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Julian Assange: dois anos de confinamento

Racker

A disputa política e diplomática encarnada pelo fundador do WikiLeaks, Julian Assange, permanece em aberto e completa dois anos desde que ele entrou na Embaixada do Equador em Londres, onde permanece refugiado sob o risco de ser preso se colocar os pés para fora do imóvel.

O governo do Equador insiste que o ex-hacker, a quem promotores suecos querem interrogar por possíveis crimes sexuais, “não é um fugitivo”, ao passo que as autoridades britânicas persistem empenhadas em detê-lo por ter violado os termos da liberdade condicional em 19 de junho de 2012.

Por isso, elas mantêm em torno da sede diplomática um cerco policial cuja fatura já beira os seis milhões de libras (cerca de 23 milhões de reais).

Em todas as entrevistas feitas com Assange nestes dois anos, uma pergunta é constante. Como é viver em uma embaixada? Suas respostas permitiram aferir que ele passa os dias confinado em um escritório de 20 metros quadrados, transformado em dormitório.

Nesse espaço trabalha (jornadas de 17 horas à frente do computador), se exercita (em uma esteira de corrida que ganhou de presente do cineasta Ken Loach) e recebe visitas, segundo relatos do jornal britânico The Daily Mail em 2012.Por declarações de um de seus advogados, Baltasar Garzón, sabe-se que seu mobiliário inclui uma cama, uma mesa e uma estante – e aí se acaba seu mundo.

Os termos que o atual embaixador expõe hoje continuam sendo os mesmos nos quais insiste o presidente do Equador, Rafael Correa, desde que concedeu asilo político por “razões humanitárias” ao pirata informático australiano: que a Justiça sueca o interrogue por videoconferência ou desloque a seus funcionários a Londres para esse fim.

A promotoria sueca considera que, em vista dos delitos, pelos quais foi ele denunciado pelas supostas vítimas, identificadas como Srta. A. e Srta. W, é necessário que Assange seja interrogado na Suécia.

O Governo equatoriano defende que ele seja interrogado em Londres porque “aceitou os argumentos de Assange” de que correria o risco de ser extraditado para os Estados Unidos se aceitasse viajar à Suécia a fim de responder às acusações de estupro e assédio sexual contra duas mulheres. Formalmente, ele não foi transformado em réu nesse processo no país escandinavo.

O hacker que há quatro anos difundiu pelo  Wikileaks milhares de telegramas confidenciais do Departamento de Estado dos EUA e sobre as operações militares no Iraque e Afeganistão é hoje um homem “que sofre”, nas palavras do embaixador Falconi, e que vive encerrado em um dos 12 cômodos da embaixada equatoriana, no bairro do Knightsbridge.

A última imagem divulgada ao mundo é uma fotografia espalhada pelas redes sociais às vésperas do início da Copa do Mundo, em que ele aparece com bom aspecto e trajando, claro, a camisa da seleção do Equador.

 Julian Assange

 “Passaram-se dois longos anos desde que entrei neste edifício (…) A situação é difícil para mim, pessoalmente e muito mais para meus filhos, mas tenho vantagens, graças ao apoio do Governo equatoriano e seu povo tenho conseguido trabalhar em circunstâncias difíceis. Sim, com uma ampla vigilância policial ao redor do edifício; sim, incluindo a espionagem da agência britânica de inteligência, mas trabalhar (…) Essa capacidade de trabalho me manteve em marcha (…) O jogo ainda não terminou, sabemos em relação a direito internacional que o Reino Unido, os Estados Unidos e a Suécia têm a obrigação de respeitar os direitos de asilo de todo o mundo”.

Acrescentou que formalmente não é acusado de crime algum e que mesmo assim está retido em Londres há quatro anos (dois anos na Embaixada do Equador).

Para terminar lembrou sua missão com o mundo. “Quando alguém tem um princípio, é necessário lutar por ele e simplesmente não ceder. E em relação às promessas que fiz ao mundo para mostrar a informação dos Estados Unidos e seus aliados, isso é algo que estou decidido a fazer e não falharei”.

 “No caso de Assange, não haverá garantias do devido processo”.

 Fonte: EL País.