Tag Archives: Brasil
Delfim: “A Dilma é simplesmente uma trapalhona”
Em entrevista à repórter Eliane Cantanhêde, veiculada no Estadão, o ex-ministro e ex-deputado federal Delfim Netto, 87, emitiu opiniões corrosivas sobre Dilma Rousseff. Admitiu ter votado nela. Mas disse que não repetiria o gesto. Considera a presidente “absolutamente honesta”. Mas fulmina o mito da gerentona: “… Ela é simplesmente uma trapalhona.”
Delfim referiu-se à decisão do governo de enviar ao Congresso um orçamento deficitário para 2016 como “a maior barbeiragem política e econômica da história recente do Brasil”. Vão abaixo algumas das declarações do economista:
— Dilma X Ex-Dilma: […] As pessoas sabem que a presidente é uma mulher com espírito muito forte, com vontades muito duras, e ela nunca explicou porque ela deu aquela conversão na estrada de Damasco. Ela deveria ter ido à televisão, já no primeiro momento, e dizer: “Errei. Achei que o modelo que nós tínhamos ia dar certo e não deu”. Mas, não. Ela mudou sem avisar e sem explicar nada para ninguém. Como confiar?
— Direção do vento: Ela mudou um programa econômico extremamente defeituoso, que foi usado para se reeleger. Em 2011, a Dilma fez um ajuste importante, aprovou a previdência do funcionalismo público, o PIB cresceu praticamente no nível do Lula. Mas o vento que era de cauda e que ajudou muito o Lula tinha mudado e virado um vento de frente. […] Então, ela foi confrontada em 2012 com essa mudança e com a expectativa de que a inflação ia aumentar e o crescimento ia diminuir e ela alterou tudo. Passou para uma política voluntarista, intervencionista, foi pondo a mão numa coisa, noutra, noutra, noutra… Aquilo tudo foi minando a confiança do mundo empresarial e, de 2012 a 2014, o crescimento vai diminuindo, murchando.
— Efeito urna: A tragédia, na verdade, foi 2014, porque ela [Dilma] usou um axioma da política, que diz que ‘o primeiro dever do poder é continuar poder’. No momento em que ela assumiu isso, ela passou a insistir nos seus equívocos. Aliás, contra o seu ministro da Fazenda, o Guido Mantega, que tinha preparado a mudança, tanto que as primeiras medidas anunciadas pelo Joaquim Levy já estavam prontas, tinham sido feitas pelo Guido. […] O Guido não tem culpa nenhuma. E, para falar a verdade, nenhum ministro da Fazenda da Dilma tem culpa nenhuma, porque o ministro da Fazenda é a Dilma, é ela. E o custo da eleição é o grande desequilíbrio de 2014.
— Déficit de credibilidade: Como a credibilidade do governo é muito baixa, o ajuste que ele [Joaquim Levy] fez encontrou muitas dificuldades, não teve sucesso porque não foi possível dizer que o ajuste era simplesmente uma ponte.
— Barbeiragem histórica: O primeiro equívoco mortal foi encaminhar para o Congresso uma proposta de Orçamento com déficit. Foi a maior barbeiragem política e econômica da história recente do Brasil. A interpretação do mercado foi a seguinte: o governo jogou a toalha, abriu mão de sua responsabilidade, é impotente, então, seja o que Deus quiser, o Congresso que se vire aí.
— Governo Frankenstein: A briga interna ocorre em qualquer governo, mas o presidente tem de ter uma coisa muito clara: ele opta por um e manda o outro embora. Um governo não pode ter dentro de si essas contradições, senão vira um Frankenstein. […] Quem tem de sair [Levy, Nelson Barbosa ou Aloizio Mercadante?] é problema da Dilma, mas quem assessorou isso do Orçamento com déficit levou o governo a uma decisão extremamente perigosa e desmoralizadora. E isso produziu um efeito devastador.
