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Bandeiras da trivialidade: estertor contemporão

BrenoÉpoca alguma escapa às caricaturas. Umas são novidadeiras, lançam trivialidades inauditas. Outras, não: preferem nos festejar com novidades que já nascem velhas, a lembrar Maffesoli. O fato é que a caravana caricatural não padece de solidão, sempre há foliões a segui-la.

Em 1947, Jdanov lança uma caricatura. Os artistas comunistas seguem-na com obstinação. A arte queda, debilita-se. Dentre todos, ao menos um oferece resistência. Graciliano Ramos, presidente da União Brasileira de Escritores (UBE). Logo ele, marcado com os caracteres do provincianismo, o avesso do espírito cosmopolita – o único a destoar. De tal modo, estabelece contraponto determinado ao realismo socialista. Combate-o, como se sabe, com o realismo crítico.

A partir do exemplo de tempos distantes, falemos do nosso próprio quando. Mergulhados nesta parvoíce, que é o politicamente correto, várias são as nossas caricaturas presentes. Do feminismo atual aos movimentos sociais, o que observamos são bandeiras da trivialidade. Já não se pode discordar, oferecer contraponto: o discurso da vítima, conquanto inócuo, faz-se predominante. Aos que, ainda assim, ousam o caminho contrário, sobra-lhes o dístico “conservador”. O próprio Graciliano foi considerado um escritor elitista. De se rir.

Difícil escapar às ordens do dia, às modas vigentes. Cada época possui sua cartilha hermética, bestial. