer.”
Fonte: notícias UOL.