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Isto Posto… Aos saudosistas da Ditadura Militar
O resultado do pleito eleitoral de 2014, em que pese parecer para alguns que criara certa divisão no país, apenas serviu para reforçar entre partidários da situação e da oposição o recorrente pseudo antagonismo entre as duas forças políticas que desde 1994 tem protagonizado a disputa pelo poder com base no mesmo ideário da social democracia, distinguindo-se um do outro apenas pelo conservadorismo do PSDB frente ao populismo do PT, quando em verdade sempre tiveram o mesmo programa político, não causando estranheza alguma se no futuro se fundirem formando uma única legenda.
Porém, tal entendimento está longe dessa espécie de “eleitor-torcedor” que costuma encarar a corrida eleitoral como uma partida decisiva entre Flamengo e Vasco ou Corinthians e Palmeiras, cujo resultado serve apenas para evocar e enaltecer posicionamentos frívolos como estes veiculados nas redes sociais de manifestação preconceituosa contra determinado extrato social ou os inconsequentes apelos de retorno dos militares ao poder feitos por meia dúzia sacripantas saudosistas da era de assassínios e torturas praticados no regime ditatorial que assolou o Brasil de 1964 a 1985.
No entanto, como bem diz a palavra sacrossanta “perdoai-os, Deus, pois não sabem o dizem”. Estes que agora conclamam a volta de um regime de exceção, como foram os governos dos militares no Brasil, mantidos à custa do assassinato mediante a tortura de homens e mulheres que lutavam por democracia, enfim no total desrespeito aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, como direito a vida e a liberdade, certamente são herdeiros daqueles que lucraram com a crueldade, com o genocídio de cidadãos brasileiros, com os estupros de adolescentes grávidas, com a roubalheira desenfreada dos generais, ou então uma espécie nova de imbecis que se alimenta da sujeira política desse país.
Todavia, no Brasil até agora tais criminosos permanecem livres porque a covardia dos governos atuais – ex-guerrilheiros – protegidos pelo falso argumento de evitar o revanchismo não pune os responsáveis pelo terror imposto a nossa gente durante mais de duas décadas, tal como vem fazendo a vizinha Argentina, que revogou a Lei de Anistia e condenou por crime de Lesa-humanidade a súcia de canalhas que impuseram o terror e a morte ao povo argentino.
Isto posto, cínicos ou tolos que defendem um novo golpe militar, reflitam bem sobre a estupidez que apregoam, pois é preferível ter um jornalista desavisado chamando o povo nordestino de “bovino, conservador e ignorante” na televisão do que uma imprensa amordaçada, onde jornalistas sérios são obrigados a lerem notas oficiais com medo de serem presos ou assassinados. Onde pessoas queridas desaparecem sem deixar vestígios ou são trucidadas por manifestarem opiniões contrárias ao governo vigente.
Não precisamos ser defensores dessas democracias medíocres implantadas na América Latina, mas sim, atentarmos ao fato de que não será retrocedendo para uma ditadura sanguinolenta e cruel que fortaleceremos a nossa frágil cidadania.
Por: Adão Lima de Souza
A dignidade da pessoa humana e sua importância
O “Princípio da dignidade da pessoa humana” é um valor moral e espiritual inerente à pessoa, ou seja, todo ser humano é dotado desse preceito, e tal constitui o princípio máximo do estado democrático de direito.
Está elencado no rol de direitos fundamentais da Constituição Brasileira de 1988.
Ganhou a sua formulação clássica por Immanuel Kant, na “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” (título original em alemão: “Grundlegung zur Metaphysik der Sitten”, de 1785), que defendia que as pessoas deveriam ser tratadas como um fim em si mesmas, e não como um meio (objetos), e que assim formulou tal princípio: “No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade.”
O rol da dignidade humana é uma das questões mais frequentemente presentes nos debates bioéticos.
Ante a uma sociedade cuja desigualdade ainda é a marca; ante a um contexto de vida onde o capitalismo e outras ideologias alimentam o individualismo; ante aos reclamos da atualidade, em que valores e vidas são constantemente depredados, pondo em risco o próprio planeta, só resta a esperança de um projeto mais solidário para a raça humana.
Assim, propomos a reflexão a respeito do mundo, do estado de nossa humanidade, de que o mundo pode ser imaginado a partir da possibilidade de admitir o outro não como um alguém além de nós, mas o outro enquanto um “alguém em nós”.
A ação humana é capaz de orientar os caminhos da história e da existência individual e coletiva. Uma condição fundamental do ser humano é sua estrutura comunicativa e justamente por essa razão deve estar em constante processo de socialização.
Cabe aos operadores do Direito esse papel de transformação, utilizando a DIGINIDADE DA PESSOA HUMANA como HERMENÊUTICA, a partir da Constituição Federal, sempre objetivando a ampliação do princípio da solidariedade humana para além das fronteiras das palavras, reconhecendo que a civilização só evoluiu e evoluirá quando todos, juntos, pudermos assumir um projeto de vida que leve em consideração nossa essência: seres sociais que somos, a caminho de um mundo sempre melhor e todos em busca do maior direito de todos: O DIREITO À FELICIDADE.
Diogo Costa
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_dignidade_da_pessoa_humana
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigoid=7830
Isto Posto… Sobre Norte e Sul
O que resta de escolha a quem vive subjugado numa prisão sem muros senão optar entre a aflição do corpo e a servidão da consciência?
O Brasil precisa – e os novos tempos exigem – que os postulantes aos cargos republicanos como o de Presidente da República mantenham uma postura de respeito para com os representados, comportando-se de maneira civilizada, evitando deixar um legado de ódio após a campanha se se contentarem em seguir cegamente as ordens de marqueteiros inescrupulosos e deletérios que mediante o ganho de somas expressivas de dinheiro colocam palavras na boca dos candidatos, transformando-os em meros fantoches ludibriados pelo desejo insano de poder.
Então, depois de findo o processo eleitoral, com a vitória legítima e reconhecida nas urnas do governo sobre seu opositor, a fim de apaziguar os ânimos, ainda mais quando já bastante acirrados pela postura maniqueísta e irresponsável adotada durante a campanha, ao conduzirem a disputa como se fosse uma batalha campal do “bem contra o mal, de nós contra eles, dos pobres do norte contra os afortunados do sul”, é dever dos ex-candidatos Dilma e Aécio, pelos cargos que ocupam de presidente e senador da república, vir à público e juntos conclamarem à nação ao arrefecimento dos espíritos antes que tragédias maiores se concretizem, descambando para violência real os ataques verbais virulentos veiculados até então pelas redes sociais.
Pois, não se pode permitir que a disputa se prolongue com ataques desmedidos e impensados de uma parte da população contra a outra. Muito menos culpar aqueles que acreditando na viabilidade de certo projeto de governança se saíram vitoriosos nas urnas porque a proposta que abraçaram tivera mais votos em determinada região, se confirmando como proposta mais agregadora que a do adversário.
Assim, parece salutar à manutenção e fortalecimento da democracia, Dilma e Aécio convocarem urgentemente uma coletiva de imprensa para dizerem ao povo brasileiro que, encerrada a corrida eleitoral, o ódio político devem ser posto de lado e todos trabalharem pelo progresso do país, sendo de responsabilidade da presidente eleita a execução de suas promessas de campanha e do candidato vencido a fiscalização dos atos do governo.
Por: Adão Lima de Souza
Isto Posto: A velha cantilena dos corruptos e corruptores.
O eleitor brasileiro tem duas modalidades desportivas prediletas. A primeira é taxar de ladrão todo e qualquer político. A segunda é eleger todo e qualquer político ladrão. Desde a redemocratização que o tema da corrupção é recorrente nas campanhas eleitorais dos três poderes, nas três esferas federativas.
Já em 1989, quando a disputa era entre o Lula do PT e o Collor das elites o que mais se aventava eram os milhões desviados dos cofres públicos pelos malfeitores alocados nas entranhas da administração pública, enquanto hospitais e escolas viviam em petição de miséria.
Hoje, um quarto de século depois, ainda com hospitais e escolas vivendo em petição de miséria, sendo a disputa entre o PT do Lula e o PSDB das elites, o velho tema da roubalheira se afirma como mote principal das campanhas eleitorais, convidando o eleitor para uma partida amistosa do esporte que tanto lhe apraz.
Isso me faz rememorar tempos recentes no Senado Federal em que, do alto de sua importância de senador, o baiano Antônio Carlos Magalhães e o paraense Jader Barbalho, então atual e ex-presidente desta distinta e dispendiosa casa legislativa, elegantemente, um após o outro, pediam “vênia” e lascavam um “Vossa Excelência é um ladrão”, sendo retrucado com um “ladrão é Vossa Excelência” e, assim, minimizavam a recíproca falta de ética.
As eleições deste ano trouxeram para o centro do debate esse mesmo discurso amigável entre os candidatos, principalmente, os presidenciáveis que não se cansam de retribuir o carinho adversário com um “o seu partido também é corrupto”, numa mútua tentativa de relativizar o dever de probidade no trato do dinheiro do contribuinte.
Deste modo, mais uma vez caro eleitor, não se trata, assim como nunca se tratou no passado, de se escolher entre projetos de governança, entre avanço ou retrocesso nas conquistas sociais, mas sim, de nos submetermos ao capricho de políticos desonestos, sequiosos pelo poder a qualquer custo e pelo fácil locupletamento, usando como régua para mensurá-los não a retidão de caráter e, sim, o grau menor de reincidência no crime de “lesa-sociedade”.
E, por parte desta tragédia moral, nós eleitores devemos nos proclamar culpados. Porque – é preciso reiterar – pior que um rei corrupto e perverso é o súdito que o idolatra e o apoia. Tal como temos feito ao votar em políticos sabidamente corruptos. O que torna claro que não há vítimas, mas sim, cúmplices.
É inegável que em qualquer sociedade há corruptos e homens probos. O que é inaceitável é que nunca haja punição adequada para os desvios de caráter e quebra de confiança por parte de quem foi escolhido para gerir os interesses sociais. Ainda que a reprimenda seja simplesmente o dizer não por meio do ato de votar, mandando para o ostracismo aqueles que infringiram os imperativos éticos, já que nossas frágeis instituições são ainda capitanias hereditárias.
Isto posto, como dizia Sun Tzu “o verdadeiro método, quando se tem pessoas sob as nossas ordens, consiste em utilizar o avaro e o tolo, o sábio e o corajoso, dando a cada um a responsabilidade adequada.
Então caro eleitor “inocente”, que tal aprender uma modalidade desportiva nova como, por exemplo, cobrar decência a quem lhe conquistou um voto de confiança.
Adão Lima de Souza
Isto Posto… Quem dará nome aos bois?
Estamos a poucos dias da eleição que definirá quem governará o país pelos próximos quatro anos e ninguém se deu conta ainda de qual projeto goza de sua preferência enquanto eleitor, melhor, enquanto cidadão diretamente afetado pelas decisões provenientes de Brasília. Decisões estas, quase sempre tomadas sob o calor das discursões vazias e a efervescência costumeira dos estratagemas de corrupção.
E isso, não resta dúvida, é consequência do inescrupuloso partidarismo que toma de assalto o eleitor brasileiro, em tempos de campanhas emocionantes e promessas renovadas de gentis candidatos que sorriem para nós e nos abraça afetuosamente falso, desviando-nos de fazer a mais importante pergunta, que assim poderia ser formulada:
Em quais projetos de governança estamos votando?
A resposta a tal questionamento seria, paradoxalmente, a pergunta: há projetos nos quais se votar? Ou nosso papel como eleitor jamais poderia ir além da adversidade entre essa ou aquela predileção por um ou outro candidato que mais ou menos consiga dizer aquilo que gostamos de ouvir, “que tudo mais mudar e agente será mais feliz inventando um lugar”, como um compositor baiano nos dissera certa vez, quando afirmava que “tudo era divino, tudo era maravilhoso”.
Então exercitemos a coragem! Façamos a indispensável pergunta sobre qual projeto escolher para ser por ele conduzido nosso destino nos anos vindouros. Analisemos, portanto, os três esboços grosseiros e grotescos postos a nossa disposição; o projeto Aécio, o projeto Marina e projeto Dilma, não necessariamente nessa ordem.
Em comum, todos sinalizam com uma mudança urgente e necessária. Falam de escola em tempo integral quando o que o país precisa é de educação integral; prometem melhorias na saúde, transporte, mobilidade urbana, enquanto recebem gordas contribuições às suas campanhas advindas dos empresários que se locupletaram à custa do sucateamento de hospitais e do transporte público em geral; alardeiam soluções mágicas para o setor de segurança partindo, ambos, do ponto equivocado de que segurança pública é caso de polícia; conclamam, por fim, a necessidade de eficientes mecanismos de combate à corrupção ao mesmo tempo em que mendiga o apoio político de notórios ladrões.
Assim sendo, quais são os projetos que temos a escolher?
O projeto Dilma é sustentado por um programa televisivo que mais parece cena do filme Matrix, mostrando um Brasil artificial, virtual, em detrimento do Brasil real que tem pessoas morrendo em macas fétidas de hospitais imundos, que tem trabalhadores disputando a cotoveladas uma vaga num ônibus ou metrô de qualquer uma das capitais, se quiser voltar para casa depois de sua jornada de trabalho, que tem uma polícia extremamente violenta torturando, matando ou fazendo desaparecer pessoas como o pedreiro Amarildo. Isso tudo num país onde, segundo o mesmo IBGE que só erra quando a verdade incomoda, mais de 60% dos cidadãos tem menos de cinco anos de escolaridade e outras 50 mil pessoas são assassinadas por ano.
Quanto ao projeto Aécio, este quer se valer de um discurso que não alcança ninguém. Não alcança a classe média nem a classe miserável que as estatísticas oficiais tentam esconder. Envelhecido, o discurso dele peca por se arrimar em diretrizes já experimentadas em governos passados, por conseguinte, também esgotado como o atual modelo de governo petista. Para Aécio só restaria o acolhimento da classe alta. Todavia, este segmento social está pouco se lixando para discursos, pois nesses estratos sociais ideologias se medem em dólar.
Por último, o projeto Marina, cuja proposta seria de uma “Nova Política contra o Pacto Mofado”, como definira seu antecessor Eduardo Campos. Entretanto, o que se vê é tanta rasura em seu esboço de governança que mesmo antes de findar já estar cheirando a mofo.
Resta, por fim, o não citado projeto PMDB, partido do qual tanto Aécio como Marina, a exemplo de Dilma, serão reféns, reafirmando a tese irrefutável de que as relações institucionais no Brasil se dão mediante chantagens.
Isto posto, caro eleitor, só lhe restará a ressaca no dia seguinte à votação e uma dor de cabeça que se prolongará por quatro anos, sem que o projeto escolhido por você lhe sirva de aspirina para sua enxaqueca moral.
Por: Adão Lima de Souza
ELEIÇÕES: Os princípios, os fins, os meios
Princípios? Deixa pra lá. Beto Albuquerque, ligado ao agronegócio, é vice de Marina, que prefere a floresta como ela é. E ambos estão no Partido Socialista de Paulo Bornhausen, da mais tradicional oligarquia catarinense, para quem até há pouco a palavra “socialista” era usada apenas como xingamento.
Dilma, que considera Fidel Castro um personagem quase tão importante quanto Lula, que foi presa e torturada pela ditadura, está aliada a José Sarney, que foi presidente do partido de apoio à ditadura e que só tem em comum com Fidel Castro a predileção por um tipo de roupa – a farda, até há algum tempo, para um; o fardão, até hoje, para outro.
Aécio, o pragmático, que herdou do avô Tancredo a aversão às ideologias, tem como vice um ex-guerrilheiro comunista, ligado a seu adversário Serra – de quem agora gosta, mas preferiria bem-passado e com maçã na boca.