— Corte na carne dos outros: O aumento da Cide seria infinitamente melhor. CPMF é um imposto cumulativo, regressivo, inflacionário, tem efeito negativo sobre o crescimento e quem paga é o pobre mesmo. Ele está sendo usado porque o programa do governo é uma fraude, um truque, uma decepção – não tem corte nenhum, só substituição de uma despesa por outra e o que parece corte é verba cortada do outro. Dizem que vão usar a verba do sistema S. Ora, meu Deus do céu! R$ 1 do sistema S produz infinitamente mais do que R$ 1 na mão do governo. Alguém duvida de que o governo é ineficiente?
— Cobra mordendo o rabo: Eles vão ter de negociar [o pacote fiscal] com a CUT e com o PT, que é o verdadeiro sindicato do funcionalismo público. Então, é quase inconcebível e vai ter uma greve geral que vai reduzir ainda mais a receita. É uma cobra que mordeu o rabo. O aumento de imposto é 55% do programa; o corte, se você acreditar que há corte, é de 19%; e a substituição interna representa 26%. Ou seja, para cada real que o governo finge que vai economizar com salários, ele quer receber R$ 3 com as transferências e o aumento de imposto. No fundo, o esforço é nulo.
— Em quem votou? Na Dilma. Mas acho que o Aécio era perfeitamente ‘servível’. Teria as mesmas dificuldades que a Dilma enfrenta, porque consertar esse negócio que está aí não é uma coisa simples para ninguém, mas ele entraria com outra concepção de mundo, faria um ajuste com muito menos custo e a recuperação do crescimento teria sido muito mais rápida.
— Votaria de novo? Não, primeiro porque ela não pode ser candidata. É preciso dizer que eu acho a Dilma absolutamente honesta, com absoluta honestidade de propósito, e que ela é simplesmente uma trapalhona.
— Michel Temer seguraria o rojão? Acho que sim. Nós somos muito amigos. O Temer tem qualidades, é uma pessoa extraordinária, um gentleman e um sujeito ponderado, tem tudo, mas eu refugo essa hipótese enquanto não houver provas [contra Dilma], e vou te dizer: ele também.
Em menos de 24 horas, 350 mil apoiam impeachment em abaixo-assinado na web
Criado na manhã desta quinta-feira pelos defensores da interrupção do mandato de Dilma Rousseff na Câmara, o site do movimento suprapartidário pró-impeachment revelou um inusitado potencial para tornar-se fonte de constrangimento para a presidente. Em menos de 24 horas, mais de 350 mil brasileiros subscreveram um abaixo-assinado eletrônica em favor do afastamento de Dilma do cargo. O problema é que a lista revela-se suscetível a fraudes.
Às 6h15 desta sexta-feira, 350.037 pessoas haviam aderido à peça. O número supera largamente a expectativa dos antagonistas de Dilma. Os organizadores do site esperavam para essa fase inicial algo como 100 mil subscrições.
Pesquisa Datafolha veiculada em 8 de agosto revelou que 66% dos brasileiros gostariam que a Câmara abrisse processo de impeachment contra Dilma. Um sinal de que o abaixo-assinado poderia crescer como massa de pão mesmo sem a possibilidade de duplicidade de assinaturas ou uso de dados de terceiros. A oposição perdeu a oportunidade de produzir um ponto de referência na web.
O jurista e a teoria do medalhão
“Um certo humor na linguagem – conclui Jacques Maritain – é precisamente o sinal do maior respeito pela seriedade da matéria sobre a qual se escreve.” (Alfredo Augusto Becker, Carnaval tributário)
Em seu conto “Teoria do medalhão”, Machado de Assis mostra-nos o maior atributo que serve de arrimo a esta grande instituição, chamada Brasil. Ao ironizar e fazer transparecer toda a nossa mesquinhez, o seu texto passou a servir de doutrina aos incansáveis, nesta luta da eterna busca pelo “dar-se bem”. O jurista, sagaz como ninguém, fez da teoria do medalhão um excerto bíblico, onde se encontra o socorro necessário a todos os dias – em oração, antes do sono em berço quase esplêndido.
