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Comparado ao Brasil, mundo é amador em corrupção, diz cientista político francês
Em entrevista à BBC Brasil, Dabène diz que o mais recente capítulo da crise política no país, deflagrado após as delações de executivos da JBS – e que atingiram o presidente, Michel Temer -, mostram que “os políticos brasileiros não aprendem”. E que quando o assunto é desvio de dinheiro público e corrupção, o mundo inteiro é amador se comparado ao que ocorre no Brasil.
“Eles veem a política como algo que permite o enriquecimento pessoal. Não há uma visão da política como atividade que deva servir aos interesses gerais.”
O professor da Sciences Po, que já lecionou na Universidade de Brasília e em outros países da América Latina, identifica no Brasil uma “pilhagem sistemática dos recursos e de estatais”, algo que vê como “inacreditável” e digno de “dar vertigem.”
Dabène prevê que dessa crise surgirá um “grande partido de direita” para defender os interesses das classes altas, que não se viam representadas desde o retorno à democracia.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil – Qual é a sua avaliação da crise política no Brasil, após as denúncias recentes envolvendo o presidente Temer?
Olivier Dabène – Temos a impressão de que as revelações de corrupção não irão acabar nunca. As delações premiadas levam a acusações em série. Há um agravamento progressivo porque os elementos se tornam mais precisos e o número de políticos envolvidos é impressionante, e inclui os mais populares, como Lula.
Isso leva a pensar que era praticamente impossível fazer política no país sem recorrer a financiamentos privados ilegais. O modo de funcionamento da vida política brasileira foi exposto e hoje atravessa um momento crítico.
O caso envolvendo o presidente Michel Temer (investigação após delações da JBS) é o cúmulo do cinismo. Temos a impressão de que os políticos brasileiros não aprendem. Eles continuam fazendo a mesma coisa. É uma maneira instintiva de fazer política. É muito difícil mudar o comportamento e as mentalidades.
BBC Brasil – O que explica a dimensão da corrupção no Brasil?
Dabène – É difícil explicar tamanhos absurdos. Há uma visão da política no Brasil como atividade que permite o enriquecimento pessoal, da mesma forma que outras atividades.
Não há uma visão da política como atividade que deva servir aos interesses gerais. Quando dizem que não há consciência cívica no Brasil, penso que isso não está errado.
A corrupção não é particularidade do Brasil, mas é exagerada no país. Talvez porque o Brasil seja um país grande, rico, com muitos recursos naturais e que por muito tempo foi alvo de exploração fácil. Há comportamentos que se enraizaram na história. Essas pessoas estão comprometendo o crescimento econômico do Brasil e o desenvolvimento futuro.
BBC Brasil – Na França, por exemplo, também há revelação de suspeitas de desvio de dinheiro público, como ocorreu durante a campanha presidencial com o candidato conservador, François Fillon, até então favorito na disputa.
Dabène – Os franceses são amadores se comparados ao que ocorre no Brasil. O mundo inteiro, aliás. Imagine o que teria sido o crescimento econômico do Brasil nos últimos 30 ou 40 anos se não tivesse havido essa pilhagem sistemática de seus recursos e empresas. Isso dá vertigem. É totalmente inacreditável.
Quando digo que os políticos brasileiros não aprendem, me refiro também ao fato de que não conhecem a história do Brasil. Esse tipo de situação no país hoje é tipicamente o clima de um golpe de Estado.
Não estamos mais, claro, na época de golpes militares, há pouquíssimas chances de que isso ocorra. Mas há todos os elementos para que um militar queira virar a situação.
Quando a democracia chega a esse tipo de absurdo, de comportamentos imorais, pode sempre surgir um militar para dizer basta a tudo isso.
As coisas, claro, mudaram. A grande maioria dos militares no Brasil tem um espírito republicano. E hoje as Forças Armadas têm menos necessidade de intervir na política porque há homens políticos, como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), com linguagem dura e comportamento autoritário.
BBC Brasil – O senhor diz que para mudar o comportamento dos políticos no Brasil é necessário que haja uma nova geração ou candidatos outsiders.
Dabène – Tenho receio de que a eliminação de uma classe política, como ocorre atualmente com os escândalos de corrupção, resulte em um outsider que queira colocar ordem e seja autoritário. Uma personalidade forte, que não hesitará em agir com dureza.
É um cenário catastrófico para o Brasil que não pode ser descartado. Os brasileiros estão muito descontentes. É uma situação inédita que torna possível o surgimento de um outsider linha-dura ou de pessoas que nunca tenham atuado na política.
O deputado Bolsonaro é preocupante e já se beneficia de certo apoio, segundo pesquisas. Vai sair dessa crise política um grande partido abertamente de direita, que defenderá as classes mais altas. Elas hoje não sentem representadas. Não houve, após a volta da democracia no Brasil, com um grande número de pequenos partidos atualmente, um grande partido de direita clássica, dura. Há um vazio sendo preenchido.
BBC Brasil – O senhor acredita que o presidente Temer conseguirá terminar o mandato ou isso se tornou inviável?
Dabène – Já faz tempo que é inviável. A cada nova revelação, se estende o limite do que é suportável. Mas acho que apenas a eventual decisão do Tribunal Superior Eleitoral de cassar seu mandato o impediria de continuar na Presidência.
O que é fascinante no caso de Temer é que ele um presidente sem nenhuma legitimidade e impopular e, ao mesmo tempo, que lança reformas radicais. É paradoxal. Ele aposta que fará algumas reformas.
BBC Brasil – Mas há pressão popular para que ele renuncie e por eleições diretas.
Dabène – É difícil medir hoje a força de mobilização nas ruas porque há o fator da mobilização online, nas redes sociais. É diferente do movimento Diretas-Já nos anos 80. A mobilização nas redes sociais não fará o presidente Temer renunciar. Isso é certo. No entanto, se o movimento Diretas-Já com 10 milhões de curtidas na internet se transformar em 10 milhões de pessoas nas ruas de Brasília, será outra coisa.
Tenho certeza de que muitos brasileiros estão descontentes e querem que Temer renuncie. Mas será que isso se resume a curtir páginas Fora Temer ou Diretas-Já nas redes sociais ou pessoas de todo o país irão protestar em Brasília? Ou seja, se o movimento crescer e houver milhões de pessoas nas ruas, pode ser que Temer seja obrigado a renunciar. Não descarto essa possibilidade.
Mas não é fácil fazer com que as pessoas marchem nas ruas, o que me leva a pensar que Temer continuará no cargo, caso seu mandato não seja cassado pela Justiça.
BBC Brasil – Com boa parte do Congresso investigada pela operação Lava Jato, não haveria, no caso de eleição indireta, um problema de legitimidade para designar o eventual novo presidente?
Dabène – Eleições indiretas representariam um problema de legitimidade, claro. Mas seria um presidente de transição até as eleições de 2018. Se for uma personalidade moderada, com um discurso de reconciliação e de paciência, no sentido de respeitar o calendário eleitoral, poderá dar certo.
Acho notável, nestes dois últimos anos no Brasil, o desejo de respeitar a Constituição em meio a toda essa crise. A classe política vai querer respeitar o que diz a Constituição nesse caso.
BBC Brasil – Com a rejeição da classe política tradicional, o senhor acha possível que o Brasil possa eleger um presidente como o da França, Emmanuel Macron, que jamais havia disputado uma eleição e era totalmente desconhecido no país há apenas três anos?
Dabène – Sim. A opinião pública brasileira está tão decepcionada que devemos nos preparar para enormes surpresas. Talvez o próximo presidente do Brasil possa até ser um artista. É possível que os candidatos que disputarão o segundo turno presidencial em 2018 não sejam hoje pessoas conhecidas.
Fonte: BBC Brasil
“Julgamentos não são políticos”, diz Moro
Ao participar de uma conferência em Londres, neste sábado, o juiz Sergio Moro fez uma referência, ainda que indireta, ao modo como enxerga a condução dos processos da Lava-Jato em geral – e aquele que envolve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em particular. “Se o juiz for julgar pensando na consequência política, aí ele não está fazendo o seu papel de juiz. Acho que muitas vezes se faz essa confusão de que os julgamentos são políticos, quando na verdade não são”, defendeu Moro diante da plateia do Brazil Forum UK, evento realizado por um grupo de brasilianistas que são pesquisadores de pós-graduação de universidades britânicas.
Ele e o ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo participaram da mesa que encerrou a programação do dia, debatendo o papel do Judiciário na crise política. Em sua fala, Moro ainda teceu outras ponderações que podem ser aplicadas ao caso de Lula – réu interrogado por ele três dias antes do evento, no processo que investiga a propriedade do triplex do Guarujá. “Tem que se entender que nesses casos envolvendo corrupção de agentes políticos, em postos de elevada hierarquia, um julgamento, seja absolutório, seja condenatório, sempre tem reflexos políticos, certo? Mas esses reflexos sempre ocorrem fora da corte de Justiça. Então, quando se condena, por exemplo, um ex-político de envergadura, alguém que teve um papel às vezes até respeitável dentro da vida política do país, inevitavelmente isso vai gerar reflexos dentro da política partidária”, afirmou.
Moro foi recebido entre aplausos e vaias pela plateia de cerca de 350 pessoas, na maioria estudantes, e minimizou a polarização entre ele e Cardozo. “Não dei nenhuma cotovelada nele. É uma tolice, como se não pudéssemos dividir um espaço e conversar.”
Já o ex-advogado geral aproveitou a ocasião para dizer que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe e afirmou: “Não adianta aplaudir quando o direito suprimido é de um adversário e vaiar quando é de um aliado.”
Luís Roberto Barroso
Mais cedo, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso também havia participado do evento. Ele declarou que a impunidade criou um país de “ricos delinquentes” e destacou a dificuldade do Judiciário em punir as classes mais altas. “A verdade é que um direito penal absolutamente incapaz de atingir qualquer pessoa que ganhe mais de cinco salários mínimos criou um país de ricos delinquentes, em que a corrupção passou a ser um meio de vida para muitos e um modo de fazer negócios para outros. Houve um pacto espúrio entre iniciativa privada e setor público para desviar esses recursos. E não é fácil desfazer esse pacto. Qualquer pessoa que esteja assistindo o que se passa no Brasil pode testemunhar”, afirmou Barroso.
O Brazil Forum UK vai até amanhã com o apoio da Sociedade Brasileira da Universidade Oxford e da Sociedade Brasileira da London School of Economics.
Policiais federais entram em “estado de greve”
Na contramão do Supremo Tribunal Federal, que julgou inconstitucional a paralisação de servidores das áreas relacionadas à segurança pública, policiais federais de todo país decidiram nesta quarta-feira entrar em “estado de greve”. A Fenapf, Federação Nacional dos Policiais Federais, atribui o movimento à contrariedade dos agentes federais com a reforma da Previdência.
Os policiais se opõem à reforma que Michel Temer considera prioritária porque o projeto elimina o critério de “atividade de risco” que lhes permite requerer a aposentadoria após 30 anos de tempo de serviço para os homens e 25 anos para as mulheres. “O governo está encontrando dificuldades para aprovar o texto em primeiro turno, junto aos congressistas”, disse Luís Boudens, presidente da Fenapf. “É hora de nos unirmos, esquecermos as diferenças e qualquer outra pauta divergente”.
Os agentes da Polícia Federal programaram para 18 de abril um ato simbólico de entrega das armas e dos coletes. A Câmara programou para esse dia a leitura do relatório final sobre o projeto de reforma da Previdência.
Ironia suprema: a decisão do Supremo que proibiu a greve de servidores da segurança foi tomada a partir de um voto do ministro Alexandre de Moraes. Logo ele que, antes de ser indicado por Temer para o Supremo, comandava o Ministério da Justiça, pasta de cujo organograma pende o Departamento de Polícia Federal.
Lula lança pré-candidatura à Presidência
Faltando um ano e sete meses para as eleições de 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará sua pré-candidatura à Presidência. O evento será dia 20, na sede do PT de São Paulo, e contará com a presença de artistas e intelectuais como Chico Buarque, Leonardo Boff e Aderbal Freire Filho. Dirigentes nacionais de partidos aliados, como PDT e PCdoB, também vão participar da cerimônia.
O objetivo dos petistas com tamanha antecedência é obter apoio popular e fortalecer — de certa forma até proteger — a imagem de Lula em meio à tormenta da Operação Lava Jato. A recente divulgação de pesquisas de intenção de voto, nas quais Lula aparece na liderança, animou a militância.
