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Outros seis presos na nova fase da operação Lava Jato.
O ex-deputado federal baiano Luiz Argôlo (ex-PP e hoje Solidariedade-BA) é uma das sete pessoas que foram presas pela Polícia Federal manhã desta sexta-feira (10), na 11ª fase da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras.
A fase tem como foco crimes relacionados a três grupos de ex-agentes políticos após o envio de inquéritos que estavam no STF (Supremo Tribunal Federal). Além de Argôlo, foram presos o ex-deputado André Vargas (DF) e seu irmão, Leoon, Pedro Correia, que já cumpre prisão pelo mensalão do PT, Ivan Mernon da Silva Torres, Élia Santos da Hora, secretária de Argôlo, e Ricardo Hoffmann, que é diretor de uma agência de publicidade.
Todos os presos serão levados para a superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Intitulada “A origem”, a nova etapa da Lava Jato tem ações em andamento nos Estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará e no Distrito Federal.
A violência mais perigosa
Já não é segredo para ninguém que o Brasil é hoje um dos países mais violentos do mundo. Os meios de comunicação se encarregam de dar os números que crescem a cada dia. Os assassinatos já superam os 53.000 anuais, a maioria de jovens negros ou mulatos e pouco escolarizados. Por isso chamam menos a atenção?
Há, no entanto, uma violência ainda pior: que nos acostumemos a conviver com ela como se fosse uma fatalidade.
Os cidadãos percebem a violência na pele, em seu cotidiano. No Rio, em oito dias, as balas perdidas causaram sete mortes, principalmente de crianças. Na mítica praia de Copacabana, as autoridades tiveram de levantar torres de observação para vigiar a formação de arrastões, bandos de jovens que chegam para assaltar os banhistas.
Nos ônibus que levam as pessoas dos subúrbios às praias nobres do Rio, a polícia está agindo de surpresa para deter suspeitos que poderiam ir até elas para assaltar os turistas. Os mais vigiados continuam sendo os mais pobres, identificados como violentos potenciais.
As pessoas de bem da nobre zona sul das praias cariocas chegaram a pensar em isolar essas praias, obrigando a pagar para poder desfrutar delas, em uma tentativa de afastar as classes mais baixas.
E não só no Rio. Hoje, mesmo em balneários até ontem tranquilos no nordeste do país, em praias paradisíacas e isoladas, a violência está chegando. Como em Búzios, meca do turismo internacional, onde aumentam os assaltos a pessoas e residências e onde a polícia agora vigia praias nas quais até agora parecia impossível pensar em ser assaltado.
A violência é contagiosa e qualquer um pode receber dois tiros mortais de um policial como resultado de uma simples discussão na rua.
Se a violência física (sobretudo nas grandes metrópoles) continua crescendo, existe no entanto uma violência mais perigosa, que é a de considerá-la parte da vida dos cidadãos, quase sem assombro, até com resignação. “Só espero que não chegue até mim”, dizia uma senhora bem de vida de São Paulo. É como uma loteria ao contrário. Jogamos todo dia para que não nos alcance.
Nenhum presente melhor para os que governam o país do que essa espécie de vacina contra a indignação diante de tanta violência gratuita.
Conversava sobre o assunto com um flanelinha da pequena localidade praiana de Saquarema, na região dos Lagos (Rio de Janeiro) e ele me dizia: “É que a gente é assim. Para esquecer não só da violência, mas também de tanta corrupção política, a gente se esconde em nossas cervejas e churrascos”. O rapaz sabia, no entanto, que em outros países, como a Argentina, as pessoas sabem protestar mais. “Aqui não estamos acostumados”, destacou.
E é esse acostumar-se com a violência cotidiana, que começa a não ser quase notícia nem nos meios de comunicação, o mais grave do fenômeno. É isso o que no fim leva os responsáveis pela defesa da vida dos cidadãos a também ver a violência como algo normal ou difícil de solucionar. São eles, no entanto, os que deveriam estar na primeira fila, para garantir aos cidadãos o poder de levar uma vida normal sem ter de sair às ruas obcecados pelo que possa lhes acontecer.
