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Crônica de uma morte no cotidiano da pacificação genocida
RIO DE JANEIRO – A sequência começa em um dia qualquer na praia de Copacabana. O bailarino Douglas Rafael da Silva Pereira, 26 anos, conhecido como DG, joga futebol tranquilamente com um grupo de amigos. Quando acaba a partida, começa o caminho a favela de Pavão-Pavãozinho, encravada em uma colina do bairro mais turístico do Rio de Janeiro.
O jovem, mulato e forte, caminha pelos becos íngremes do subúrbio cumprimentando os vizinhos. Nota-se sua popularidade na comunidade. Recebe fruta de um vendedor ambulante e ajuda uma senhora a carregar suas sacolas de compra. Um pastor evangélico lhe dá sua benção sob um sol atroz.
E lá vai Douglas, bamboleando feliz pelas ruas, brincando e batendo nas mãos de conhecidos quando, de repente, escutam-se os tiros e em um beco deserto aparecem três policiais militares fora de si. O acurralam, o socam e chutam. Douglas, com voz entrecortada e olhos de pânico, pede misericórdia e tenta esclarecer sem êxito que é “um trabalhador”.
Então é quando o agarram pelos cabelos e, sem lhe dar a mínima oportunidade de se defender, lhe descarregam um tiro na cabeça. Pelas costas. Douglas estira-se agora no solo, sem vida, enquanto os agentes entram em estado de histeria frente a evidência de que este “auto de resistência” (licença da polícia para matar em defesa própria” será muito difícil de justificar.
Isto tudo poderia não passar de um roteiro de cinema, como o curta-metragem que DG protagonizou um ano antes de morrer na mesma favela. Porém, tirando alguns detalhes, como o lugar exato da execução, o número de policiais ou a velocidade do ocorrido, o restante mostra as agruras de um povo pobre e indefeso sendo exterminado pela truculência do Estado.
Uma violência policial fora do controle, batizada de Política de Pacificação de Favelas, que o mundo resiste em admitir que se trate, de fato, de uma faxina étnica, de genocídio orquestrado pelo Estado, cujo propósito é varrer a “imundície vergonhosa” antes que os estrangeiros cheguem para a grande esbórnia que será a Copa.
Por: Adão Lima de Souza