Qual a personagem, o desejo mor, do jurista, é fazer-se grande e ilustre, de modo a poder se enxergar numa posição acima daqueles que, como diz um desses juristas, fazem parte da “patuleia”. Ele (o jurista) sabe que a vida é uma loteria cujos prêmios, ínfimos que são, não alcançam a todos e que, exatamente por isso, é necessário correr, empurrar, criar óbices para os demais que se aventuram nesta “grande empreitada”. “O importante é lograr”, diz o jurista fustigado. Para tanto, faz-se imprescindível, seguindo o conselho do mestre, pôr rédea nos próprios arroubos a fim de evitar um grande disparate: a sinceridade. É importante atentar ao “regime do aprumo e do compasso”, que virá com o correr dos dias. Ora, a faculdade de direito, não podemos negar, cumpre, satisfatoriamente, com o seu “papel social”. É ela- mais do que ninguém – que faz do jurista um ser frouxo, lasso e obediente. É ela, outrossim, quem não mensura esforços em sua impraticável tarefa de nos apresentar a todos os medos do mundo; assim, é que nos paralisa: “caríssimos, fiquem atentos! Prestem atenção no que fazem e no que pensam em fazer, pois, quando da aprovação num ‘grande concurso’, eles irão investigar as suas vidas pregressas. Sejam dóceis e direcionem suas práticas cotidianas às obrigações compensatórias”.
Contrariando a constatação da personagem, dentro do mundo jurídico, a bem da verdade, não há data normal do fenômeno. Em qualquer idade é possível tornar-se medalhão. O requisito precípuo, neste caso, é a capacidade de observação do interessado. Uma pitada de esperteza, outra de “tapinha nas costas” e, principalmente, desembaraço em termos de chaleirismo – é tudo quanto basta. Não há dificuldade, pois. Conquanto à facilidade apresentada é necessário, igualmente, insistência, de modo a se fazer percebido pelos responsáveis do “setor de carta de recomendação” – fiquem atentos neles! Isto, queremos dizer, se a família ainda não possuir um medalhão, posto que, sabemos, se tem uma coisa que, entre nós, é hereditário, esta coisa é o privilégio. Mas, como no tempo da bancarrota da corte portuguesa, resta a possibilidade de comprar títulos – podemos ser “barões”, vejam só. Como percebeu Graciliano Ramos, sempre haverá o “nobre arranjado à pressa”.
Igualmente, para fazer-se notável, é indispensável o devido cuidado com as ideias; ou melhor, o mais acertado, como pontua a personagem, é não as ter absolutamente. Como na charge de André Dahmer, seremos questionados: “pensando durante o serviço, Pablo?”. Mais vale uma inópia mental, um psitacismo que não questiona o firmado e estabelecido diante das carnes que jorram sangue. Destarte, a curiosidade será óbice ao candidato: para que querer saber sobre os porquês! O sedento ao patamar de medalhão deve conservar, dentro de si, um inexorável “sim, eu devo”, ao invés de um “eu quero”. Porque, meus amigos, para tornar-se medalhão é preciso lembrar das três metamorfoses do espírito, de Nietzsche – o mundo jurídico, afinal, é o dragão de nome tu deves. E, quando da resposta, o que possui este “grande desiderato” deverá assentir: “sim, eu devo”. Lado outro, quem, por almejar a vitória diante de tal dragão, cair no desatino de responder “eu quero!”, ficará impossibilitado de adentrar ao “reino dos holofotes”. Querer, caríssimo, é atributo de quem tem vontade, pulso, escolha, e, para ser um honrado medalhão, não há outro caminho senão o da anulação de si próprio: é preciso lograr o título de “medalhão completo”. Renuncia a ti mesmo, vós que quereis notoriedade! Esqueçam, pois, Bartleby – personagem de Herman Melville -, ao medalhão não é dado “preferir”, posto que “preferir” é palavra de contraordem, onde a vontade sobrepuja o comando.