O ser humano é um animal de hábitos. Adapta-se a tudo no esforço de sobreviver. E, no entanto há momentos na vida e na história de um país em que justamente o modo de sobreviver sem ser ameaçado pela espada de Dâmocles da violência, que se espalha como lepra, é se mexer, reagir para não se acostumar a ela.
Toda vez que os jornais diminuem o espaço dado à violência que inferniza os brasileiros, considerando-a como algo que já não é notícia, ela fica mais perto de nossa porta.
Os estudantes de jornalismo são ensinados que um cachorro morder um homem não é notícia. Notícia seria que uma pessoa mordesse um animal. Assim, pode chegar o dia em que nem a maior das violências seja considerada notícia. A notícia seria, ao contrário, quando se pudesse escrever: “Hoje ninguém foi assassinado, nem estuprado, nem assaltado, nem sequestrado, nem ferido no Brasil”.
Eu, que amo este país como o meu, gostaria, como jornalista, de poder dar essa notícia, ainda que fosse uma vez só.
Sei que é pedir o impossível. Sofremos 146 assassinatos diários. O que não deveria ser impossível é que todo esse dinheiro que deságua da corrupção política fosse usado para proteger quem não pode ir trabalhar com escolta ou em carros blindados. Onde, como acontece quando a vida transcorre sem privilégios, “se sai de casa sem saber se voltaremos vivos”, como dizia um líder comunitário de uma favela do Rio ainda não pacificada. Ninguém pode se acostumar a isso, sob pena de transformar a violência em um objeto a mais, quase indispensável, que devemos arrastar como uma triste fatalidade na já pesada bagagem de nosso dia a dia.
Por: JUAN ARIAS, colunista do EL País.
JUAN ARIAS: Para o Estado somos todos bandidos
Estou há muitos anos neste país que amo, sobretudo suas pessoas. Muitas coisas mudaram desde que aterrissei pela primeira vez no Rio, onde ainda se podia caminhar pela rua e viajar de ônibus sem ter que ficar alerta por medo de ser vítima da violência urbana. O mesmo ocorria em São Paulo.
O Brasil avançou na consciência dos cidadãos e até em riqueza econômica, apesar de uns poucos continuarem crescendo cada vez mais do que a maioria. Há algo, porém, que no Brasil não só não avançou, como também retrocedeu. Por exemplo, no que se refere ao respeito à vida das pessoas.
Eu me pergunto tantas vezes, com dor e até com raiva, por que a vida de uma pessoa vale tão pouco e é esmagada a cada dia como se esmaga uma barata. Esse pouco apreço por ela faz com que nossa polícia, eternamente mal paga e mal preparada, sempre com licença para matar, seja a cada dia mais truculenta e corrupta.
Eu voltei a me perguntar lendo a sangrenta reportagem de minha colega María Martín neste jornal sobre o tiro disparado por um policial na cabeça de um jovem vendedor ambulante, que acabou morto no asfalto de uma rua da rica São Paulo.
Esse policial que atirou sem compaixão no ambulante, como se atira em um coelho no campo, não pensou que aquele jovem vendia suas coisas na rua porque talvez não tenha tido a possibilidade de fazer algo melhor na vida? Que poderia ter sido seu filho ou irmão? Que ele também tinha sonhos e desejo de continuar aproveitando a vida?
Vendo aquelas imagens feitas no lugar do crime pela nossa repórter María meu estômago se revirou de desgosto e a mente, de indignação, enquanto pensava que esses policiais que em vez de nos dar um sentido de segurança e proteção nos incutem a cada dia mais medo.
Pensei também que a nossa classe média ajuda os guardiães da ordem a disparar o gatilho da pistola sem tantos remorsos. Fomos nós que cunhamos a terrível frase de que “bandido bom é bandido morto”. E o respeito à vida? “É que eles também não respeitam a nossa”, se contrapõe. Mas isso leva à concepção de que o Estado existe não para nos defender sem necessidade de matar, mas para “executar”, e se for com tortura, melhor. E que todos acabamos sendo vítimas potenciais dessa loucura.
Há países, como os Estados Unidos, onde se um policial poderia ter prendido um criminoso sem lhe tirar a vida e fica comprovado que não o fez porque era mais fácil matá-lo, acaba sendo duramente punido.
