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Isto Posto… Rio de Janeiro: o que explica o estado de calamidade pública?

cicloviaSegundo o decreto do governador em exercício, a “grave crise financeira”, ameaça causar um “total colapso na segurança pública, na saúde e na educação”, justificando a autorização para que as autoridades competentes possam adotar medidas excepcionais necessárias à racionalização de todos os serviços públicos essenciais, e, principalmente, aqueles com vistas à realização dos Jogos.

Diante de tamanha estupefação pela medida tomada, resta ao povo fluminense tentar entender como o Estado chegou a tal ponto de bancarrota quase que total. Ainda mais quando recordamos que num passado bastante próximo se festejava com tanta euforia a grande descoberta do Pré-Sal que tornaria rico o nosso país, ao inseri-lo dentre os maiores produtores de petróleo do mundo.

Uma década depois, o veio senão a falência em lugar do tão sonhado petrodólar que abarrotaria os cofres públicos alavancando a saúde e a educação, além de impulsionar fortemente os serviços públicos essenciais. O faremos agora que o preço do barril de petróleo só declina, seguindo a má fase das commodities, enquanto a Operação Lava Jato revela que as obras contratadas pela Petrobras serviam apenas de pretexto para a grande roubalheira.

E a medida desesperada do governo do Rio de Janeiro, até que ponto será a medida de outros governos igualmente falidos em consequência dos desmandos que permeiam toda administração pública no Brasil, de pequenas prefeituras a estados industrializados como São Paulo e o próprio Rio de Janeiro da cidade maravilhosa cheia de balas perdidas e bairros sitiados e população oprimida pelas milícias e palas autoridades.

Isto posto, caro cidadão, não nos assusta o estrado de calamidade decretado agora porque isto é apenas um  reconhecimento de que vivemos em qualquer cidade brasileira o ano todo, ora em estado de emergência, ora em estado de calamidade pública, seja por contas de fenômenos climáticos, seja por contas das sucessivas gestões temerárias que tomam de assaltos a administração pública.

Por: Adão Lima de Souza.

Nova delegada do Rio garante: está provado o estupro coletivo da jovem de 16 anos

Cristiana Bento, nova responsável pelas investigações, diz que o vídeo e o depoimento da jovem já são suficientes para confirmar o crime.

Delegado do RioRIO DE JANEIRO – A delegada Cristiana Bento, que acaba de assumir as investigações sobre a garota de 16 anos que foi estuprada na zona oeste do Rio de Janeiro na semana passada, afirmou que o crime está provado e que foi um estupro coletivo. “Quero provar agora a extensão desse estupro, quantos participaram”, disse em entrevista coletiva nesta segunda-feira. “Mas que houve [estupro], houve”, garantiu ela, que entrou neste domingo no lugar do delegado Alessandro Thiers para conduzir o caso.

Até o momento, foram identificados seis responsáveis pelo crime, entre eles, Raí de Souza, 18, que se entregou na tarde desta segunda para a polícia e seria o dono do celular no qual foi feita a gravação da vítima nua e desacordada, e Lucas Perdomo, 20, apontado como o namorado da vítima. De acordo com o site UOL, Perdomo foi preso em flagrante na tarde desta segunda em um restaurante no Rio de Janeiro. Ambos haviam prestado depoimento na última sexta-feira e liberados em seguida. As investigações agora seguem em segredo de Justiça.

Ainda não se sabe quantos efetivamente praticaram o crime. Os 33 apontados pela menor ainda não foram identificados pela polícia pois o vídeo e as imagens disponíveis até o momento só mostraram alguns dos estupradores. Mas a polícia admite que pode vir a provar que foram 33 pois um dos que exibiu o vídeo nas redes sociais narra que “mais de 30” passaram por ali, apontando para as genitálias da adolescente desacordada. “Houve estupro coletivo”, disse Cristiana Bento. “Mas não sei [praticado por] quantas pessoas”.

A delegada explicou que o vídeo da jovem nua, que foi divulgado nas redes sociais por alguns de seus algozes, juntamente com o depoimento da vítima, são as principais provas que confirmam o crime. O chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, que participou da entrevista nesta segunda, também colocou as imagens como principal prova do crime. “No vídeo há mais de uma voz no fundo, um cara toca e manipula a jovem desacordada. Isso é estupro”, disse. “Não há dúvida nenhuma”.

