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Isto Posto… Advogado, que causa tu defendes?
Sem dúvida nenhuma, o que mais contribui para que um jovem se decida pelo Curso de Direito não é tão somente o fascínio pelo status ou o glamour de profissões dignas e necessárias como a de Juiz, Promotor, Defensor ou Advogado, mas sim, ainda que inconscientemente, o ideal de justiça, ou seja, o desejo de ver triunfar a justiça sobre a opressão e a tirania, a satisfação pela coragem em manejar a espada contra a mentira e a traição e, assim, poder oferecer a balança como boa medida de equidade para que reine o bom senso.
Outro fator evidente, construtor de nossas aspirações, é a forte influência da cultura popular sobre nossas escolhas. Principalmente, para o jovem de hoje, habituado à internet como meio indispensável à troca de ideias; e ao cinema como instrumento realizador daqueles sonhos heroicos, em que a verdade e a justiça triunfam sobre as pretensões fundadas na tirania, no preconceito, na esperteza, no desrespeito ao outro e suas fragilidades e na certeza da impunidade pelos seus crimes, conspurcando o ideal humano de justiça.
E inspiração não nos falta na cinematografia moderna, cujos heróis, recrudescendo a nossa sede de justiça, fazem renovar a crença imprescindível nos valores humanos. Como no filme “Questão de Honra”, em que o ator Tom Cruise, interpretando um jovem e inexperiente advogado, é designado para defender da acusação de homicídio dois fuzileiros da base naval Americana de Guantánamo, em Cuba.
Numa atuação memorável, o jovem ator Tom Cruise, corajosamente, enfrenta a arrogância das altas patentes militares para provar que os acusados agiram em cumprimento de uma ordem superior e que seria injusto serem os únicos condenados pelo crime cometido. Neste filme, o grande ápice é o diálogo entre Tom Cruise e o excelente ator Jack Nicholson, no papel do impetuoso e prepotente Coronel Nathan R. Jessep, que quando acuado pelas perguntas do talentoso jovem advogado, ameaçado de Corte Marcial por acusar sem provas um Oficial, sentencia o coronel do alto de sua arrogância: “você não suportaria a verdade!”.
Outro magnífico exemplo cinematográfico é, também, o filme “Tempo de Matar”, onde um advogado branco (Matthew McConaughey), numa pequena cidade do Mississipi, estado que se notabilizou pelo racismo enraizado, terra da Ku Klux Klan, organização que queimava pessoas pelo simples fato de serem negras, aceita defender um negro (Samuel L. Jackson), acusado de ter matado os três homens brancos que estupraram sua filha de onze anos de idade e foram inocentados por um júri racista.
Neste filme, o advogado branco, mesmo temeroso de que tivesse sua carreira prejudicada pela defesa de um negro numa cidade racista, consegue inocentar o pai por ter este agido em legítima defesa, ao propor que o júri, apesar de racista, pudesse se colocar, por um minuto, na pela daquele pai ao encontrar sua filha pequena jogada numa estrada deserta, violentada, sangrando ao lado de sua mochila escolar.
Tanto num como no outro filme, o que está em jogo, além das fontes de inspiração que induz o jovem para a carreira de Direito, é, inafastasvelmente, a escolha que fazem esses advogados pela defesa da justiça, transformando este anseio pelo justo na sua “Causa”, enquanto profissional e, sobretudo, cidadão, ser humano.
Isto posto… Para não ficarmos apenas somente na ficção, trago à tona a grande figura do advogado dos pobres, Cosme de Farias, que com apenas o curso primário, tornou-se advogado provisionado (rábula) e passou a vida defendendo milhares de clientes que, sem condições financeiras, de outra forma não teriam condições de uma defesa. Retratado por Jorge Amado, em Tenda dos Milagres, na personagem “Damião de Souza“, para reafirmar que a ficção também imita a vida. E é, diante disso, que pergunto aos jovens estudantes de Direito, principalmente os que dividem comigo a rotina da Facape, temos também uma causa? Caros colegas, que causa vós defendeis? Por que não começais a defender vossos direitos?
Por: Adão Lima de Souza