Você que, suportando a própria sanha, continua a acompanhar o trajeto sinuoso destas linhas, deve, neste momento, qual a personagem, suscitar uma questão. Queres saber se tal labor não se nos apresenta invencível. Não é isso? Acalme-se, caríssimo, acalme-se! Machado responde-lhe, atente: “não é; há um meio; é lançar mão de um regime debilitante, ler compêndios de retórica, ouvir certos discursos etc. O voltarete, o dominó e o twist são remédios aprovados. O twist tem até a rara vantagem de acostumar ao silêncio, que é a forma mais acentuada da circunspecção. Não digo o mesmo da natação, da equitação, e da ginástica, embora elas façam repousar o cérebro; mas por isso mesmo que o fazem repousar, restituem-lhe as forças e a atividade perdidas. O bilhar é excelente”. Debalde o teu ar irritadiço, leitor! Melhor será ter atenção, para gabaritar nesta seleção concorridíssima e implacável. Prossigo, pois. Não é em vão que Machado elenca o bilhar, tal escolha tem motivo específico, qual seja: o ato de compartilhar da mesma opinião. Não podes fugir à regra, ser medalhão exige determinada conformidade com regras de há muito firmadas. Ademais, dentro da prática do bilhar, torna-se mais fácil o encontro e, ato contínuo, a possibilidade de nunca andar desacompanhado. A personagem recomenda: “a solidão é oficina de ideias, e o espírito deixado a si mesmo, embora no meio da multidão, pode adquirir uma tal ou qual atividade”.
O direito, porque inserido no “mundo dos homens”, é demasiadamente complexo. Malgrado a importância de se observar tal complexidade, o jurista é um grande colaborador ao acobertamento dos meandros que brotam e pululam. Desse modo, como o direito – tal qual se nos apresenta – não permite a discussão necessária, é importante, ao futuro medalhão, fechar os olhos ao ululante. Para chegar ao pináculo do mundo jurídico, pois, nada é mais indispensável do que tratar apenas de temas irrelevantes. O medalhão é tanto mais irrepreensível quanto mais abre espaço aos boatos do dia, às anedotas propaladas. As pessoas estão apodrecendo nos presídios? O que te importa? Melhor será discutir sobre os vários sentidos de um determinado termo, sobre prazos e exigências formais. A propósito das instituições, qual a pertinência em cumprir com o próprio papel? Escolhe algumas matérias específicas, alguns pontos fúteis e afirma estar completamente comprometido com o estudo de tais matérias. Ou melhor, faça do site institucional um painel onde se trocam mesuras, em que doutor Zezinho é grandioso e que, por isso, merece ser laureado. Ademais, no próprio site, dê, caríssimo, no dia do advogado, felicitações aos advogados; no dia da tia, à tia; e, como não poderia faltar, no dia do medalhão, faça uma inaudita festa e convide toda a população para ouvir os seus discursos indolores – e cheios de nada.
A esta altura, precisamos definir, de modo a dar continuidade, o direito. Sendo assim, não nos parece pertinente repetir os conceitos consagrados e reiterados infatigavelmente – porque insuficientes -; todo o contrário, cabe a nós próprios deitar, sobre este texto, uma maneira peculiar de enxergá-lo. De tal modo, o direito, para nós, é um instrumento (discursivo) responsável por racionalizar a mentira. De sorte que, ignorando o vaticínio da personagem, para efetivar esse discurso (do direito), ludibriador que é, é imprescindível adorná-lo de modo a torná-lo hermético. Para tanto, importantíssimo lançar mão das sentenças latinas, dos brocardos jurídicos, das máximas etc. Caso saiba, fale grego – para evitar brecha. Neste ponto, indispensável a lição da filósofa Marilena Chauí, para a qual o discurso ideológico se caracteriza por possuir lacunas, isto é, não diz tudo até o fim. Por isso, a nossa insistência na literatura: só ela possibilita, ainda que elíptica, a fala completa, direta, à palo seco. Contudo, este não é o momento. Aqui, a orientação persegue o escopo de “como tornar-se medalhão”. Esqueça a Chauí, portanto. Ou melhor, lembre-se dela para não cair em armadilhas. É preciso que a tua fala não alcance os esquecidos, os moradores de rua, os famintos; embora haja certo esforço para forjar o contrário. É preciso fingir, acima de tudo.