É um problema de escala de valores. Quando a vida de um ser humano, criminoso ou santo, deixa de ter valor supremo, todos logo acabamos nos tornando carne de canhão. Nossa vida entra em liquidação, perde seu valor e dignidade.
Tudo isso, no Brasil parece mais evidente pelo fato de que o Estado trata os cidadãos não como pessoas em princípio honradas, mas como potenciais “bandidos”. Em outros países, o Estado parte do pressuposto de que o cidadão é do bem, que não mente, que não engana, que não procura, a princípio, violar a lei.
E é o Estado, se for o caso, que tem de demonstrar que não é assim, que esse cidadão é um delinquente e fraudador, e só então terá de ser punido.
Viram como nós, cidadãos, somos tratados no Brasil quando precisamos comprar algo, quando entramos em um cartório? Todo o papel é pouco para demonstrar que não somos bandidos, sem-vergonha, mentirosos, vigaristas. Nos pedem certificados e mais certificados, assinaturas e mais assinaturas, reconhecimento de firma, e ainda mais, comprovação com presença física de que essa assinatura é autêntica.
Em uma ocasião, quando comprei um pequeno imóvel em Madri, tudo durou 20 minutos num cartório. Assinamos o contrato de compra e venda. O proprietário me entregou a escritura e as chaves e eu entreguei o cheque da compra. No Brasil nos teríamos perguntado, e se o imóvel foi vendido duas vezes? E se nós dois não estivéssemos nos enganando? E, e, e, e…..! Quantos “es” e quantos medos de que no fundo sejamos de verdade uns bandidos que só queremos enganar!
Essa possibilidade de que possamos estar enganando sempre se deve ao fato de que perante as autoridades, ante a polícia, ante o Estado, todos somos sempre vistos como bandidos em potencial. Como me disse um amigo meu, para meu espanto: “É que todos nós, brasileiros, somos todos um pouco bandidos. Se nós podemos enganar, fazemos isso”.
Não acredito. Sempre pensei que até nas sociedades mais violentas e atrasadas as pessoas de bem, honradas, que não desejam enganar são infinitamente mais numerosas do que os bandidos. Do contrário, o mundo inteiro seria há muito tempo um inferno.
É assim no Brasil? Enquanto se continuar pensando e agindo como se a vida humana tivesse menos valor do que um verme e ninguém se espantar quando é sacrificada com violência e sem remorsos, às vezes até por uma insignificância, talvez tenhamos que reconhecer que esse inferno existe também aqui.
Isso é o que recordam as mais de 50.000 vidas, todas elas de jovens negros ou mulatos, pobres quase em sua totalidade, que acabam assassinados a cada ano, mais que em todas as guerras em curso no Planeta. Cada vez que um policial acaba com a vida de uma pessoa na rua, às vezes por uma mesquinharia, continuará sendo alimentada, pela outra parte, a dos cidadãos e dos mesmos bandidos, uma cadeia infernal de desejo de vingança que continuará nos esmagando e humilhando.
Até quando? Irá despertar alguma vez este país de tantas maravilhas, de tantas pessoas fantásticas, com desejo de viver em paz, sem serem tratadas como se fossem todas bandidos, ou continuará deixando atrás de si a cada dia tristes trilhas de sangue e medo ante a impassividade e a impotência do Estado?
Juan Arias é colunista do EL País.
COPA DO MUNDO: Tropa de Choque ganha ‘Kit Robocop’ em São Paulo.
Chamados de kit Robocop, novos equipamentos serão utilizados pelos integrantes da cavalaria da Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo durante possíveis confrontos em manifestações ocorridas na Copa do Mundo. Os policiais utilizarão um exoesqueleto de polipropileno, material resistente a pancadas.
Duzentos kits foram comprados, ao custo de R$ 2,3 mil para cada conjunto. Os cavalos também estarão “equipados”: viseira de acrílico, botas antiderrapantes, protetor facial e cobertura de couro no peito. No caso dos animais, cada conjunto saiu por cerca de R$ 600.
A intervenção do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque) será o último recurso, de acordo com a cúpula da corporação. “Vamos entrar [nas manifestações] só se estiver à beira de uma guerra civil”, disse o tenente-coronel Carlos Celso Savioli, comandante do CP Choque.