Há três bons motivos pelos quais os candidatos esquecem seus princípios: primeiro, porque nunca foram assim tão radicais; segundo, porque os fins a que se propõem (defesa do bem e combate ao mal, apoio à saúde e rejeição à doença, e outras platitudes) são tão importantes para o país que os princípios, tadinhos, têm de ser flexibilizados.
O terceiro motivo é o mais importante: para fazer campanha à vontade, gastando o que for preciso, é necessário obter os meios. Pela abundância de meios, políticos fazem boi voar e passarinho devorar o gato. Para eles, fora do poder não há salvação (embora sempre deem um jeito de salvar-se).
Para nós, cidadãos, estando eles dentro ou fora do poder, salvação não haverá.
Fonte: Escrito por Magno Martins no seu blog.
Ex-detenta ganha processo por parto com algemas
“Na reportagem Maternidade Condenada” a Agência de Reportagem e Jornalismo, A Pública, exibe a matéria em que a Justiça condena o Estado de São Paulo a pagar indenização a uma ex-detenta obrigada a dar à luz algemada pelos pés e pelas mãos em setembro de 2011.
Ainda cabe recurso, mas a decisão deve ter desdobramentos já que muitas mulheres sofreram a mesma violação de direitos como destaca o juiz na sentença:
“(…) apurou-se que até a edição do decreto n. 57.783/2012 era usual o uso de algemas nas custodiadas durante o trabalho de parto” e que são “inegáveis, por outro lado, as sensações negativas de humilhação, aflição e desconforto, entre outras, a que foi submetida a autora diante da cruel, desumana e degradante manutenção de algemas durante seu trabalho de parto. São danos morais indenizáveis e guardam nexo com a ação estatal, de modo que avulta o dever de ressarcimento almejado”
O caso é reflexo do cotidiano desrespeito aos Direitos Fundamentais cometido pelo Estado brasileiro em todos os entes federativos.
Diogo Costa
Hora do luto, não de luta
A proposição foi do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) na noite do fatídico 13 de agosto ao fim do depoimento ao jornalista Alexandre Garcia (Globo News): “Momento de perplexidade. Talvez seja o momento do luto, mais do que o momento de luta”. Entrevistado e entrevistador igualmente tocados no anfiteatro midiático, onde tragédias são geralmente compactadas e raramente desenroladas em toda a sua extensão.
O senador pernambucano, engenheiro e economista, não se deixou limitar pela rígida segmentação contemporânea onde ciências exatas e humanidades colocam-se obrigatoriamente como antípodas. Seu empenho na causa da educação é prova disso, seu abatimento pela morte de candidato Eduardo Campos, o jovem estadista conterrâneo, é indício de que a sensibilidade não é patrimônio exclusivo de artistas e poetas.
Hora de luto não significa que a hora é das carpideiras e rituais fúnebres. Luto não é apenas o vestido negro, o crepe preto na manga, na lapela ou os espelhos encobertos, luto é abrir-se ao sentimento de perda, entregar-se à consternação, acabrunhar-se. Com ou sem lágrimas.
Alguém nos impôs maliciosamente o estigma de festeiros e o aceitamos prazerosamente. Com uma dose maior de temperança ficaríamos menos vulneráveis às euforias. Escapulimos obsessivamente da dor como se fosse nociva, letal, contagiosa, sem perceber que através dela conseguimos discernir o outro, a alteridade, a solidariedade, o alívio e a esperança.
A compulsiva fuga à dor, não se dá unicamente neste nosso rincão exuberante, mas em todos os quadrantes de um mundo empurrado para altas velocidades, obcecado por ponteiros de relógios, velocímetros e, principalmente, medidores de escala, volume, quantidades. Insones ou sonâmbulos, drogados ou excitados, aderimos ao espetáculo. Sem questionamentos.
Na terça-feira lamentava-se a morte do ator norte-americano Robin Williams, o poeta-quixote, ícone de mestres e alunos; na quarta, fustigados por repentina e gélida rajada de vento, flagramos sem cliques nem câmeras, a olho nu, a Parca em plena faina de ceifar vidas. Uma delas do jovem príncipe que prometia mudar o país.