Por seu turno, a questão da publicidade é tema de absoluta importância. Neste ponto, Machado é providencial: “a publicidade é uma dona loureira e senhoril, que tu deves requestar à força de pequenos mimos, confeitos, almofadinhas, coisas miúdas, que antes exprimem a constância do afeto do que o atrevimento e a ambição”. Aqui, devemos lembrar Alfredo A. Becker [1]. Ao falar na cultura germânica e no grande fascínio que esta causa nos juristas, aduz o autor: “o desejo de fidelidade a um velho mestre induz o jurista a atraiçoar a verdade”. Ao medalhão, portanto, é obrigatório o apego exacerbado a um mestre (que lhe possa proporcionar as “alturas”), ao tempo em que extirpa qualquer possibilidade de discordância frente às “verdades” que não permitem prova em contrário. Uma notícia traz outra – diz a personagem -; cinco, dez, vinte vezes põe o teu nome ante os olhos do mundo. Por consequência, indispensável arrancar, dos “discursos vivos” (Drummond), grandes elogios e, ato contínuo, necessários “apadrinhamentos”. Para tanto, em seu pronunciamento, lembre-se do que já fora dito e mastigado por todos eles – se possível, escreva artigos, livros etc. apenas para comentar o que eles mesmos já disseram em demasia. E, não se esqueça, nunca discorde de um único ponto, ainda que este se mostre absolutamente equivocado – lembre-se: eles são expertise em notabilidade – nada mais. O discurso feito homem, sabemos, caracteriza-se por quem o fala, não pelo que se diz. É preciso, deste modo, que você mesmo passe à categoria de “discurso vivo” – não se perca pelos caminhos espinhosos da busca pela verdade! Quando lá chegar, “verás cair as muralhas de Jericó ao som das trompas sagradas”. Aí, leitor, acabará a necessidade de farejar ocasiões, comissões, irmandades – elas virão ter contigo. Teus discursos, pois, tal qual os de teus mestres de outrora, terão de observar a prudência necessária: tratará, em toda e qualquer oportunidade, sobre a infalível metafísica. “- Nenhuma imaginação?”, indaga a personagem. “- Nenhuma; antes faze correr o boato de que um tal dom é ínfimo”. “- Nenhuma filosofia?”, prossegue. “- Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc., etc.” “- Também ao riso?”, é o seu derradeiro questionamento. “- Podes rir e brincar alguma vez. Somente não deves empregar a ironia…”.
Como vê, não reside, aqui, dificuldade alguma. Com pouco, faz-se muitíssimo. Sorriso amarelo, dentes careados da alegria (fingida), ato contínuo de dobrar os joelhos e o máximo de bajulação possível. Não é muito, convenhamos. Ânimo, senhores! Vocês mesmos já puderam ouvir Grenier: “não há mais seres vivos, apenas existem cifras”; e os caríssimos não querem se desvencilhar da cifra dos “vitoriosos”. O autêntico medalhão, no fim das contas, ainda poderá valer-se de um “álibi poético” – e é assim que o faz, ao sussurrar os versos de Sérgio Sampaio: “o triste em tudo isso é que eu sei disso/ Eu vivo disso e além disso/ Eu quero sempre mais e mais”.
[1] Becker, Alfredo Augusto. Carnaval tributário. 2. ed. São Paulo: LEJUS, 1999.
Por Breno S. Amorim
Collor volta a xingar Janot durante sabatina
Desafeto do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o senador Fernando Collor (PTB-AL) voltou a xingar o chefe do Ministério Público de “filho da p.” e “calhorda” durante a sabatina de que Janot participa, hoje, na Comissão de Constituição e Justiça como parte do processo para ser reconduzido ao cargo.
