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Reino Unido: decidiu pela saída da União Europeia
Os britânicos tomaram nesta quinta (23) a decisão histórica de se separarem da União Europeia, o bloco político e econômico que hoje congrega 28 países e ao qual aderiram em 1973. O processo ainda precisa passar pelo Parlamento, mas um veto pelos legisladores é considerado suicídio político.
A negociação da ruptura -o Brexit, fusão das palavras “saída” e “britânica” em inglês- deve levar dois anos.
Com votos de 377 dos 382 distritos do Reino Unido apurados, a opção por deixar a União Europeia prevalecia por 51,8% a 48,2%, abalando mercados financeiros e provocando uma onda de choque e incredulidade global. As principais redes de TV britânicas -BBC, Sky News e ITV- projetaram a vitória da saída logo após as 4h30 de Londres (0h30 do Brasil).
No início da madrugada, manhã na Ásia, a libra chegava ao menor valor em relação ao dólar em 31 anos. A cotação estava em US$ 1,32, queda de 11% em relação ao fechamento de quinta (23). Na Ásia, as bolsas despencavam em Tóquio (–7,22%), Hong Kong (-4,67%) e Seul (-4,09%).
As consequências econômicas de uma saída devem se estender para o comércio —com prejuízo maior para Londres do que para Bruxelas, já que os britânicos dirigem metade de suas exportações à UE.
O resultado oficial seria formalmente anunciado por volta das 7h de Londres (3h em Brasília). A consulta popular registrou índice histórico de comparecimento —71% do eleitorado— e recorde de 46,5 milhões de eleitores registrados.
Até 2h15 (hora de Brasília). o premiê conservador, David Cameron, principal fiador do voto pró-UE, não havia se manifestado. Em caso de vitória da saída, sua liderança no Partido Conservador e o cargo de premiê poderão ser contestados.
Seu maior rival na disputa, Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e líder da campanha pró-saída, tampouco havia falado. Já o líder do partido ultranacionalista Ukip, Nigel Farage, que defende a saída, ensaiava celebrar no final da noite.
“Agora ouso sonhar que o amanhecer de um Reino Unido independente está chegando”, tuitou duas horas após dizer que “a permanência ficaria na frente”.
EFEITO DOMINÓ
A campanha do plebiscito foi influenciada nos últimos dias pelo assassinato da deputada trabalhista Jo Cox, pró-Europa, por um ultranacionalista, dia 16. Até então, a saída levava ligeira vantagem na margem de erro.
Pesquisa do instituto YouGov divulgada logo após o fim da votação apontava 52% para a permanência e 48% para a saída da UE —sinal de quão acirrada foi a disputa. Esta não seria, porém, a primeira vez que os institutos britânicos errariam resultados. O mesmo ocorreu nas eleições gerais de 2015.
Foram 15 horas de votação sob chuva, com alagamentos e interrupções no transporte.
O placar expõe um país dividido e, segundo analistas, despertará um sentimento anti-UE continente afora.
Há risco de efeito dominó em outros países do bloco, que podem imitar a consulta popular para obter vantagem em negociações, e de impulso a movimentos separatistas como o escocês e o catalão.
O professor de política Tim Bale, da Universidade Queen Mary, de Londres, pondera que o “efeito dominó” tem mais força se o Reino Unido deixar efetivamente o bloco.
Ainda que não signifique o início de um potencial desmonte, há muitos europeus interessados em, ao menos, debater benefícios e potenciais problemas caso seus países decidam deixar a UE.
Pesquisa feita pelo instituto Ipsos Mori com 6.000 pessoas em nove países europeus em março e abril deste ano indicou que 45% dos entrevistados apoiam a ideia de se fazer uma consulta popular em seu próprio país, e um terço disse que votaria para sair do bloco.
A maioria dos franceses e italianos ouvidos concorda com um plebiscito. O instituto ouviu ainda cidadãos de Suécia, Espanha, Bélgica, Hungria, Polônia, Alemanha e do próprio Reino Unido.
Além do ceticismo quanto ao bloco, o plebiscito no Reino Unido despertou outro sentimento entre os europeus: o de não ser bem-vindo entre parte dos britânicos.
Cerca de 3 milhões de cidadãos de países-membros do bloco vivem no Reino Unido, e aproximadamente 2 milhões de britânicos estão nos outros 27 países da UE.
O livre trânsito de cidadãos da UE, uma das prerrogativas do bloco, transformou-se em um dos pontos de maior apelo durante a campanha do plebiscito. Favoráveis ao Brexit defendem que os imigrantes sobrecarregam o sistema de saúde, baixam os salários e “roubam” empregos.
Por isso, analistas avaliam que haverá muitas feridas a curar no Reino Unido após a votação. A disputa rachou o Partido Conservador e expôs fragilidades do Trabalhista. O cisma persistirá.