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Embaixadas aconselham como devem os estrangeiros se comportarem no Brasil
A nove dias do início da Copa do Mundo, os holofotes estão todos voltados para o Brasil, onde as embaixadas já se preparam para poder ajudar os turistas. A preocupação com a segurança dos estrangeiros fez com que muitas nações criassem uma cartilha para orientar os cerca de 300 mil turistas – de acordo com dados do Ministério do Turismo – durante sua estadia no país.
Há recomendações que são recorrentes nas cartilhas de diversos países, como os cuidados para prevenir assaltos e como reagir a este tipo de situação, além de orientação para ficar longe de manifestações contra a realização da Copa do Mundo.
Mas há também aquelas consideradas curiosas, como a do Canadá, que enviou um alerta para que seus cidadãos evitem contato com animais, incluindo cães, macacos, cobras, roedores e morcegos. A alegação é que “algumas infecções encontradas em áreas da América do Sul, como a raiva, podem ser compartilhadas entre seres humanos e bichos”, informou a embaixada.
Os americanos garantiram cerca de 187 mil entradas para os jogos, e para proteger seus conterrâneos, a embaixada lançou a sua cartilha de orientação. Entre os “conselhos” importantes estão evitar comer peixe, carne, ovos e vegetais que não estiverem completamente cozidos ou que não forem servidos quentes – prejuízo na certa para os donos de restaurantes japoneses e de saladas, já que esses fregueses devem passar longe desses locais.
O famoso “churrasquinho de gato” também não deve entrar no cardápio dos americanos, visto que a embaixada manda evitar alimentos de vendedores de rua.
Um ponto que levantou polêmica na cartilha americana foi o item “Reduza seu risco de doenças sexualmente transmitidas”, sobre o uso de preservativos. A orientação era para que americanos usassem apenas camisinhas que tivessem sido compradas em seu país natal. Após a péssima recepção do “conselho”, o Centro para Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos alterou o texto, e na nova versão, pede que eles carreguem preservativos que tenham comprado em uma “fonte confiável”.
No site do CPC também há orientação para que os americanos que viajam para países em desenvolvimento não comam carnes de “animais selvagens” como: macacos, morcegos, entre outras espécies consideradas “selvagens”.
O quesito segurança é uma das maiores preocupações da embaixada da Alemanha — mais de 56 mil ingressos foram garantidos pelos alemães. Segundo a embaixada do país, “é aconselhável sempre levar uma quantia de dinheiro para a rendição voluntária”, Ou seja: o guia criado para orientar seus cidadãos sugere que os turistas alemães mantenham dinheiro separado para entregar aos assaltantes.
Se beber não dirija – Terceiro país que mais vai trazer turistas estrangeiros para o Brasil, a Inglaterra alerta que o Brasil tem tolerância zero na combinação álcool mais direção. Enquanto que no país europeu é permitido até oito decigramas de álcool no sangue, no país latino-americano nenhum índice é tolerado.
De acordo com o site da Fifa, os japoneses garantiram pouco mais de 22 mil ingressos. Acostumados com índices baixos de violência, é comum ver turistas com suas câmeras penduradas no pescoço para registrar todos os momentos. Mas segundo o Ministério de Relações Exteriores do Japão, câmeras fotográficas e smartphones devem ser mantidos em locais discretos.
Além disso, há alerta também quanto a assaltos com armas de fogo, batedores de carteira e até “saidinhas de banco”.
Fonte: O Globo
Baixa adesão, altíssima voltagem
Governo e imprensa raramente convergem – o que é ótimo para a democracia –, porém nesta sexta-feira estavam afinadíssimos ao avaliar as manifestações do 15-M, o primeiro Dia Internacional de Lutas Contra a Copa: apoio reduzido e baixa adesão.
A utilização das jornadas de junho passado como base de comparação é um truque aritmético e retórico que não resiste a um exame mais atento dos fatos. A gigantesca participação em 2013 teve como alvo principal a inoperância do Congresso, corrupção, a precariedade dos serviços públicos, notadamente na esfera da saúde e transporte público.
A Mini-Copa (das Confederações) não foi o alvo preferencial, entrou na pauta das demandas por contingência cronológica, deveria realizar-se dentro de poucas semanas e os novos estádios estavam no meio do caminho.
O pífio apoio obtido pelo 15-M não deve ser visto sob a ótica exclusivamente estatística. Até hoje pouco sabemos sobre o número de manifestantes que em 1789 foram a Versailles e depois percorreram Paris para derrubar a monarquia francesa, mas não restam dúvidas sobre a intensidade e a efetividade do histórico protesto.
Junho de 2013 foi acontecendo, rolando, se espraiando, ajudado pela repressão policial e pela catatonia do aparelho do Estado, enquanto o atual movimento anti-Copa, ainda que em dimensões experimentais, é organizado, tem estratégia, cronograma, desdobramentos, conexões. E um contexto político frenético, tanto no âmbito nacional, continental como internacional.
O agito deste maio — enganosamente inexpressivo como o veem os otimistas — tem algo de 1968, no início limitado, depois expandido pelo mimetismo de uma sociedade ainda analógica, porém intensamente politizada. Hoje, as ideologias são virais, instantâneas, contagiosas, fulminantes. Os estados de espírito transferem-se em alta velocidade, Caracas pode ser aqui e agora.
No ano passado, o então imbatível premiê Recep Erdogan começava a ser confrontado nas ruas de Istambul por ambientalistas, neste momento é bode expiatório, culpado até por fatalidades. Uma Ucrânia na ressaca da revolução laranja (2004), de repente despertou como campo de provas para um novo tipo de conflito bélico internacional, acionado por agentes provocadores e travado nas ruas por milícias mascaradas.
O mito do futebol – idolatrado, inviolável, inatingível, inatacável – despencou do pedestal. Tal como a China confrontada nas ruas de Saigon pelos vietnamitas. O impensável tornou-se possível. Isso pega, hoje tudo pega, basta um espirro.
As apressadas avaliações sobre o que aconteceu na última quinta não levam em conta que foi a primeira: até 12 de junho (quando a brazuca começar a rolar no gramado do Itaquerão, em São Paulo), há ainda três outras quintas-feiras. Cada uma estimulada pelas malfeitorias disponíveis no mercado da incivilidade: depredações estimuladas, greves ilegais, infiltrações partidárias e o suporte do crime organizado.
Cada um destes motins aumentará a tremenda pressão emocional sobre os 25 rapazes convocados para defender sozinhos nossos brios, cores, nossa capacidade de improvisar e, principalmente, o Esporte-Rei sequestrado pela corrupta multinacional chamada FIFA.
Alberto Dines – Colunista do EL Páis.