Segundo senadores que estavam próximos, o ex-presidente proferiu os palavrões fora do microfone enquanto Janot respondia às acusações feitas por ele. Collor foi o primeiro a chegar à comissão e se sentou diretamente em frente do lugar reservado para o procurador.
Durante a sabatina, Collor disse que Janot é um “catedrático em vazar informações” e o acusou de ter contratado uma empresa de comunicação sem licitação, além de ter advogado enquanto atuou como sub-procurador. Janot negou todas as acusações e rebateu as críticas de Collor, que foi denunciado pelo procurador na semana passada sob a acusação de ter praticado crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Os dois chegaram a ter uma pequena discussão durante a sabatina.
Esta é a segunda vez que Collor xinga Janot publicamente. No início do mês, Collor fez um discurso contra Janot na tribuna do plenário do Senado. Enquanto explicava que a apreensão de três carros de luxo em sua casa em julho fazia parte do que chamou de “espetáculo midiático” e que os carros foram comprados com dinheiro lícito, o senador sussurrou o xingamento.
Em outro pronunciamento, também na tribuna do Senado, feito nesta segunda-feira, Collor classificou Janot como “sujeitinho à toa”, “fascista da pior extração” e “sujeito ressacado, sem eira nem beira”.
O petebista afirmou ainda que Janot tenta constranger o Senado. “É esse tipo de sujeitinho à toa, de procurador-geral da República, da botoeira de Janot que queremos entregar à sociedade brasileira? Possui ele a estabilidade emocional, a sobriedade que sempre lhe falta nas vespertinas reuniões que ele realiza na procuradoria?”, disse na ocasião.
Collor manobrou para participar da sabatina de Janot. Líder do bloco União e Força, que agrega o PTB, PR, PSC e PRB, o petebista destituiu o senador Douglas Cintra (PTB-PE) e se indicou em seu lugar para compor a suplência da comissão na última terça-feira. Já no dia seguinte, ele apresentou um voto em separado contrário à aprovação do nome de Janot, com documentos em desfavor do procurador.
Inflação em 12 meses sobe para 9,57%
Com a menor pressão dos alimentos e das passagens aéreas, a prévia da inflação oficial voltou a desacelerar em agosto, mas não o suficiente para evitar que o acumulado em 12 meses subisse a 9,57%.
O IPCA-15, prévia da inflação oficial, ficou em 0,43% em agosto, desacelerando em comparação a julho (0,59%) e, pela primeira vez neste ano, abaixo de 0,50%, segundo divulgou o IBGE hoje.
Os analistas esperavam a desaceleração da taxa no mês. Economistas consultados pela agência internacional Bloomberg projetavam o IPCA-15 em 0,43% para o mês e de 9,57% para os 12 meses.
A taxa de 12 meses é a maior desde dezembro de 2003 (9,86%) e está bem acima do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central (BC), de 6,5% – o centro da meta é de 4,5%.
A taxa acumulada em 12 meses continuou subindo porque o índice de agosto, apesar de ter desacelerado na comparação com julho, é o maior para o mês desde 2004 (0,79%). Em agosto do ano passado, foi de apenas 0,14%.
Um dos responsáveis por isso foi, novamente, a energia elétrica, que avançou 2,60% em agosto e contribuiu com 0,10 ponto percentual da prévia da inflação em agosto. O avanço foi resultado do reajuste de distribuidoras em São Paulo e Curitiba.
Houve ainda reajustes em companhias de saneamento no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Goiânia, o que puxou a inflação de água e esgoto para 1,39% neste mês de agosto.
Os preços administrados – como energia elétrica, água e esgoto e gasolina – foram os principais responsáveis pelo aumento da inflação desde o início deste ano. De janeiro a agosto, a inflação acumula 7,36%, segundo o IBGE.