Os fados são inconstantes, fugazes, abominam rígidos scripts, preferem improvisar. Hora do luto: o frêmito que no ano passado percorreu as ruas e armou uma fascinante disputa tripartite perdeu um dos protagonistas. Gerará outro (certamente outra), mas a perda não pode ser desperdiçada ou desaproveitada.
O sentimento trágico da existência não enfraquece o ânimo, ao contrário, aumenta a resistência, reforça a resiliência. Imperioso importar-se, perceber a fragilidade dos desígnios, a precariedade das vontades, o ar ressequido, o mar encrespado, o efêmero da felicidade e as dores de mundo para as quais ainda não se inventaram analgésicos.
Do luto interior, do encontro com a dor do outro, o momento seguinte virá forçosamente depurado, engrandecido. Depois do luto verdadeiro, a luta virá nobilitada.
Alberto Dines, colunista do EL País.
“A morte trágica de Campos fortalece a gana de mudança do eleitor”, diz socióloga.
A morte de Campos pode ter um alcance maior do que se supõe para o eleitor brasileiro, acredita a socióloga Fátima Pacheco Jordão. “A morte trágica de Campos reduz a distância entre a sociedade e a classe política”, avalia ela, que é diretora da D’Fatto pesquisa em Jornalismo. A última mensagem do presidenciável, numa entrevista ao Jornal Nacional, da rede Globo, um dia antes, “Não desistam do Brasil”, poderia ter um efeito importante para a juventude brasileira que anda tão refratária à política. “A ideia de renovação está escrita na sociedade. É uma mensagem que Eduardo Campos encampou”, afirma. A sua morte, explica, fortalece a gana de mudança do eleitor.
Pergunta. O que dá para concluir de uma tragédia tão inesperada que tirou a vida de um candidato na corrida eleitoral para a presidência?
Resposta. Esse trágico acontecimento pode vir a deixar um legado positivo. Eduardo Campos era alguém que nunca se meteu em escândalos nacionais, casado, tinha cinco filhos, toda uma configuração de um bom sujeito. Para um eleitorado que andava tão indiferente, ficou muito gravada a última fala dele em sua entrevista para o Jornal Nacional. “Não desistam do Brasil”, algo que pode ter um efeito importante para mobilizar os jovens.
P. Mas a ponto de mexer com as intenções de votos já anunciadas?
R. A campanha andava fria, com um patamar de brancos e nulos num padrão razoável. E no qual 65% dos eleitores não tinham candidato quando os pesquisadores pediam para que citassem espontaneamente em quem iam votar, ou seja, sem ajuda de uma lista de nomes para escolher. Outras perguntas feitas ao eleitor também são relevantes. Quando se questiona se a sua intenção é certa, provável ou nunca votaria naquele candidato, você percebe que cada eleitor tem praticamente dois candidatos em mente. Ou seja, neste estágio, o eleitor tem mais de uma opção de voto. A classe política ainda não captou que a sociedade busca um novo modo de fazer política.
P. Está claro o que o brasileiro está pedindo?
R. A sociedade tem demandado isso há muito tempo. São muitos os indicadores de mudança, de rejeição à política e aos políticos. Ao menos 60% das pessoas repudiam os partidos. Portanto, essa ideia de renovação está escrita na sociedade. É uma mensagem da sociedade que Eduardo Campos encampou. Isso não impede que num momento de transição, Aécio Neves ou a própria Dilma, reforcem essa linha. Não é só renovação de governo, é de cultura política. Associar a dinâmica de fazer política, com governança. Confiou-se sempre na liderança pessoal na política brasileira. Isso está ganhando uma nova configuração, a partir do ano passado, com as pessoas exigindo mais da política, nas manifestações de junho. Tenho a impressão que isso não morre com o Eduardo. A Dilma já havia colocado há muito tempo, e o próprio PSDB na década de 90 veio com essa formulação. O conseguir ou não conseguir, tem a ver com a disposição do eleitorado que hoje está mais claramente enxergando essa perspectiva.
