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Paul Krugman: Trump, o intimidador, falha novamente

As crises internacionais geralmente levam, pelo menos inicialmente, a um aumento do apoio à liderança de um país. E isso está claramente acontecendo agora. Apenas algumas semanas atrás, o líder do país enfrentou um descontentamento público tão intenso que seu poder parecia estar em risco.

Agora, o assassinato do general Qassim Suleimani transformou a situação, gerando uma onda de patriotismo que fortaleceu muito as pessoas no comando.

Infelizmente, essa manifestação patriótica em torno da bandeira não está acontecendo nos Estados Unidos, onde muitos (com boas razões) suspeitam profundamente dos motivos de Donald Trump, mas no Irã.

Em outras palavras, a mais recente tentativa de Trump de intimidar outro país saiu pela culatra —assim como todas as suas tentativas anteriores.

Desde seus primeiros dias no cargo, Trump agiu sob a crença aparente de que poderia facilmente intimidar governos estrangeiros —que eles se dobrariam rapidamente e se deixariam humilhar. Ou seja, imaginou que enfrentaria um mundo de Lindsey Grahams, disposto a abandonar toda a dignidade à primeira sugestão de desafio.

Mas essa estratégia continua falhando; os regimes que ele ameaça são fortalecidos, e não enfraquecidos, e é Trump quem acaba fazendo concessões humilhantes.

Lembre-se, por exemplo, de quando Trump prometeu “fogo e fúria”, caso a Coreia do Norte não suspendesse seu programa de armas nucleares? Ele reivindicou vitória após uma reunião de cúpula em 2018 com Kim Jong Un, o líder norte-coreano. Mas Kim não fez concessões reais, e a Coreia do Norte anunciou recentemente que poderá retomar os testes de armas nucleares e mísseis de longo alcance.

Ou considere a guerra comercial com a China, que deveria colocar os chineses de joelhos. Um acordo foi supostamente alcançado, embora os detalhes permaneçam obscuros; o que está claro é que ficou aquém dos objetivos dos EUA e que as autoridades chinesas estão jubilosas com seu sucesso em confrontar Trump.

Por que a estratégia internacional de Trump, que pode ser descrita como vencer por intimidação, continua falhando? E por que ele a continua seguindo mesmo assim?

Uma resposta, suspeito eu, é que, como muitos americanos, Trump tem dificuldade para entender o fato de que outros países são reais —ou seja, que não somos o único país cujos cidadãos preferem pagar um alto preço em dinheiro e até com sangue a fazer o que consideram concessões humilhantes.

Pergunte a si mesmo: como os americanos reagiriam se uma potência estrangeira tivesse assassinado Dick Cheney, alegando que ele tinha o sangue de centenas de milhares de iraquianos em suas mãos? Não responda que Suleimani foi pior. Não vem ao caso. A questão é que não aceitamos que governos estrangeiros têm o direito de matar nossas autoridades. Por que imaginar que outros países são diferentes?

Certamente, temos muitas pessoas no corpo diplomático com profundo conhecimento de outros países e suas motivações, que entendem os limites da intimidação. Mas qualquer pessoa com esse tipo de compreensão foi excluída do círculo mais próximo de Trump.

Agora, é verdade que por muitos anos os EUA tiveram uma posição de liderança especial, que às vezes envolvia um papel na reformulação dos sistemas políticos de outros países. Mas é aqui que entra o segundo erro de Trump: ele nunca deu qualquer sinal de entender por que os EUA costumavam ser especiais.

Parte da explicação, é claro, era o mero poder econômico e militar: os EUA costumavam ser muito maiores que todos os outros. Isso, no entanto, não é mais verdade. Por exemplo, por algumas medidas chaves, a economia da China é significativamente maior que a dos Estados Unidos.

Ainda mais importante, no entanto, era o fato de os Estados Unidos serem algo mais que um grande país exercendo sua força. Sempre defendemos algo maior.

Isso não significa que sempre fomos uma força do bem; os EUA fizeram muitas coisas terríveis durante seu reinado como hegemonia global. Mas claramente defendíamos o Estado de direito global, um sistema que impunha regras comuns a todos, inclusive a nós mesmos. Os Estados Unidos podem ter sido o parceiro dominante em alianças como a Otan e órgãos como a Organização Mundial do Comércio, mas sempre tentamos nos comportar como apenas o primeiro entre iguais.

Ah, e como estávamos comprometidos com a aplicação de regras, também éramos relativamente confiáveis; uma aliança com os EUA era importante, porque não éramos o tipo de país que trairia um aliado por conveniência política em curto prazo.

Trump, no entanto, deu as costas a tudo o que costumava tornar os Estados Unidos ótimos. Sob sua liderança, não nos tornamos nada mais que um grande valentão egoísta —um valentão com ilusões de grandeza, que não é tão duro quanto imagina.

Abandonamos repentinamente aliados como os curdos; homenageamos criminosos de guerra; aplicamos tarifas punitivas a países amigos como o Canadá sem um bom motivo. E, é claro, depois de mais de 15 mil mentiras, nada do que nosso líder e seus subordinados dizem pode ser confiável.

As autoridades de Trump parecem surpresas com as consequências uniformemente negativas do assassinato de Suleimani: o regime iraniano está fortalecido, o Iraque tornou-se hostil, e ninguém se manifestou em nosso apoio. Mas é isso o que acontece quando você trai todos os seus amigos e desperdiça toda a sua credibilidade.

Por: Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Trump diz que tem poder de conceder perdão a si mesmo, mas que não fez ‘nada de errado’

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (4) que não cometeu nenhuma irregularidade, mas que tem o poder legal de conceder perdão a si mesmo, repetindo o argumento apresentado por seus advogados em documento enviado ao procurador especial que está investigando suspeita de ligação de sua campanha presidencial com a Rússia.

Diz Trump:

“Como foi declarado por diversos estudiosos jurídicos, eu tenho total direito de me perdoar, mas por que eu faria isso quando eu não fiz nada de errado? Enquanto isso, a interminável caça às bruxas liderada por 13 democratas muito irritados e confusos (e outros) continua até as eleições”, escreveu Trump em publicação no Twitter.

Trump está pressionado pela investigação do procurador especial Robert Mueller sobre o papel da Rússia na eleição de 2016.

Falando ao programa “This Week”, da rede ABC, seu advogado Rudy Giuliani foi questionado sobre o poder de o presidente conceder perdão a si mesmo, ao que respondeu:

“Ele não irá fazê-lo, mas ele provavelmente tem”. Giuliani acrescentou que Trump “não tem intenção de perdoar a si mesmo”, mas que a constituição dos EUA, que dá ao presidente a autoridade de conceder perdões, “não diz que não pode”.

Giuliani acrescentou que “isso seria uma questão em aberto.

Fonte: Portal G1

Isto Posto… Quem dará nome ao boi Donald Trump?

TrumpEDITORIAL – Em sua primeira aparição na Assembleia-Geral das Nações Unidas, o presidente norte-americano, o intrépido Donald Trump, no auge de sua contumaz bazófia, proferiu um discurso violento contra seus desafetos, prometendo vencer o terrorismo e destruir totalmente o anão atômico da Coreia do Norte.

Acontece que este palavrório desembestado só tem poder de produzir dois efeitos nocivos sobre os povos do mundo. Primeiramente, apreensão e pavor ao saber que poderosíssimas armas nucleares, de destruição em massa são controladas por duas figuras doidivanas, cuja preocupação mais notável é manter impecável o penteado excêntrico de suas cabeleiras desengonçadas.

Depois, a confirmação de que palavras mal colocadas no discurso tendem a desvelar a face verdadeira daqueles que prometem coisas que não podem realizar.

Seja porque não detém o poder de fogo alardeado para tal – como é o caso de Kim Jong – Um com suas ameaças de reduzir, com a sucataria que chama de arsenal atômico, os Estados Unidos a cinzas. Ou, ainda, porque não possui o poder de comando para decidir pelo uso de ogivas nucleares, como supostamente é a situação do neófito Donald Trump, uma vez que qualquer incipiente analista de relações internacionais sabe que é do Pentágono a palavra final sobre a hora de efetuar quaisquer disparos, sendo a expressão “ser presidenciável”, recorrente no cinema Hollywoodiano, denotativa tão somente de transferência informal do comando.

Deste modo, o que temos senão bravatas de um e outro lado? Ou pior, temos o presidente da nação tida por mais poderosa belicamente de intrigalhada com inexpressivo ditador, afiançado pela Rússia e pela China, que são reais obstáculos à realização das promessas de fúria e fogo feitas pelo nosso adorável fanfarrão Donald-Trump-topete-de-fogo-alaranjado.

Isto posto, quando os analistas políticos, os jornalistas, os estadistas darão nome ao boi Donald Trump, o parvo, o parlapatão.

 Por: Adão Lima de Souza    

Trump tenta apagar passado, mas a internet não esquece

TrumpSão Paulo – A equipe responsável pela comunicação online do presidente dos Estados Unidos Donald Trump apagou do seu site de campanha diversos textos recentemente. Entre eles, havia um em especial: o que mencionava que o presidente proibiria a entrada de muçulmanos no país.

O assunto veio à toa novamente após uma pergunta feita em uma coletiva na Casa Branca, de acordo com o site da revista americana Wired . Na última semana, a Justiça questionou o advogado do Departamento de Justiça, Jeffrey Wall, sobre o caso. Ele argumentou que a restrição de entrada de pessoas nos Estados Unidos não discrimina as pessoas por religião. O juiz, Robert King, respondeu dizendo que Trump não repudiou o que disse no passado sobre os muçulmanos e ressaltou que o conteúdo a esse respeito ainda estava em seu site.

Diante desse cenário, um conteúdo em particular relacionado a banir muçulmanos sumiu do site eleitoral de Trump. Porém, a internet não se esquece de praticamente nada. Basta fazer uma pesquisa no Wayback Machine , uma ferramenta da organização sem fins lucrativos  Internet Archive , que guarda dados publicados na internet, para encontrar o texto que fala sobre a restrição a muçulmanos.

Em casos como esse, o chamado Efeito Streisand costuma fazer com o que conteúdo censurado tenha efeito reverso e se torne de interesse do grande público.

Algo semelhante aconteceu em São Paulo. A equipe do prefeito da capital João Doria Jr. removeu conteúdos da gestão de Fernando Haddad do seu site.

Segundo o Estado de S. Paulo, ao menos três textos sobre a redução de velocidade das marginais Tietê e Pinheiros foram apagados do site da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Neste caso, porém, os textos não foram armazenados pelo Internet Archive e já não podem mais ser acessados.

Eles eram chamados “Menor velocidade nas marginais e em vias da Zona Les te de São Paulo tem como objetivo reduzir índice de acidentes e mortes no trânsito”, “Acidentes com vítimas caem 27% nas marginais após redução da velocidade máxima” e “CET implanta redução de velocidade máxima em trecho da Marginal Tietê”. A administração se pronunciou dizendo apenas que as informações objetivas sobre os eventos no trânsito da c idade de São Paulo continuam disponíveis no site. Felizmente, os conteúdos podem ser lidos.

Democratas acusam Trump de criminalizar estrangeiros e virar defensor de Wall Street

Trump“Trump está nos devolvendo às épocas mais obscuras da nossa história: criminalizando qualquer um que seja diferente, colocando-nos uns contra os outros e mandando uma mensagem equivocada ao resto do mundo, ajudando assim a fomentar o ressentimento e o ódio de grupos terroristas contra o nosso país”, Astrid Silva, ativista pro-imigração.

Trump prepara ‘operação de limpeza’ em seus serviços de inteligência

Donald TrumpDonald Trump ataca novamente. Em uma manobra quase sem precedentes, o presidente dos Estados Unidos decidiu, segundo The New York Times e a CNN, fazer uma revisão de seus serviços de inteligência. À frente dessa operação de limpeza quer colocar Stephen A. Feinberg, um multimilionário de sua confiança máxima, distante da órbita da segurança nacional. O golpe, que faz prever um recrudescimento do combate entre Trump e seus agentes secretos, reflete a fratura que, em menos de um mês de mandato, o republicano abriu nas mais altas instâncias do poder norte-americano. Uma desconfiança que levou os serviços de inteligência a ocultarem informação sensível para evitar seu vazamento.

Os espectros do passado voltam a se agitar em Washington. Escândalos como o Irã-Contras e Watergate começam a ser mencionados em voz alta. O incêndio chegou a ofuscar a queda do conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn. O que está em questão agora vai mais além de um só homem: a nação mais poderosa do planeta assiste a uma batalha aberta entre o comandante-chefe e aqueles que devem guiá-los nas trevas.

O problema, que surgiu na campanha eleitoral, não parou de crescer. Diariamente afloram novas revelações. E todos os golpes vão na mesma direção. Não é que Trump esteja diante de um escândalo. Para seus serviços de inteligência ele é o problema. A desconfiança chegou ao ponto de as agências, segundo publicou The Wall Street Journal, começarem a ocultar do presidente informações sensíveis. E não fazem isso por vingança pelos ataques que recebem de seu chefe supremo, mas por temor de que ele possa vazar dados de segurança nacional.

A origem dessa atitude, que inclui a retirada da vista presidencial de fontes e métodos, está vinculada à admiração demonstrada por Trump pelo presidente russo, Vladimir Putin. O magnata defendeu sempre sua amizade com o ex-oficial da KGB. Considera-a um bem valioso e chegou a realçá-la em suas disputas políticas. Foi assim quando em plena campanha pediu a Putin que continuasse hackeando os e-mails de sua rival, a democrata Hillary Clinton. Esse gesto, segundo agentes consultados pelo jornal norte-americano, foi um ponto crítico. Trump acabava de estender a mão a um país que estava interferindo no processo eleitoral com o claro objetivo de favorecê-lo. Depois se descobriria que outros membros de sua equipe estavam mantendo encontros regulares com agentes russos e que, já obtida a vitória, o futuro conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, manteve uma obscura conversa com o embaixador russo em Washington. Justo quando Barack Obama impunha sanções ao Kremlin por seu jogo sujo na campanha. Um cenário de terror para qualquer serviço de contrainteligência.

Mas a batalha não é travada somente do lado dos espiões. Trump mostrou de sobra sua belicosidade com uma área que considera desleal a seus propósitos. Longe de buscar a reconciliação, o presidente a tem acusado de entregar “como doces” informações secretas, e agora decidiu dar um passo a mais e esmagar diretamente a rebelião. Para isso pretende lançar mão de seu amigo multimilionário, para uma revisão profunda dos serviços de inteligência.

A chegada deste enviado presidencial, cujo cargo não está ainda determinado nem foi admitido oficialmente pela Casa Branca, é vista pelos afetados como a aterrissagem de um censor. Alguém que imporia os pontos de vista presidenciais e que buscaria reduzir as sonoras discrepâncias entre os relatórios das agências e a visão de mundo de Trump.

Além disso, a escolha vem carregada de suspeitas. Feinberg carece de experiência no universo da segurança nacional e sua maior proximidade com essas questões espinhosas procede do controle que a sua empresa, a Cerberus Capital, tem sobre dois fabricantes de armas e os suculentos contratos que firmou com o Departamento de Estado.

A ninguém escapa que o aval a Feinberg é bem diferente. Goza da estima do presidente e mantém estreitos vínculos com o estrategista-chefe da Casa Branca, Stephen K. Bannon, o municiador da ideologia de Trump. Sua entrada permitiria ao mandatário ter um homem de sua absoluta confiança em mundo que escapou de suas mãos e cujos dois principais chefes, o diretor da CIA e o da Inteligência Nacional, foram designados por influência do vice-presidente e das forças republicanas.

Mas a chegada dessa figura, embora facilite o fluxo de informações para a Casa Branca, dificilmente curará a ferida aberta. Desde que tomou posse, em 20 de janeiro, Trump vem se distinguido mais por romper do que por criar. E não aprece que este caso vá ser uma exceção. O problema é que agora o alvo de suas iras é seu próprio guardião.

Estratégia de Trump: convencê-lo de que o louco é você

Donald TrumpNão, você não está louco. Ainda que Donald Trump queira convencê-lo do contrário.

Na Trumplândia, onde jornalistas são “os humanos mais desonestos da Terra”, pouco adianta mostrar vídeos do novo presidente dos EUA afirmando isto ou aquilo. “Errado! Notícias falsas! Triste!”, eis sua trinca favorita para rebater a informação que o desagrada.

Em 2016, o dicionário Oxford elegeu “pós-verdade” como a palavra do ano. Agora é o termo “gas lighting” que ganha força para tipificar um fenômeno paralelo na era Trump.

O nome vem da peça britânica “Gas Light” (1938), depois adaptada para o filme que no Brasil se chamou “À Meia Luz”. Na trama, Ingrid Bergman sofre tortura psicológica do marido, que a todo momento questiona sua sanidade. Um dos artifícios: enfraquecer as lâmpadas a gás da casa e agir como se a luz bamba fosse fruto da imaginação da mulher.

“Gas lighting”, portanto, virou sinônimo do abuso emocional infligido para convencer a vítima de que o problema é ela. Exemplo: numa briga, o homem afirma que a mulher “só pode estar de TPM”.

Ao borrar a realidade, a versão do abusador vira o novo normal. Algo parecido ocorre no conto “A Roupa Nova do Imperador”: se todos garantem ver o traje do monarca, então é claro que ele existe.

Quando diz que sempre foi “totalmente contra a guerra do Iraque” (errado!) ou que viu na TV “milhares” de muçulmanos em Nova Jersey comemorarem os ataques de 11 de Setembro (notícias falsas!), o presidente parece viver em seu próprio “mundo invertido” —uma espécie de mundo real às avessas fabulado pela série de TV “Stranger Things” (triste!).

A coisa mais estranha, contudo, não é persuadir tanta gente a acreditar em seus “fatos alternativos” —expressão que uma correligionária adotou para se referir a dados distorcidos (eufemismo para mentira deslavada) divulgados pelo time presidencial.

Ainda mais ardiloso é manipular a opinião pública, pintando-se de perseguido por uma mídia já desmoralizada após ignorar vários sinais e apostar na derrota de Trump.

A imprensa pode publicar mil vezes fotos aéreas da posse do presidente, que mostram uma plateia esburacada feito queijo suíço. Ele continuará repetindo que sua cerimônia foi incrível, a melhor, a maior de todas. Ao negar o óbvio sem qualquer tipo de contraprova, e ainda assim sair vitorioso, Trump encarna o “gaslighter-em-chefe” da nação, diz a articulista da CNN Frida Ghitis.

Ao resenhar “Poder – Uma Nova Análise Social” (1938), de Bertrand Russell, George Orwell escreveu: “Afundamos a tal nível que a reafirmação do óbvio é o primeiro dever dos homens inteligentes”. Oito décadas depois, o autor de “1984” parece coisa de doido.

Por: Ana Virginia Balloussier,  Folha de São Paulo. 

Donald Trump tem chances reais de sofrer impeachment

TRUMPNem bem começou e já há quem quer que termine. Antes mesmo de completar três semanas no cargo, o impeachment do presidente americano Donald Trump já é considerado como uma pauta no horizonte da política dos Estados Unidos.

Um grupo de democratas tenta fazer do tema uma pauta do partido. Jornais e revistas têm publicado artigos e reportagens sobre o assunto. A petição “Impeach Donald Trump Now” elenca argumentos para a retirada de Trump e já conta mais de 500.000 assinaturas. Há diversas petições no site da Casa Branca pedindo que o presidente divulgue seus impostos e suas relações comerciais pessoais – o objetivo é detectar conflitos de interesse que, no limite, levem a uma saída forçada do presidente.

O site de apostas Paddy Power estima em 2 para 1 as chances de um impeachment. E até mesmo republicanos duvidam da capacidade de Trump de terminar o mandato. Em um artigo escrito para a revista The Atlantic, Eliot Cohen, ex-consultor de Condoleezza Rice durante o governo de George W. Bush, argumenta que “não seria a menor surpresa se a gestão não terminasse em 4 ou 8 anos, mas muito antes disso, com um impeachment”.

Inimigos não faltam: Trump já comprou brigas dentro e fora dos Estados Unidos. Proibiu imigrantes muçulmanos, demitiu a procuradora-geral, cancelou o Tratado Trans-Pacífico, ameaçou o México com a construção do muro, comprou uma briga cambial com a Alemanha e até desligou o telefone na cara do primeiro ministro australiano Malcolm Turnbull.

Um de seus mais famosos apoiadores, o empresário Peter Thiel, costumava dizer que “o problema com os opositores de Trump é que eles o interpretam de maneira literal, mas não séria; e o problema com seus apoiadores é que eles o interpretam de maneira séria, mas não literal”. Até aqui, o melhor guia para a política trumpista tem sido exatamente o que Trump havia dito que iria fazer. Mas ele pode continuar assim até 2020?

O caso pró-impeachment

Embora o governo tenha menos de um mês, já há quem defenda que determinadas atitudes de Trump violam leis americanas que poderiam balizar uma moção de impeachment. O deputado democrata Joaquin Castro, por exemplo, questiona se o presidente não interferiu na autonomia de outros poderes quando baniu imigrantes muçulmanos de entrarem nos Estados Unidos — esta foi uma das ações do governo mais questionadas.

Para ele, há a possibilidade de Trump ter instruído a Agência de Proteção de Fronteira a ignorar ordens judiciais contra seu mandato executivo. “Se o presidente instruiu a Agência de Proteção de Fronteira a ignorar ordens da justiça contrárias ao seu mandato executivo ele deveria receber uma repreensão. Se fizer de novo deveria ser retirado do governo” escreveu Castro no Twitter.

Outros motivos incluem a própria relação do presidente com seus negócios particulares — o republicano deixou as organizações Trump para seus filhos em um truste, no qual eles teoricamente não podem discutir negócios. Além do fato de Trump nunca ter disponibilizado sua declaração de imposto de renda. Alguns deles giram em torno da Cláusula dos Emolumentos, um adendo da constituição americana que proíbe alguém que ocupa um cargo público de ter interesses financeiros ou receber presentes e títulos de outros países.

Para Ajay Chaudhary, professor da Universidade de Columbia e diretor do Instituto Brooklyn de Pesquisa Social, ainda é cedo para argumentar pelo impeachment do presidente. “No atual momento é muito improvável que o impeachment aconteça, seja pelas ordens executivas de Trump ou pela Cláusula dos Emolumentos. Não há quase nada em que se possa apoiar um processo de crime político agora”, afirma.

Construindo a oposição

Um processo desses não tomaria lugar tão facilmente. Trump está fortalecido: segundo o jornal New York Times 48% dos americanos aprovaram a medida de banir imigrantes de países de maioria muçulmana. E seu partido tem maioria no Congresso, o que dificultaria o processo de impeachment de caminhar pelas vias legais.

Esperar que o governo enfraqueça é o que parece ser a única alternativa da oposição. Em um evento realizado pelo banco Credit Suisse em São Paulo, o ex-ministro de Relações Exteriores do México, Jorge Castañeda, argumentou que essa é a opção do país para lidar com as provocações de Trump. “O México é a criança mais fraca na turma, logo Trump vai mexer com ele primeiro. A opção é esperarmos que ele esteja mais fraco, com menos apoio, com a imagem desgastada e com a oposição democrata minimamente fortalecida para termos chances de nos defendermos melhor de suas políticas”, disse.

Os democratas começam a procurar por maneiras de deslegitimar a gestão de Trump e enfraquecer seu poderio político. Um boicote em massa está programado para o dia 28 de fevereiro, quando acontece uma sessão conjunta do presidente com o Congresso, onde Trump irá fazer o famoso Discurso de Estado da União. O propósito é fortalecer o partido para as eleições de meio de mandato — nos Estados Unidos uma parte dos congressistas é eleita a cada dois anos — e tentar conquistar a maioria na Câmara. “Eu realmente acredito que se tivermos a maioria podemos dar entrada em um processo de impeachment”, disse o deputado democrata Ted Lieu ao site Politico.

Segundo o professor Chaudhary nem mesmo esse processo é simples. Ele lembra que os democratas precisam passar por algum tipo de reconstrução interna caso queiram se colocar como uma oposição real aos republicanos. “A coalizão republicana não deve ser enfraquecida tão cedo. Eles têm o controle do Congresso e da presidência da Câmara e podem tocar uma agenda econômica conservadora. Para os democratas terem alguma chance é preciso que se fortaleçam como um partido de força econômica, além de força social”.

Trump já afirmou que a verdadeira oposição a seu governo é a mídia. Mas analistas discordam que a imprensa apoiaria um impeachment caso não houvesse uma base legal sólida e acusações contundentes.

Impeachment nos Estados Unidos

O processo de impeachment americano é muito parecido com o brasileiro. Primeiro, as acusações passam por uma comissão de justiça na Câmara que julga os procedimentos legais da questão. Depois, vai a plenário da Câmara, onde o caso precisa de maioria simples.

Lá, como cá, o julgamento é feito no Senado, onde precisa do voto de 67 dos 100 senadores. Até hoje, nenhum presidente foi condenado no Senado, embora outros já foram julgados. Mais recentemente, no final de 1998, Bill Clinton teve duas moções de impeachment encaminhadas após o escândalo de seu envolvimento com a estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky. As acusações, de perjúrio e obstrução de justiça, foram aprovadas pela Câmara.

No Senado, Clinton foi inocentados por todos os 45 democratas e 5 republicanos em ambas as acusações, resultando no apoio de pelo menos metade dos senadores. Exatos 130 anos antes, o ex-presidente Andrew Johnson também foi inocentado pelo Senado, após acusações de que teria violado uma lei da época que impediria o presidente de remover civis nomeados a cargos políticos sem aprovação do Senado. Richard Nixon renunciou enquanto seu processo de impeachment corria pela Câmara, em 1974, acusado estar envolvido e tentar abafar o caso Watergate, em que a CIA teria invadido computadores e escritórios democratas para obter informações privilegiadas a mando da presidência.

Lá, como cá, o processo é essencialmente político. Clinton se safou porque a economia estava no rumo certo. Se os mirabolantes planos de Trump derem conta da promessa de fazer o país crescer 4%, ele certamente ficará onde está independentemente dos impropérios e conflitos de interesse. Mas, se a economia patinar, é melhor ele colocar o topete de molho.

 

Trump autoriza muro na fronteira com o México

TrumpO presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou, hoje, uma ordem executiva para destinar fundos federais para a construção de um muro na fronteira com o México, informam as agências Reuters e AP e a rede CNN. A construção do muro foi uma das principais promessas de campanha do republicano.

Trump também assinou uma ordem executiva para bloquear fundos federais para as chamadas “cidades-santuário”, que protegem imigrantes sem documentos da deportação.

Os fundos federais serão abolidos para cidades que se recusem a fornecer informações às autoridades federais sobre o status de imigração de pessoas detidas nesssas localidades, entre as quais estão Chicago, Nova York e Los Angeles.

“Uma nação sem fronteiras não é uma nação. A partir de hoje os Estados Unidos tomam de volta o controle de suas fronteiras”, disse depois a uma platéia de funcionários do Departamento de Segurança Interna. “Acabo de assinar duas ordens executivas que vão salvar milhares de vidas, milhões de empregos e bilhões e bilhões de dólares”, afirmou.

Em uma entrevista concedida à ABC News divulgada antes da assinatura da ordem nesta quarta, Trump disse que a construção do muro na fronteira com o México começará “assim que possível”. Questionado sobre se seria uma questão de “meses”, o presidente disse: “eu diria em meses”. Segundo o presidente, o planejamento da construção começa imediatamente.

Na entrevista, Trump também afirmou que a construção será financiada pelos contribuintes americanos, mas que “relativamente em breve” o país começará uma negociação de reembolso com o país vizinho.

“Seremos, de alguma forma, reembolsados pelo México, o que eu sempre disse”, afirmou. “Seremos reembolsados em uma data posterior de qualquer transação que fizermos com o México”, disse Trump.

Confrontado com a afirmação do presidente Enrique Peña Nieto, de que o México não pagará pelo muro, Trump disse: “Ele tem que dizer isso. Mas estou te dizendo que haverá um pagamento. Será de uma forma, talvez uma forma complicada”, disse. “O que estou fazendo é bom para os Estados Unidos. Também vai ser bom para o México. Queremos um México muito estável, muito sólido”, acrescentou.

Visita do presidente mexicano

O documento foi assinado no dia em que o ministro das Relações Exteriores do México, Luis Videgaray, chega a Washington para preparar a visita do presidente do país, Enrique Peña Nieto. O mexicano deve se reunir com Trump no final do mês, sendo um dos primeiros líderes mundiais a se encontrar com o novo presidente americano.

Antes da eleição, Peña Nieto recebeu críticas dos mexicanos por participar de uma reunião com Trump. Os dois se reuniram em agosto de 2016, quando Trump ainda fazia campanha como candidato, e falaram sobre o muro, entre outros assuntos. Na ocasião, o presidente mexicano disse que deixou claro que seu país não pagará pela construção do muro, o que é proposto por Trump.

Trump já havia antecipado em seu Twitter que assinaria a medida nesta quarta-feira. “Grande dia planejado na SEGURANÇA NACIONAL amanhã. Entre muitas outras coisas, vamos construir o muro!, escreveu”.

 

Por decreto, Trump retira EUA da Parceria Transpacífico

USAO presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou, hoje, uma ordem executiva para iniciar a saída do país do Tratado de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), negociado pelo governo de Barack Obama e visto como um contrapeso à influência crescente da China.

A iniciativa é a primeira decisão do novo presidente republicano, que durante a campanha denunciou com veemência o que chamou de acordo “terrível”, que “viola”, segundo ele, os interesses dos trabalhadores norte-americanos.

“Temos falado muito disso durante muito tempo”, disse Trump enquanto assinava a ordem executiva no Salão Oval da Casa Branca. “O que acabamos de fazer é uma grande coisa para os trabalhadores americanos”, acrescentou.

O texto, promovido por Washington e que supostamente modela as regras do comércio do século XXI, foi assinado em 2015, mas não entrou em vigor. Ele previa a liberação do comércio de serviços, como engenharia de software e consultoria financeira.

A administração Obama considerava o TPP como o melhor tratado possível porque inclui não só a eliminação de barreiras comerciais, como também de normas sobre legislação trabalhista, ambiente, propriedade intelectual e compras estatais.

TPP

O tratado foi assinado por 12 países: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura, Estados Unidos e Vietnã, que representam 40% da economia mundial.

O TPP, que visa reduzir barreiras comerciais em algumas das economias com o crescimento mais rápido da Ásia e se estender do Canadá ao Vietnã, não pode entrar em vigor sem os Estados Unidos.

Ele precisa da ratificação de pelo menos seis países que respondam por 85% do Produto Interno Bruto (PIB) combinado dos países membros.

Várias organizações não governamentais o questionam por alegar que há normas pouco transparentes para os trabalhadores e o meio ambiente. Argumentam ainda que viola normas soberanas de países-membros e limita o acesso a medicamentos.

A China tem buscado promover sua própria versão de um pacto comercial da Ásia-Pacífico, chamado de Parceria Abrangente Econômica Regional (RCEP, na sigla em inglês), que exclui os Estados Unidos.

Trata-se de um acordo comercial mais tradicional, que envolve cortar tarifas em vez de abrir economias e estabelecer padrões trabalhistas e ambientais como o TPP faria.

Nafta

Trump anunciou na sexta-feira (20), dia de sua posse, que exigirá a renegociação do Nafta, acordo de livre-comércio integrado por Estados Unidos, Canadá e México, e vai abandonar o tratado a menos que o país consiga “um acordo justo”.

O comunicado, publicado menos de duas horas depois de Trump fazer seu juramento de posse, diz que o novo governo tentará mudar os termos do acordo em vigor há 23 anos. Durante a campanha, Trump afirmou que o pacto gerou desemprego, baixa na produção industrial e perdas econômicas aos EUA.

A indústria automobilística foi um dos principais alvos das críticas do agora presidente. México e Canadá são os principais exportadores de veículos para o mercado americano. Na campanha e após a vitória nas eleições, Trump atacou especialmente as importações vindas do México e ameaçou sobretaxar fábricas contruídas fora dos EUA.

Ele disse que os EUA deixarão de perder indústrias e empregos para a China e o México, e ameaçou penalizar empresas que queiram deixar o país, como fizeram com a Toyota e a BMW.

Empregos e impostos

A base econômica de Trump foi a promessa de aumento de empregos, um de seus temas mais frequentes. Trump afirma que pretende aumentar impostos para quem o fizer ou para quem não empregar preferencialmente norte-americanos e chegou a afirmar que quer “obrigar” a Apple a fabricar seus produtos nos Estados Unidos.

Trump, recebeu na manhã desta segunda-feira (23) um grupo de 12 empresários na Casa Branca e prometeu cortes de impostos e a redução de 75% das regulações. “Vamos baixar os impostos maciçamente, tanto para a classe média como para as companhias”, afirmou, ressaltando sua vontade de “fazer os empregos voltarem” aos Estados Unidos e favorecer a produção em território americano.