O exame de corpo de delito realizado na vítima não tinha como apontar quantas pessoas a violentaram, e também não registrou vestígios de abuso e violência física. Isso porque a jovem demorou cinco dias para ir à delegacia prestar queixa. Cristiana Bento explicou que de fato ela não iria prestar queixa caso o vídeo não tivesse vazado nas redes sociais. Isso porque ela temia morrer, como acontece com todas as mulheres vítima de estupro de traficantes. Após o crime ser noticiado pela imprensa, diversas teorias foram publicadas pelas redes sociais. Uma delas é que o chefe do tráfico de uma comunidade não permitiria que uma brutalidade como essas ocorra. Segundo Bento, essa teoria é infundada. Para ela, as garotas são, na verdade, vítimas do tráfico. “Os traficantes pegam as meninas e estupram. Eles não admitem é que outro o faça, mas ele faz”, disse. E não denunciam por medo de serem assassinadas.

Segundo Adriane Rego, do Instituto Médico Legal do Rio, a demora entre o estupro e a realização do exame dificultou encontrar provas. Mas isso não significa que o crime não ocorreu. “Não encontrar vestígios não significa que ela não foi abusada”, disse.

Bento também afirmou que o exame de corpo de delito não é determinante. Segundo ela, “produzir e distribuir cena com menor” já constitui o crime de estupro. E “se uma pessoa abusa, e a outra olha, ela é partícipe e vai responder pelo mesmo crime”, afirmou.

A delegada, que recebeu o comando do caso no domingo, disse que se debruçou sobre as investigações iniciadas pelo seu colega Alessandro Thiers na tarde de domingo até a madrugada desta segunda. A partir da leitura das provas coletadas até o momento foi deflagrada uma operação de busca e apreensão de seis suspeitos de participarem do crime.

Além de Raí de Souza e Lucas Perdomo, já detidos, outras quatro pessoas apontadas como participantes do crime seguem foragidos: Sérgio Luís da Silva Junior, conhecido como Da Rússia, conhecido como chefe do tráfico do Morro do Barão, onde ocorreu o crime, Raphael Assis Duarte Belo, Marcelo Miranda da Cruz e Michel Brasil da Silva. Os dois últimos publicaram o vídeo da garota desacordada e nua.

Polícia despreparada

As investigações correm sob segredo de Justiça desde esta segunda-feira. Mas antes disso, a condução do caso foi alvo de acusações de machismo e exposição à vítima, que agora, está sob proteção do Estado. Em entrevista ao Fantástico neste domingo, a jovem reclamou da maneira como foi tratada na delegacia ao prestar depoimento. “O próprio delegado me culpou. Quando eu fui na delegacia, eu não me senti à vontade em nenhum momento. E eu acho que é por isso que muitas mulheres não fazem denúncia”, afirmou. “Tentaram me incriminar, como se eu tivesse culpa por ser estuprada (…) Ele [o delegado que estava na condução do caso, Alessandro Thiers] botou na mesa as fotos e o vídeo e me falou ‘me conta aí ”, disse. “Ele perguntou se eu tinha o costume de fazer isso, se eu gostava disso. Aí eu falei que não ia mais responder”.

A postura do delegado fez com que a então advogada da vítima, Eloisa Samy, pedisse seu afastamento do caso, o que ocorreu no domingo. A Polícia Civil solicitou que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio acompanhasse as investigações. A instituição elegeu Breno Melaragno, presidente da Comissão de Segurança, para o trabalho de acompanhamento. A pedido da família, Samy também deixou o caso.

Nesta segunda-feira, o jornal Extra publicou supostas conversas via WhatsApp feitas por Alessandro Thiers em que ele desqualifica a vítima, afirmando que não houve estupro, e que o vídeo divulgado é antigo. Perguntado sobre as supostas mensagens, o chefe da Polícia Civil Fernando Veloso disse apenas: “quero crer que ele não fez isso”.

Antes da coletiva, Veloso havia afirmado ao Fantástico neste domingo que o resultado da perícia do vídeo trouxe repostas que podem “contrariar o senso comum” formado pela opinião pública em relação ao caso. A frase chegou a gerar dúvidas se a polícia teria outros detalhes que viessem a incriminar a jovem. Mas, a operação de busca e apreensão deflagrada na manhã desta segunda na casa dos suspeitos mostrou que as investigações ainda estavam em andamento.

Manifestações

A jovem de 16 anos afirmou ao Fantástico que está sofrendo ameaças e julgamentos, inclusive de mulheres. “Muitas mulheres disseram que eu procurei [os suspeitos de estupro]”, disse. “Ninguém pensa ‘poderia ser comigo”.

Por outro lado, diversas manifestações contra o crime estão ocorrendo. No domingo, houve marchas ao menos em Brasília, Porto Alegre, Boa Vista contra a cultura do estupro. Em São Paulo, uma manifestação está marcada para acontecer nesta quarta-feira na avenida Paulista. Ainda no domingo, a ministra e vice-presidenta do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, escreveu uma carta onde classifica o caso como “inadmissível”, “insuportável” e “inaceitável”. Diversas ativistas se manifestaram publicamente nas redes sociais.

RIO DE JANEIRO: crise, para quem?

SaúdeEmbora tenha o governador do Rio de Janeiro alardeado ao país a grave crise do sistema de saúde do Estado, tomado dinheiro emprestado a prefeitura da capital, e entregue ao comando desta dois grandes hospitais, parece que mesmo diante do momento delicado a gastança não tem um basta, vejam:

1 – Lembra-se daquelas terríveis cenas de pessoas barradas na porta de hospitais fluminenses por falta de vagas? Da moça que deu à luz na rua, porque nem no corredor do hospital quiseram aceitá-la? Das declarações do governador Pezão, de que o dinheiro tinha acabado, que os cofres estavam raspados, que não sobrava nem para a Saúde?

Pois a situação deve ter melhorado muito: no dia 31, o Governo do Rio determinou gastos de R$ 120 milhões com propaganda oficial em 2016 (a quantia pode chegar a R$ 150 milhões).

É o mesmo que foi gasto no ano passado, sem um tostão sequer de economia. Pensando bem, é até pouco: para botar na cabeça da população que o Governo é bom, que é que vão fazer?

2 – A Câmara dos Deputados gastou, em 2015, R$ 14 milhões com combustíveis e lubrificantes (o levantamento é da Operação Política Supervisionada, de Lúcio Batista). São cerca de 4 milhões de litros de gasolina que o caro leitor teve a honra de pagar para Suas Excelências, que o representam em Brasília.

3 – Lembre-se: há alguns anos, falou-se muito em trem-bala, e a presidente Dilma Rousseff criou uma estatal, a Empresa de Planejamento e Logística, exclusivamente para tomar conta do projeto. O trem-bala não saiu, não se fala mais no assunto, mas a EPL vai bem, obrigado. Tem 185 funcionários. E gastou R$ 46 milhões em 2015.

É a prova de que o trem-bala é um meio de transporte ultrarrápido: já passou, ninguém viu, e a gente continua a pagar por ele.

Cadê o Amarildo? – A ‘tropa de elite’ é suspeita de participar do assassinato de Amarildo

Tropa de EliteQuase dois anos após Amarildo de Souza Lima ter sido torturado e morto por policiais da Unidade Policial Pacificadora (UPP) na Rocinha, no Rio de Janeiro, em 14 de julho de 2012, surgem novos indícios que podem implicar a tropa de elite da Policia Militar no caso. De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público estadual, imagens de uma câmera de segurança na comunidade mostram um volume compatível com um corpo na caçamba de uma das viaturas do Bope que esteve no local pouco após Amarildo ter desaparecido.

O corpo do pedreiro de 43 anos e pai de seis filhos nunca foi localizado, e em fevereiro de 2014 a Justiça declarou sua morte presumida, o que na prática foi um reconhecimento de que o pedreiro morreu sob a custódia do Estado. À época, o coordenador das UPPs, coronel Frederico Caldas, se desculpou com a família em nome da PM.

De acordo com o Gaeco, cinco horas depois que Amarildo foi levado para a sede da UPP no topo do morro, onde foi morto, quatro camionetes do Bope foram ao local. Ao deixar a base, uma delas trazia na caçamba quatro policiais sobre o que parece ser um volume preto. A cena levantou suspeitas entre os promotores porque, de acordo com as investigações, os PMs da Rocinha teriam colocado o corpo do pedreiro dentro de uma capa de moto preta – o que se assemelha ao objeto visto no veículo. A suspeita de que Amarildo tenha sido levado para fora da comunidade é reforçada pelo fato de que o GPS da camionete em questão ficou desligado por quase uma hora à partir do momento em que a viatura chega à sede da UPP.

No total, 25 policiais são réus no caso, inclusive o major Edson Santos, comandante do batalhão, e 16 também são acusados de ocultação de cadáver. A presença do Bope na Rocinha naquela noite não é uma novidade: Santos, que já fez parte da unidade, alegou que pediu reforços por acreditar que haveria uma invasão de traficantes na data. Em entrevista ao Jornal Nacional, a promotora Carmen Eliza Bastos afirmou que não existem indícios de que essa alegação seja verdadeira, já que não havia “nas escutas” nada que indicasse um conflito eminente com bandidos na comunidade.

Em nota, a PM informou que o comandante-geral da instituição, coronel Alberto Pinheiro Neto, determinou a abertura de inquérito para apurar os fatos referentes às novas imagens divulgadas.

A Rocinha conta com uma UPP desde setembro de 2012, e atualmente a comunidade vive uma guerra de baixa intensidade entre grupos rivais pelo controle do tráfico de drogas na região. O sumiço de Amarildo provocou protestos no Estado, e durante as manifestações de junho de 2013 era possível ver cartazes com os dizeres “Cadê o Amarildo?” em varias cidades do país.

Fonte: EL País

Rio de Janeiro: 16 vítimas de balas perdidas em apenas dez dias

RIO

Viver na região metropolitana do Rio de Janeiro, que os turistas nunca visitam, pode ser um esporte de alto risco. Sandra Costa dos Santos, de 58 anos, acordou na madrugada desta terça-feira em sua casa em Bangu (zona oeste da cidade), por volta das 3h, sentindo muita dor. Pediu ajuda à filha, que acabou descobrindo o que parecia ser um projétil em sua cabeça. Sandra foi levada com urgência ao hospital, em Realengo, onde seu prognóstico é estável. Na mesma hora, na favela da Rocinha, a jovem de 21 anos Adriene Solan do Nascimento morria vítima de outra bala perdida durante um enfrentamento entre policiais militares e bandidos (supostamente traficantes) que os surpreenderam durante uma patrulha noturna e depois fugiram. Um pouco antes, a menina Lilian Leal de Moraes, 12 anos, recebeu um tiro na perna em Costa Barros, na zona norte; ela está fora de perigo, recuperando-se de uma cirurgia no hospital Albert Schweitzer.

Lilian, Sandra e Adriene são respectivamente as vítimas número 11, 12 e 13 de balas perdidas na Grande Rio de Janeiro nos últimos dez dias. Ao todo, ao menos 16 pessoas foram vítimas de balas perdidas neste período, sendo que quatro morreram (duas delas crianças). Onze casos aconteceram na capital, um em Niterói e outro em São Gonçalo. Alguns aconteceram em restaurantes, outros na rua. Asafe Willian Costa, de 9 anos, foi atingido na cabeça por uma bala perdida na tarde do domingo, num clube de Honório Gurgel, região onde ocorrem muitos tiroteios entre traficantes e policiais, quando saía da piscina para beber água. Não pôde se recuperar da morte cerebral. No dia 17 de janeiro, Larissa de Carvalho, de apenas 4 anos, teve morte imediata ao ser atingida por um tiro quando saía de um restaurante em Bangu com sua mãe e seu padrasto.

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse nesta terça-feira que os casos estão sendo investigados e afirmou ter informações sobre a existência de uma guerra entre facções do tráfico em algumas áreas de conflito não ocupadas pela polícia. “Vamos entrar nessas áreas, mas quando houver condições de manter a ocupação.” Nas últimas 10 semanas, foram apreendidas 1.236 armas em operações policiais.

Beltrame ressaltou que “a maior parte dos casos de balas perdidas não se deu em enfrentamentos com a polícia”, instituição que é fortemente criticada por sua violência (o Rio de Janeiro é o Estado com o maior número de mortes cometidas pelas mãos de policiais no Brasil, o país com mais homicídios do mundo); pelos casos recentes de corrupção e pela sensação geral de ineficácia diante do crime organizado, apesar da aposta firme feita seis anos atrás na chamada “política de pacificação”.