P. Marina é a candidata natural da coligação em torno do PSB agora?
R. Sim, é a candidata natural, e o PSB não tem outra saída. Não há nenhuma figura representativa que possa captar esses votos de Campos. Há várias lideranças dentro do partido que rejeitaram por muito tempo a candidatura do Campos e a aliança com Marina. Mas o sinal mais importante veio do irmão dele. A rigor, neste momento, sem nenhuma articulação política, planejamento, etc, a família é a única que pode se manifestar. Antonio representa a família, não partidária, e isso é muito forte. Campos tinha uma mãe combativa (Ana Arraes), com um cargo importante no Tribunal de Contas da União, tem uma família bem constituída, ele tem uma base familiar muito importante. Então, tenho a impressão que essa manifestação do irmão é uma sinalização muito forte, até para a Marina aceitar.
P. Ela estaria confortável?
R. Ela sabe dos limites dela dentro do próprio partido. Mas por essa indicação [a carta de Antonio Campos ao PSB], certamente o irmão conversou com a Marina. Nesse período ela se aproximou muito da família, especialmente da mulher dele [a viúva Renata]. Quando ela se manifestou depois da morte de Campos, a fala dela de pêsames, foi exclusivamente para a família. Eu interpreto não só que eleitoralmente é lógico, mas também que se ganhou um novo indicador que facilita para os dois lados. Facilita para o partido, e para a escolha da Marina.
P. Nem Dilma nem Aécio conseguem representar a vontade de mudança esperada pelo eleitorado?
R. Não representam. Dilma já tentou ser mais “gerente”, fazer faxina [da corrupção]. Dilma tentou captar, não conseguiu, mas introduziu essa questão. Ela tem forte rejeição, mas tem uma noção muito consistente. Cerca de 40% de intenção de votos, nos últimos meses, com todas as crises. Mantém esse patamar. Mas tanto Aécio, quanto Campos, captavam sim esse anseio. Não era tanto por mérito próprio, eram alternativas. Aécio, porém, não conseguiu introduzir na sua postura essas respostas.
P. Mas e esse vazio agora?
R. Neste momento houve um casamento. Há a conjunção de um desejo da sociedade e a comoção [com a morte de Campos] e conteúdo de elogios direcionados a ele, mostra que existe sim essa saída. Depende também cobrar esta direção. Quando a população reclama que a saúde não funciona. Ela ainda não está associando uma saída política em que os políticos possam dar, essa de gestão. É uma demanda que se avance para a governança.
P. Esta campanha já era curta com a Copa e agora entramos em inércia com a morte de Campos, não?
R. Será? Nunca foi tão quente como nas últimas 48 horas. Quando a Marina falar, seja como candidata ou não, ela enfatizará essa nova ideal da candidatura de Campos. E que provavelmente será a dela. Mas será inescapável que Dilma e Aécio também passem essa mensagem. Certamente os primeiros programas, tanto de Dilma como de Aécio, terão esse conteúdo. Agora, os políticos perceberam o que nós, pesquisadores, percebemos há muito tempo. Uma demanda que vai além das propostas dos partidos até o momento.
P. A Marina tem essa resposta à sociedade?
R. Sem dúvida. Vários tiveram, [o ex-governador de São Paulo] Mario Covas teve, [o ex-deputado do PMDB] Ulisses Guimarães teve, e Marina tem. O próprio Fernando Henrique Cardoso teve. Buscar uma mudança no modo de fazer política. De certa maneira Lula e Dilma reforçaram a maneira antiga de fazer política. Um aspecto do populismo, um mito, o Governo Bolsa Família. É uma tradição brasileira esse registro populista, que vem até a Dilma. No entanto, a sociedade está além disso. Nunca pensamos a sociedade na frente [da classe política], mas ela está. Assim como em meio ambiente, em comportamentos sexuais, direitos reprodutivos. Isso não emerge do nada. Não está na pauta de nenhum partido e são questões que estão pululando na sociedade. Direitos das mulheres, por exemplo, você não vê isso em nenhum partido. Há uma indiferença.