Antônio: “Arraes não endossaria Câmara”
Numa conversa, há pouco, com este blogueiro, o advogado Antônio Campos, que perdeu a eleição para a Prefeitura de Olinda, afirmou que se vivo fosse, o ex-governador Miguel Arraes não endossava o projeto de reeleição do governador Paulo Câmara. “O governo Paulo Câmara é um episódio na história da Frente Popular, que ainda vai ser melhor compreendido no futuro. É um governo de grupos não harmônicos, com poucos resultados e mal avaliado, um governador sem ânimo”, disse, para acrescentar: “Submeteu-se a alianças com forças adversárias históricas nossas, inclusive de Arraes, perdendo a hegemonia. Eduardo fez alianças, mas liderava a frente. Paulo Câmara é um chefe de recursos humanos, à procura de pagar uma folha de salários, aplicando a cartilha ortodoxa de um auditor de contas, de onde veio”. Veja a entrevista abaixo:
Você acha, com as últimas movimentações do governador Paulo Câmara, que ele conseguiu unir o arraesismo e o jarbismo sob o comando do eduardismo?
Arraes, em entrevista, disse: “Acho que o personalismo em política é um erro, nós devemos é lutar para que surjam quadros novos (…) A posição de chefe, em política, é um grave defeito, um grave erro”. Sou contra esses “ismos” e acho que Arraes não estaria nesse projeto, nem estão legitimados a usar o seu nome.
Qual o balanço que o senhor faz do período em que o PSB está à frente do governo de Pernambuco?
É preciso delimitar esse balanço no tempo. Acho que a Era Arraes foi a Era dos avanços sociais e das defesas democráticas. A Era Eduardo Campos foi a Era do desenvolvimento econômico, favorecida também pelo momento econômico e pela conjuntura à época do Brasil e internacional. Eduardo também deixou um belo legado na educação, mostrando o caminho da real transformação. A eleição de Paulo Câmara é um episódio da história da Frente Popular.
O PSB que governa o Estado atualmente é o mesmo PSB que governou Pernambuco com o ex-governador Eduardo Campos?
Não. O governo Paulo Câmara é um episódio na história da Frente Popular, que ainda vai ser melhor compreendido no futuro. É um governo de grupos não harmônicos, com poucos resultados e mal avaliado, um governador sem ânimo. Submeteu-se a alianças com forças adversárias históricas nossas, inclusive de Arraes, perdendo a hegemonia. Eduardo fez alianças, mas liderava a frente. Paulo Câmara é um chefe de recursos humanos, à procura de pagar uma folha de salários, aplicando a cartilha ortodoxa de um auditor de contas, de onde veio. É um projeto de poder e não de transformação política, discriminatório e sem um líder.
Na sua avaliação, em que áreas o PSB poderia ter avançado mais nesses últimos 10 anos?
Vejo com muita preocupação a saúde, que está, na prática, a sua gestão privatizada, com resultados insuficientes e pouco fiscalizada. A segurança pública teve um retrocesso e hoje vive um caos e isso, em grande parte, é o reflexo da falta de comando do governador, que não tem diálogo com a tropa, nem fez o monitoramento da segurança pública de forma eficaz nos últimos 2 anos. Uma maior atenção às vítimas da seca e o anúncio da possibilidade do Estado deixar os carros pipas apenas na mão do Exército é preocupante, não por demérito do Exército, mas o Estado deveria estar nessa força-tarefa também, pois há risco real das pessoas morrerem de sede no interior. A gestão da cultura no Estado tem mais perdas do que avanços.
A vereadora Marília Arraes afirmou, recentemente, que o epicentro da corrupção em Pernambuco está no PSB. O senhor concorda com essa afirmação?
A corrupção deve ser combatida onde estiver. Como presidente da Comissão de Ética Nacional do PSB, se chegar às minhas mãos uma representação fundamentada e com indícios, abrirei o processo, oportunizando o direito de defesa e julgarei no colegiado dando o meu voto de forma técnica e imparcial, doa a quem doer.
O senhor acha que o envolvimento do nome do partido em operações como a Turbulência e a Fair Play podem arranhar a imagem do PSB?
O PSB é um partido que tem 72 anos de história, que vem de João Mangabeira, Jamil Haddad, Antônio Houais, Miguel Arraes, entre outros. Possíveis nomes atingidos terão o direito de se defender, não devem ser pré-julgados, mas o partido é maior do que esses episódios, que devem ser apurados e esclarecidos.
