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E APOIS… BRASÍLIA DE SEGURANÇA MÁXIMA?
E então Plebe Rude, vagantes mansos dessa Nau-Brasil desgovernada, nação desfuturista, trazida pelas caravelas d’além-mar, este que vos fala é PONCIANO RATEL, alçado a patente de Desabestalhador Geral da República em revide ao grassamento das contingências morais nestas paragens tupiniquins.
O proselitismo iconoclasta de hoje é inspirado em matéria jornalística de cunho não científico, porém especulativo que nem feitura de texto de blog de opinião formada e desenformada, na qual certo jornalista arretado expõe com maestria a urgente necessidade de mandar cercar Brasília com muro alto e fios de arame farpado, impedindo a saída de quem lá dentro estiver e desautorizando qualquer novo ingresso pelo tempo necessário à descontaminação daquele ambiente insalubre à República Federativa do Brazil.
Conforme nos dão conta os noticiamentos hodiernos da blogosfera desta pátria adorada, deitada eternamente em berço esplêndido, a capital do país fora infestada por um magote de ratazanas, tipo súcia de sacripantas que se encravam nos recônditos do Palácio dos Marajás da Governança como chatos nas partes pudendas.
Informam ainda os libelos mais benquistos pelos letrados, conforme os inteiramentos acusatórios da grande mídia falada e escrevinhada, que a partir do seleto grupo de partidos políticos de ideologia dolarizada, mancomunados com o clube dos bilionários astuciosos e cheios de ojeriza pela lei, a praça dos três poderes foi transformada em guarita para organizações criminosas ramificadas, onde agora o país chafurda na imoralidade pública perfilada por uma empreitada voraz de pagamentos de propinas e outros mimos com o dinheiro dos impostos nunca dantes vista.
Também alardeiam os ditos pasquins, que devido a esse traquejo, tão peculiar ao nosso modo institucionalista de cumprir as diligências impreteríveis para o bom andamento da governadoria, consoante os mais alarmistas, pela exageração dos caraminguás surrupiados do erário, a única saída sensata seria cercar todo o entorno do Planalto Central e apregoar numa placa luminosa na faixada frontal de Brasília os dizeres PENITENCIÁRIA FEDERAL DE MÁXIMA SEGURANÇA MÁXIMA, vedando, a partir de então, a entrada ou saída de pessoas até que o último Burocrata ou Tecnocrata, Jurista ou Político, Congressista ou Lobista do Detrito Federal tenha morrido por inanição e solidão profunda.
Por fim, conclamam os blogs de leituras de fácil degustamento que é imperativo um gesto audacioso, heroico e retumbante dessa brava gente brasileira, bradando aos quatro cantos desse país forte, impávido e colosso, que é chegada a hora de medida drástica capaz de extirpar de vez o câncer em que se transformou a corrupção institucionalizada por pessoas de diversos partidos e partidos diversos.
E que somente assim faremos brilhar o sol da liberdade em raios fúlgidos, devolvendo ao Brazil a força surrupiada desde o sepultamento dos degredados trazidos por Cabral.
E atentai para esta sapiência: “Os grilhões que nos forjarem, com perfídia, astuto ardil, com mão mais poderosa, Zombará deles o Brazil?”.
Saudações a quem tem coragem!
PONCIANO RATEL
O violão de Dilermando Reis
“Você gosta de ouvir violão? Seu Raulino gostava desse disco. Leve para você, é bom ouvi-lo tomando uma cervejinha”.
Foi com esses cuidados que tio Evandro presenteou-me este belo LP do violonista Dilermando Reis. Logo ele, cercado de tantos Chico Buarque, Caetano Veloso e Nelson Gonçalves, apresentou-me uma discografia desconhecida, ilustrando a capa do vinil “Gotas de Lágrimas” com uma bela mulher em pranto.
Tio, confesso que não estou bebendo aquela “cervejinha” que tanto gosto, cheguei a pouco da faculdade e a madrugada que se rompe pede doses fartas do melhor “amigo engarrafado do homem”, como bem recomendava Vinícius de Moraes com seus “uisquezinhos”.
Embora o ruído da antiga vitrola seja persistente, neste momento, além de um par de ouvidos enfeitiçados com a maestria de cada acorde, estou munido de uma caneta, papel e o entusiasmo de quem acredita na locomotiva da poesia, ainda que os trilhos sejam escorregadios e incertos.
Propositalmente, escolhi uma rapsódia infantil que, aos poucos, cantarola uma calmaria no vão que se abre dentro de mim, como se cada dedilhada do músico pudesse desatar os nós que prendem minhas raras meninices, abrindo, sem pressa, um quintal perdido e uma escrita sustentada de esperanças.
A próxima faixa musical, acertadamente, chama-se “Nossa Ternura”. Cativa-me essa bela valsa, trazendo uma leveza meiga nesta crônica, exigindo-me uma destreza em cada letra que me lanço, como se a poética dependesse de suas asas frágeis para que possa levitar um sonho perfeito.
Do outro lado do disco, há uma valsa chamada de “Eterna Saudade”, com tons mais melancólicos, quase nos arrancando a lona do tempo, como se saltitasse na minha pele o ardor de quem perdeu o equilíbrio no trapézio de suas promessas, de quem se esquiva entre uma estação em ruínas e ainda espera uma carruagem quimérica.
No entanto, é a primeira canção que me comove: “Gotas de Lágrima”. Mesmo com um canteiro de metáforas ao meu lado, já faz horas que tento descrever algo e não consigo, apenas sentindo um embalo inesperado, capaz de derramar o que resta de mim nesta lua de outono que, na ameaça do alvorecer, despede-se como uma rabiola prateada, talvez também emocionada com o orvalho que sai de minha vitrola.
Um brinde ao bom gosto de Seu Raulino. Obrigado pelo presente, tio. Bravo, Dilermando Reis, graças a você sinto-me como Maiakovski, confundindo a ciência da anatomia, pois sou todo coração.
Edmar Conceição é cronista do site: http://www.escritica.com