P. São dois mundos?
R. É um colapso, entre o que tem este sistema arcaico, e a sociedade, que tem uma rede de informações enorme. Este episódio trágico pode levar a um fechamento desse gap entre a sociedade e a classe política. Ele fortalece a gana de mudança. A população vai entender que havia e há expressões políticas que querem essa demanda e quais partidos não tinham introduzido. Toda a comunicação de Aécio e de Dilma, certamente, está sendo repensada.
P. A eleição está muito sujeita a mudanças até outubro?
R. Dado esse descompasso da classe política, haverá outros trancos no processo. Isso fica escancarado. Campos pode ter falado uma linguagem, com a sua morte, que a população entenda como ação de mudança. Isso vai mudar os candidatos atuais. Não é que a esquerda será a direita, mas haverá mais peso da voz da sociedade na sua programação política. Ate o momento os candidatos tiveram de ficar em plano interno de defesa de candidatura diante de inimigos internos, fogo amigo, racha entre o movimento “volta Lula” e Dilma dentro PT, os que queriam (José) Serra e Aécio, no PSDB. Agora estão tendo que unir trincheiras diferentes. Eu diria mais. Em termos de Brasil não é nem justificável o que separa Campos de Dilma, ou Lula de Fernando Henrique, quando se pensa o Brasil. Tenho a impressão que essa tragédia pode ajudar a focar melhor isso.
P. A Marina, se assumir a candidatura, pode vencer?
R. Muito difícil prever. Nenhum dos três presidenciáveis que estão na frente tem uma consistência total. Eles têm de fato um bloco de eleitores que permite sua eleição. Mas não tem a situação política. Dilma tem tudo isso, mas não consegue mostrar que a continuidade é o ideal. Terá de se basear em outros argumentos. E o Aécio, que poderia ter essas características, de mostrar novos caminhos, não consegue falar com a sociedade.
Fonte: EL País.
EDUARDO CAMPOS: A morte precoce da possível terceira via
O ex-governador Eduardo Campos fará falta ao processo eleitoral brasileiro, mormente a corrida presidencial em outubro, não somente por sua habilidade política forjada na companhia do saudoso Miguel Arraes, mas principalmente porque ele simbolizava, acenando já agora para a inevitável chegada de uma nova geração de brasileiros assumindo funções de poder, como uma possível terceira via capaz de desalojar do poder os velhos mandatários da política nacional.
Desse modo, poderia representar, embora o seu discurso de uma Política Nova contra o Pacto Mofado carecesse ainda de maior vigor e atitudes condizentes, o anseio de uma geração de brasileiros cujo destino se desprende de velhos caciques políticos contrários ou favoráveis ao regime ditatorial militar para sinalizar um lento, porém perceptível, alinhamento com os ditames da constituição de 1988, em que a consciência da cidadania pareça se afigurar como uma incipiente luz a tremeluzir no fim do túnel do desmando e desprezo pelos valores republicanos.
Ao analisarmos os discursos de candidatos como Dilma, fortemente inspirado no seu preceptor e patrono político Lula, bem como Aécio Neves, apesar da idade próxima a Eduardo, constataremos que a vertente principal de seus projetos de governo se respaldam numa conduta fundamentalmente influenciada por atores cuja relevância está intimamente ligada às ideologias acolhidas ou abominadas pelos personagens do período de exceção, ora se posicionando como vítima, ora reivindicando a herança de seus predecessores.
No caso específico de Eduardo Campos, não se abstendo, é claro, de trazer à tona as circunstâncias que o aproximava dos citados candidatos, haja vista sua participação nos governos e a inegável influência de Miguel Arraes, ele poderia vir a ser a primeira manifestação de que a geração que aí está precisa, o mais breve possível, ser defenestrada para ceder espaço a uma consciência onde a cidadania seja a bússola que dirigirá as ações do Estado.
Agora, resta-nos o pesar pela tragédia e as condolências aos familiares e amigos.
Por: Adão Lima de Souza