Unesco: brasileiros têm baixo nível de aprendizagem
A maioria dos alunos brasileiros ficou nos níveis mais baixos de aprendizagem (I e II, em uma escala que vai até IV) nos resultados do Terceiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Terce), divulgados nesta quinta-feira em Santiago (Chile). Coordenado pelo Escritório Regional de Educação da UNESCO para América Latina e o Caribe, o Terce avaliou o desempenho escolar de estudantes do ensino fundamental em matemática, leitura e ciências naturais de 15 países.
Em matemática, 83,3% dos estudantes brasileiros do 7º ano e 60,3% dos que cursavam o 4º ano ficaram nos níveis I e II. Apenas 4% e 12%, respectivamente, tiveram menção máxima, no nível IV, na disciplina. Em leitura, no 4º ano, foram 55,3% nos dois primeiros níveis. Entre os alunos do 7º ano, o índice foi de 63,2%. Em ciências naturais, 80,1% também ocuparam as duas classificações mais baixas.
O Chile é o país que mais se destaca, com índices elevados no nível IV: 39,9% em leitura (3ª série), 34,2% em leitura (6ª série), 21,9% em matemática (3ª série), 18,4% em matemática (6ª série) e 18% em ciências naturais (6ª série). O Terce envolveu mais de 134 mil alunos de 15 países e do estado mexicano de Nuevo León. No Brasil, passaram pelo teste estudantes do 4º ao 7º ano. Nos demais países, os participantes cursavam da 3ª à 6ª série.
Os países que participam do Terce são Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai, além do estado mexicano de Nuevo León. Notas dos alunos em cada disciplina foram divulgadas em 2014. O relatório mostra a distribuição dos estudantes por níveis de aprendizado.
Unesco mostra Brasil atrás do Chile e do México em educação
O Brasil tem a maior economia da América Latina, mas não exibe o mesmo vigor quando o assunto é educação. O país ficou acima da média regional apenas em duas das sete provas de avaliação latino-americana promovidas pela Unesco em 2013 e divulgadas neste mês. Melhor para o rival regional, México. Apesar do confronto entre o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, com professores de seu país, o rendimento dos alunos das escolas primárias mexicanas está no ponto mais alto da América Latina. Ao lado dos do Chile e da Costa Rica, os estudantes mexicanos figuram acima da média regional nas sete provas. Os alunos do Paraguai, Honduras e República Dominicana aparecem abaixo da média nos sete exames.
A Unesco avaliou mais de 134.000 alunos em 15 dos 19 países latino-americanos em 2013. Só faltaram Cuba, El Salvador, Bolívia e Venezuela. Foram examinadas crianças do terceiro ao sexto ano primário em leitura, escrita, matemática e, no caso dos maiores, ciências naturais.
Logo atrás do Chile, Costa Rica e México, o Uruguai conseguiu resultados acima da média em seis das sete provas. Argentina e Peru superaram a média em quatro. A Colômbia em empatou com o Brasil: ficou em duas à frente; e Guatemala, somente em uma.
Nenhum desses países pode festejar demais, segundo as conclusões da Unesco. “A região conseguiu avanços significativos em matéria de alfabetização e abrangência de seus sistemas educacionais, mas continuam importantes desafios em matéria de qualidade e equidade”, alertou o diretor de Educação da Unesco para a América Latina, Jorge Sequeira. O organismo da ONU destacou que a aprendizagem melhorou em quase todos os países da região, mas “a maioria dos estudantes continua concentrada em níveis baixos de desempenho”. São poucos os alunos que obtêm os melhores resultados.
Em seis dos sete testes, Guatemala e Nicarágua se situaram abaixo da média regional. O Panamá foi mal em cinco; o Equador, em dois; e a Colômbia, em um.
Só Cuba atinge objetivos globais de educação na América Latina, diz Unesco
Cuba é o único país da América Latina e Caribe a alcançar todos os objetivos mensuráveis de educação. É o que aponta o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos 2015, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
O documento se baseia no marco de ação proposto, em 2000, no Fórum Mundial de Educação em Dakar. Lá, governos de 164 países se comprometeram com objetivos como cuidados na primeira infância, educação primária universal, alfabetização de adultos e paridade e igualdade de gênero. O desempenho dessas nações foi monitorado quase anualmente.
