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Quando acabarem as escolas, quero nascer outra vez

BRENOA universidade presta um grande desserviço, a saber: legitima a mediocridade. Para que a parvoíce ganhe respaldo, são necessários os muitos certificados e diplomas. Para tanto, é necessário honrar o silêncio, de modo a não deixar transparecer o real papel desta instituição, tal qual se nos apresenta. Todavia, nós, que nada temos com o ocultamento das verdades desmistificadoras, ousamos ratificar as palavras da escritora Adélia Prado: enquanto dura a trégua, vou guerrear. 

Certa ocasião, em conversa com um amigo, falávamos sobre as muitas pessoas que concluem uma graduação sem ler um mísero livro. Outras, quando leem, o fazem de maneira limitada, infantil, restringindo-se às leituras obrigatórias. Ainda assim, elas logram, passam em concursos e são tidas como “o exemplo de aluno universitário”, que merece ser reiterado. Não poderia ser diferente, decerto. Como a universidade transmite todas essas insignificâncias, resta claro que, para ser premiado, dentro desse parâmetro, é preciso muito esforço em repetir todo o conteúdo apreendido. Aqui, é importante frisar, não cabe o estereótipo do ressentimento. No entanto, se os senhores, ainda assim, relutarem em pensar de tal modo, dar-nos-emos por satisfeitos em lançar mão do direito ao ressentimento – no fundo, produto de uma crítica que lacera.

Ademais, mesmo os nossos docentes (ou principalmente eles) se utilizam da legitimação de suas tacanhices, proporcionada pela universidade. Quantos professores, com mestrado ou doutorado, não são quase analfabetos? São eles os que, quando entrevistados pelos sites das universidades, dizem estar fazendo os seus doutorados tendo em vista a consequente contribuição ao meio acadêmico. Que contribuição? A de se sentir um ser pinacular? A de perceber graúda a folha de pagamento?

A escritora supramencionada, ao ver o slogan da escola de sua filha (“seu saber é para vencer”), lamenta não poder deixá-la em casa. Entre nós, o “vencer” representa a vitória sobre o outro, um possível concorrente em um concurso, ou numa vaga de emprego. Não queremos, ao revés, entender tal signo como meio de transformação social, como “vitória” que liberta, porque imbuída de uma verdade que nos faz reconhecer a nossa própria condição.

A desolação da escritora culmina numa frase, a qual intitula este texto. Todos queremos nascer outra vez, Adélia, quando acabarem as escolas. A escolarização nos degenera, ao tempo em que nos especializa para um mercado embrutecedor.

Sim, caro Illich, que tenhamos uma sociedade sem escolas… E quem passar por último, acenda o pavio!

 Por: Breno S. Amorim

“Eu vi, eu vi, é um truque!”

imagesParafraseando Juremir Machado, o crítico do Direito (ou de qualquer outra “área”) aparece como o idiota que, em meio a uma sessão de mágica, grita: “eu vi, eu vi, é um truque”. Restando-lhe, em todo caso, uma confissão de ostracismo ou de “incompetência” para ocupar um espaço no reino encantado do direito.

É assim, de certo modo, que podemos pensar a (de) formação jurídica e a “cultura do concurso público”. Quando se critica o ensino jurídico ou a dedicação, única e exclusiva, aos concursos, escuta-se: “é um ressentido. Fala porque não consegue nada. Deveria ir comer o ‘vade mecum’ e os ‘esquematizados’, ao invés de estar aí falando besteira!”.

Por seu turno, até mesmo a tão “nobre” advocacia padece desse mal. Quem, ao dizer que pretende advogar, nunca ouvira: “mas não se pode ser crítico, tem que jogar o jogo do ‘sistema’”. E mais, caso queira escrever, não publique coisas agressivas, diga sempre o já sabido e estabelecido – para que desmascarar esta farsa, que é o Direito? Por que não urrar, em toda oportunidade, o brocardo ‘ubi societas ubi jus’? Escreva sobre a ‘natureza do cheque’, ora!”.

Por isso, mais uma vez com Juremir, necessitamos do “direito ao ressentimento”, haja vista a importância da liberdade de discordar, de denunciar o denunciante e de “trapacear o trapaceador” (Luís Eduardo).

Qual Dorian Gray, há que se esfaquear o quadro que leva o desenho da “face do Direito”. Só assim, acredito, é que se poderá torná-lo completamente visível, livre de disfarces. No entanto, surge-nos outro problema: poderemos nós outros esfaqueá-lo, ou, assim como a personagem de Wilde, somente a ele cabe tal façanha?

Demais, importante não se dar ouvidos aos que, por sabe-se lá qual motivo, querem – como o Streck (inteligente observação de um professor amigo) – salvar o Direito. Não há salvação, meus amigos!

Breno S. Amorim