A escalada da Violência na Cidade Maravilhosa
RIO DE JANEIRO – Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), os homicídios dolosos aumentaram 22%, passando de 1.197 entre janeiro e março de 2013 a 1.459 no mesmo período deste ano. A polícia também matou mais. Os denominados autos de resistência (quando os agentes matam em defesa própria) dispararam em 59%, pulando de 96 mortes em 2013 para 153 em 2014. Os roubos a pedestres também aumentaram em 45% no primeiro trimestre (13.822 em 2013 e 20.152 em 2014).
Diante da publicação dessas alarmantes estatísticas sobre o crime, a quase 40 dias do início do Mundial, Governo do Rio, em uma decisão que se contradiz com o mantra pronunciado até agora de que os esforços para garantir a segurança representam um patrimônio duradouro para a cidade, e não apenas mais uma medida ocasional para controlar a violência durante o mês da Copa, determinou o envio às ruas de toda a sua equipe policial a partir desta segunda-feira.
Um contingente adicional de dois mil policiais já estava previsto para o início do evento, mas o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, decidiu adiantar a medida com o propósito de mandar uma mensagem de confiança ao mundo todo.
Durante as últimas semanas, várias favelas foram palco do conflito armado entre policiais militares e traficantes que, em alguns casos, culminaram com vítimas fatais.
Os vizinhos destas periferias, fartos de serem tratados como cidadãos de segunda classe e descrentes do denominado processo pacificador, parecem ter herdado o espírito contestador das mobilizações do ano passado e hoje protagonizam os principais protestos registrados na cidade, manifestando-se contra a violência policial que costuma cobrar vidas de forma injustificada.
Os agentes não terão dias de folga e receberão horas extras para evitar o descontentamento da tropa ou a possibilidade de que surjam movimentos grevistas durante os próximos dois meses.
Por: Adão Lima de Souza Fonte: El País.Alunos da Facape protestam contra o aumento de mensalidade sob a vigilância da Guarda Municipal e da Polícia.
Ontem, quarta-feira, dia 30/04, para recepcionar os alunos que pretendiam protestar contra o novo reajuste abusivo de mensalidade, a direção da Facape convocou a polícia e a guarda municipal como se ali se tratasse de desordeiros, de bandidos de alta periculosidade e não de pacatos e respeitadores estudantes que trabalham duro para pagar os altos salários de até R$ 20 mil nesta faculdade.
Depois dizem é que os alunos são quem desrespeitam a faculdade ao se oporem ao aumento desnecessário, pois a Facape goza, segundo as palavras do presidente da autarquia, de boa saúde financeira devido à competência inigualável desses profissionais zelosos com as contas da instituição.
Quero acreditar, e nisso não estou sozinho, que ao chamar a polícia e a guarda municipal, a intenção da diretoria tenha sido a de garantir a segurança do estudante durante a manifestação, senão por que outra razão a polícia deveria está ali? Essa certeza, para nós estudantes, é uma demonstração digna de respeito, já que, por um instante, sentimo-nos reconfortados com a preocupação paternal daqueles que decidem o destino de nossa faculdade.
Quando em 2013 fechamos a entrada da Facape não ocorreu nem um incidente que ameaçasse a integridade física ou moral de quem quer que fosse, numa demonstração clara de respeito à instituição e as pessoas que dela fazem parte. De tal modo que mereceu do presidente da autarquia o reconhecimento justo de que foi uma mobilização “pacífica e ordeira”, segundo suas palavras.
Então, por que, agora, assim como no outro protesto, sem haver nenhum tipo de sinalização de que o movimento pudesse descambar para o desrespeito ás pessoas ou outro tipo qualquer de agressão contra o patrimônio de nossa faculdade, a direção resolveu convocar a polícia e a guarda municipal? Será que passou pela cabeça desses homens de bom senso que, de uma hora pra outra, jovens estudantes de boa família, pudessem se transformar em marginais perigosíssimos, colocando em risco a vida de pessoas e promovendo bandalheiras?
Como disse, reafirmo aqui a convicção pessoal de que a presença de policiais e guardas se deu pelo imperativo maior que era a garantia de nossa segurança. Caso contrário, ser-me-ia impensável outra razão para que a polícia estivesse na faculdade.
Por: Adão Lima de Souza