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Com vocês… O Barão de Itararé!
Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, ou Apporelly, ou Barão de Itararé, manteve sempre uma posição crítica diante das elites nacionais.
Em seu trabalho como jornalista, escritor e pensador satírico denunciou as desigualdades existentes no país e criticou duramente os políticos, dos anos 20 aos 60. Mas tudo sempre com muito humor.
Graças à sua irreverência, levou uma surra, em 1933, e foi para a prisão no Estado Novo (1937-1945), durante a ditadura de Getúlio Vargas, dividindo a cela com Graciliano Ramos.
Excelente frasista, são dele tiradas como “Entre sem bater”, que mandou pintar numa placa e pendurar na redação do “Jornal do Povo”, logo após o espancamento, “Os vivos são sempre, e cada vez mais, governados pelos mais vivos”, e “Quando o pobre come frango, um dos dois está doente”, entre dezenas de outras.
Gaúcho de São Leopoldo, Apparício Torelly nasceu em 29 de janeiro de 1895, filho de um brasileiro e de uma uruguaia. Viveu no país vizinho até 1902, quando retornou à cidade natal e foi matriculado no Ginásio Nossa Senhora da Conceição, administrado por padres jesuítas.
Lá, desde cedo, demonstrou seu talento para escrever e uma admirável verve humorística. É nessa época que cria o “Capim Seco”, jornalzinho clandestino que criticava as regras rígidas da escola, escrito à mão e totalmente editado por ele.
Em 1925, mudou-se para o Rio de Janeiro. Precisando trabalhar, buscou emprego no GLOBO, jornal recém-fundado por Irineu Marinho. O jornalista perguntou a Apparício Torelly o que ele sabia fazer. “Tudo, de contínuo a diretor de jornal ”, respondeu, impávido. Irineu Marinho gostou da irreverência do rapaz e se dispôs a ler o texto que Apparício levara.
Além de criticar os governantes por meio da imprensa, militou ativamente em organizações que se opunham à estrutura social vigente.
Como membro da oposição, foi preso pela polícia de Getúlio Vargas e seu companheiro de cela, Graciliano Ramos, chegou a citar o jornalista na obra “Memórias do cárcere”. O Barão de Itararé foi delegado do I Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em 1945 no Theatro Municipal de São Paulo, que reuniu um expressivo número de intelectuais e tomou posição firme contra o Estado Novo.
Em 1947, com a democracia de volta ao país, elegeu-se vereador pelo PCB usando o slogan “Mais leite! Mais água! Mas menos água no leite”.
Contudo, com o cancelamento do registro do partido, em maio de 1947, e a posterior cassação dos parlamentares comunistas, em janeiro de 1948, perderia o mandato.
Ele morreu em 27 de novembro de 1971, aos 76 anos. “Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato”.
Frases:
“Anistia é um ato pelo qual o governo resolve perdoar generosamente as injustiças e crimes que ele mesmo cometeu”
“O fígado faz muito mal à bebida”
“O Estado Novo é o estado à que chegamos”
“Quando o pobre come frango, um dos dois está doente”
Adaptação do texto de Matilde Silveira, Jornal O Globo.