O senhor recorda como era a estrutura do PSB antes de assumir o governo estadual com Eduardo Campos? O senhor já tinha ligação com o partido?
O PSB era um partido orgânico e com pensamento político sólido. O PSB precisa resgatar essa origem e se recriar. Sou filiado ao PSB desde quando Eduardo Campos foi candidato a prefeito do Recife, em 1992, portanto, há 25 anos. Fui advogado do partido e de vários filiados em diversas causas relevantes. Coordenei o jurídico de mais de 5 eleições majoritárias do PSB.
Como o senhor vê o PSB daqui a 10 anos no Estado?
Caso o partido tenha a capacidade de se renovar e ter um projeto político estratégico para uma nova esquerda no Brasil, será o partido do futuro. Caso fique nessas disputas de grupos sem pensar em um projeto político viável para o Brasil e para as eleições de 2018, ficará à margem da história.
Este ano tem eleição para as instâncias nacional, estadual e municipais do PSB. O senhor apoiará a reeleição de Carlos Siqueira e Sileno Guedes?
Apoio a recondução de Carlos Siqueira por ele ter conduzido a sua gestão com diálogo e de forma democrática. Acho que o PSB Estadual merece um novo presidente que oxigene a estrutura partidária.
Isto Posto…. Ferreira Gullar: TRADUZIR-SE!
Ontem ficou mais pobre o nosso Brasil. Não do vil metal surrupiado à surdina pelos sacripantas do Congresso Nacional, que armam e detonam diariamente “a bomba suja” da miséria, da opressão, da expropriação do fruto do trabalho de homens simples que escavam sucos dolorosos na terra com suas mãos toscas.
Mas, sim, ficou mais pobre da poesia brotada da dor do outro, da poesia feita por quem suporta o mundo, e tão somente traduzida pelo poeta que, ao espantar-se proclama “Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém: fundo sem fundo./ Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão”.
Ficamos sim, Brasil, mais pobre de poesia. Principalmente daquela poesia que jamais quis se apartar do mundo. E dos infortúnios da vida aflorava como alento, ao cantar sobre “usinas escuras, em que homens de vida amarga e dura produzem açúcar branco e puro com que adoçamos nosso café todas as manhãs”.
E ademais, uma parte do Brasil também morre com o poeta Ferreira Gullar, porque o próprio sentenciava com exatidão da licença poética “Se morro o universo se apaga como se apagam as coisas deste quarto se apago a lâmpada: os sapatos – da – ásia, as camisas e guerras na cadeira, o paletó -dos – andes, bilhões de quatrilhões de seres e de sóis morrem comigo”.
Assim, o país que dia a dia fica menor e mais triste pela indecisão em querer traduzir-se, amarga mais uma perda inestimável, de uma parte sua que era só vertigem, mas se traduzia na linguagem da poesia, a fim de fazer menos ásperas as imprevisibilidades da vida que nos espanta.
Isto posto, “A Arte existe, PORQUE a vida não Basta!”
Por: Adão Lima de Souza
OAB forma grupo para mudanças no foro privilegiado
O Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) constituiu grupo de trabalho para sugerir mudanças no foro especial por prerrogativa de função, o “foro privilegiado”.
Segundo o presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, o foro privilegiado precisa ser restrito a um número muito pequeno de pessoas que realmente precisem dessa proteção. Do jeito que está, com milhares de pessoas protegidas, os tribunais ficam sobrecarregados e não dão conta de julgar os privilegiados, possibilitando morosidade e impunidade.
O grupo de trabalho deve apontar as mudanças necessárias para que a OAB as formalize em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
De acordo com Lamachia, “o foro privilegiado é um tema relevantíssimo na sociedade brasileira, inclusive levantando diversos debates recentes, além de congestionar em muitos sentidos o sistema de Justiça”, afirmou.
O grupo de trabalho será formado pelos conselheiros federais Bruno Veloso (Paraíba), Ary Raghiant Neto (Mato Grosso do Sul), Valentina Jungmann Cintra (Goiás), Flávio Pansieri (Paraná) e Sílvio Carvalho Júnior (Pernambuco). Eles analisarão propostas legislativas em tramitação sobre o assunto e elaborar uma Proposta de Emenda à Constituição, que será votada posteriormente pelo Conselho Pleno.