A ONG Rio de Paz organizou no último domingo um ato público na praia de Copacabana para conscientizar a população sobre a morte de crianças por balas perdidas na “cidade maravilhosa”. Com cartazes destacando a frase “a violência está matando nossas crianças”, pais e familiares de menores mortos pediram justiça, ao lado de uma cruz de três metros cravada na areia.

Fonte: EL País.

A escalada da Violência na Cidade Maravilhosa

Rio

RIO DE JANEIRO – Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), os homicídios dolosos aumentaram 22%, passando de 1.197 entre janeiro e março de 2013 a 1.459 no mesmo período deste ano. A polícia também matou mais. Os denominados autos de resistência (quando os agentes matam em defesa própria) dispararam em 59%, pulando de 96 mortes em 2013 para 153 em 2014. Os roubos a pedestres também aumentaram em 45% no primeiro trimestre (13.822 em 2013 e 20.152 em 2014).

Diante da publicação dessas alarmantes estatísticas sobre o crime, a quase 40 dias do início do Mundial, Governo do Rio, em uma decisão que se contradiz com o mantra pronunciado até agora de que os esforços para garantir a segurança representam um patrimônio duradouro para a cidade, e não apenas mais uma medida ocasional para controlar a violência durante o mês da Copa, determinou o envio às ruas de toda a sua equipe policial a partir desta segunda-feira.

Um contingente adicional de dois mil policiais já estava previsto para o início do evento, mas o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, decidiu adiantar a medida com o propósito de mandar uma mensagem de confiança ao mundo todo.

Durante as últimas semanas, várias favelas foram palco do conflito armado entre policiais militares e traficantes que, em alguns casos, culminaram com vítimas fatais.

Os vizinhos destas periferias, fartos de serem tratados como cidadãos de segunda classe e descrentes do denominado processo pacificador, parecem ter herdado o espírito contestador das mobilizações do ano passado e hoje protagonizam os principais protestos registrados na cidade, manifestando-se contra a violência policial que costuma cobrar vidas de forma injustificada.

Os agentes não terão dias de folga e receberão horas extras para evitar o descontentamento da tropa ou a possibilidade de que surjam movimentos grevistas durante os próximos dois meses.

Por: Adão Lima de Souza
Fonte: El País.

Crônica de uma morte no cotidiano da pacificação genocida

DG

RIO DE JANEIRO – A sequência começa em um dia qualquer na praia de Copacabana. O bailarino Douglas Rafael da Silva Pereira, 26 anos, conhecido como DG, joga futebol tranquilamente com um grupo de amigos. Quando acaba a partida, começa o caminho a favela de Pavão-Pavãozinho, encravada em uma colina do bairro mais turístico do Rio de Janeiro.

O jovem, mulato e forte, caminha pelos becos íngremes do subúrbio cumprimentando os vizinhos. Nota-se sua popularidade na comunidade. Recebe fruta de um vendedor ambulante e ajuda uma senhora a carregar suas sacolas de compra. Um pastor evangélico lhe dá sua benção sob um sol atroz.

E lá vai Douglas, bamboleando feliz pelas ruas, brincando e batendo nas mãos de conhecidos quando, de repente, escutam-se os tiros e em um beco deserto aparecem três policiais militares fora de si. O acurralam, o socam e chutam. Douglas, com voz entrecortada e olhos de pânico, pede misericórdia e tenta esclarecer sem êxito que é “um trabalhador”.

Então é quando o agarram pelos cabelos e, sem lhe dar a mínima oportunidade de se defender, lhe descarregam um tiro na cabeça. Pelas costas. Douglas estira-se agora no solo, sem vida, enquanto os agentes entram em estado de histeria frente a evidência de que este “auto de resistência” (licença da polícia para matar em defesa própria” será muito difícil de justificar.

Isto tudo poderia não passar de um roteiro de cinema, como o curta-metragem que DG protagonizou um ano antes de morrer na mesma favela. Porém, tirando alguns detalhes, como o lugar exato da execução, o número de policiais ou a velocidade do ocorrido, o restante mostra as agruras de um povo pobre e indefeso sendo exterminado pela truculência do Estado.

Uma violência policial fora do controle, batizada de Política de Pacificação de Favelas, que o mundo resiste em admitir que se trate, de fato, de uma faxina étnica, de genocídio orquestrado pelo Estado, cujo propósito é varrer a “imundície vergonhosa” antes que os estrangeiros cheguem para a grande esbórnia que será a Copa.

Por: Adão Lima de Souza