Apenas metade dos países do mundo e da América Latina alcançou o objetivo de acesso universal à educação primária. Equador, Chile, Peru e México foram os únicos da região a passarem a taxa de 80% das crianças matriculadas na educação pré-primária.
Segundo o relatório, o Brasil só conseguiu cumprir duas das seis metas da Unesco na área de educação. O Ministério da Educação diz que não concorda com a metodologia usada no relatório da Unesco. Foi o único país da América Latina a discordar. Entre os compromissos não cumpridos estão a redução do número de adultos analfabetos e a melhoria da qualidade de ensino.
O documento estipula ainda objetivos até 2030. Entre eles, estão a universalização da educação pré-primária, primária e do primeiro nível da educação secundária e expansão da aprendizagem de adultos.
Isto Posto… Qual a colocação para 2016?
O Brasil garantiu a terceira colocação no quadro geral dos Jogos Pan-Americanos de 2015, disputados em Toronto (Canadá), após conquistar 41 medalhas de ouro, 40 de prata e 60 de bronze, o que totaliza 141, embora a ambição fosse destronar o segundo lugar do país sede.
O destaque sem dúvida, apesar do baixo rendimento no Atletismo, onde se cria superar o PAN de 2011, ficou com o Baquete Masculino que, após uma campanha invicta nos Jogos de Toronto, derrotando o Canadá por 86 a 71 na final, conquistou a sua sexta medalha de ouro em Pan-Americanos.
Outro destaque foi a primeira medalha de ouro no Boliche, modalidade em que o brasileiro Marcelo Suartz venceu o venezuelano Amleto Monacelli, na final, por 201 a 189.
No caratê, duas medalhas foram obtidas pelo Brasil. Na categoria até 68 quilos, Natalia Brozulatto ficou com o ouro após vencer a mexicana Xhunashi Caballero por 2 a 0. Na semifinal, ela venceu a venezuelana Omaira Molina por 3 a 1. Na categoria acima de 68 quilos, Isabela dos Santos ficou com a medalha de bronze.
A equipe feminina de futebol conquistou a medalha de ouro após vencer por 4 a 0 a equipe colombiana, salvando o futebol brasileiro de um ano completo de derrotas, depois das seleções principais, feminina e masculina, e também a sub-20 e a olímpica do PAN 2015 fracassarem. A seleção feminina de futebol deixou os Jogos Pan-Americanos de Toronto com 100% de aproveitamento.
Cinco medalhas foram obtidas por brasileiros no tênis de mesa. Outras vieram do Vôlei e da Esgrima. Além das medalhas do Atletismo, no revezamento 4×100 metros masculino, e do heptatlo, prata e bronze, respectivamente.
Deste modo, o Brasil teve um resultado igual ao Pan de Guadalajara, em 2011, com a pequena diferença que há quatro anos, no México, foram 48 medalhas de ouro, 35 de prata e 58 de bronze.
Para os membros do COB, em coletiva dada pelo diretor executivo da entidade, Marcus Vinícius Freire, o Brasil não ficou abaixo do esperado, pois a meta era o top 3, devido a delegação mista, com 70% dos atletas participando do seu primeiro PAN. “Nosso objetivo foi baseado no conhecimento de quem traríamos e dos nossos adversários. Então, estamos dentro da meta”, disse.
Na ocasião, Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro desde 1995, comentou sobre as metas estipuladas anteriormente para a delegação do Brasil de lutar pelo terceiro lugar no número total de medalhas, já que tal contagem respeita o atleta que conquista o bronze ou a prata.
Isto posto, desculpas dadas e aceitas, a pergunta que se insere no contexto é qual a meta para as olimpíadas do Rio em 2016, a mesma de 2012, em Londres, quando o Brasil ficou com três medalhas de ouro, cinco de prata e nove de bronze, na desconfortável posição de número 22, atrás de Cuba e Jamaica?
Por: Adão Lima de Souza