Isto Posto… Rio 2016: Da abertura suntuosa ao espetáculo pobre da vida real!
A cidade do Rio de Janeiro, com o espetáculo suntuoso que patrocinou para os estrangeiros se deleitarem com efeitos especiais durante a abertura das Olimpíadas 2016, pretendeu convencer a todos que não é a mesma cidade, que desde a Copa de 2014, tem imposto ao povo mais pobre tenebroso e truculento ‘estado de exceção’, resultante de cotidianos abusos dos direitos humanos e da expropriação das singelas, porém incômodas, propriedades de gente humilde que o fazer político brasileiro colocou como empecilho do progresso e dos jogos da integração mundial.
Não bastassem a UPP, pensada para o propósito de manter o povo pobre trancafiado em suas comunidades paupérrimas, impondo ao trabalhador verdadeiro estado de sítio, com violência policial e desaparecimento sistemático de pessoas indefesas da comunidade que ousam questionar os métodos selvagem de abordagem nas favelas por contingentes armados, há ainda a retirada truculenta da população pobre dos casebres próximos aos locais dos Jogos Olímpicos, escondendo dos estrangeiros o espetáculo real da pobreza ante os pés do imponente cristo de “braços sempre abertos, mas sem proteger ninguém”. Contudo, não se deixou de assegurar oportunidades milionárias para satisfazer a ganância da especulação imobiliária comandada apenas pelos ricos.
Isto posto, prezados brasileiros, as belas faixadas expostas para encantar o olhar despreocupado do rico visitante estrangeiro não se presta apenas para negar a existência da pobreza e da desigualdade, mas, principalmente, como reveladora de uma cruel e assassina política higienista contra a população pobre que necessita dos bilhões gastos com Olimpíadas para a expansão dos transportes públicos, a melhoria da segurança, enfim, para a construção e manutenção de hospitais destinados a conceder à população carioca agonizante alguma sobrevida. Ou seja, no fim, a grande soma de dinheiro que deveria beneficiar o cidadão mais pobre fora, como sempre, produtora de angústia e desamparo ao negá-lo como pertencente à Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil! Porém, havia aquela voz que insistia: O Rio de Janeiro continua lindo!
Por: Adão Lima de Souza
PT diz em nota que não abandonou Dilma.
Embora dirigentes do PT duvidem das chances de o partido voltar ao Palácio do Planalto neste ano, o presidente do partido, Rui Falcão, divulgou nesta segunda-feira (1º) uma nota em que diz “repudiar” a ideia de que o partido teria abandonado a presidente afastada, Dilma Rousseff.
Na nota, publicada no site do partido, Falcão diz que o partido “reafirma seu compromisso integral na luta pelo retorno à Presidência da companheira Dilma”.
Apesar da manifestação pública, integrantes da cúpula do PT reconhecem “uma fadiga” para a defesa do mandato de Dilma.
Nas palavras de um deles, ninguém acredita numa mobilização capaz de levar Dilma de volta à Presidência, nem nas chances de vitória no Senado Federal. Nesta terça (2), o Senado retomará a análise do julgamento do impeachment, que deve começar a ser votado em plenário no dia 29 de agosto.
Dirigentes do partido ouvidos pela Folha afirmam que, se aprovado o afastamento definitivo de Dilma da Presidência, ela não deverá participar de campanhas eleitorais, dedicando-se à sua própria defesa
Austrália sobre Vila dos Atletas: “Quartos inabitáveis”
A Vila dos Atletas abriu neste domingo para ocupação dos apartamentos pelas delegações dos países que participarão da Olimpíada no Rio. Mas com problemas. A delegação da Austrália reclamou de que seus apartamentos apresentam defeitos nas instalações de gás, elétricas e hidráulicas. Os australianos criticaram as habitações da Vila, classificando os quartos como “inabitáveis”. Por conta desse cenário, eles resolveram adiar a ocupação de seus espaços na Vila.
– Nós não estamos sozinhos, os nossos amigos da Grã Bretanha, Nova Zelândia e outros estão experimentando os mesmos problemas em seus alojamentos. Era para termos nos mudado para a Vila desde o dia 21 de julho, mas nós estamos vivendo em hotéis próximos porque a Vila simplesmente não é segura nem está pronta – queixou-se, por escrito, Kitty Chiller, chefe da delegação australiana.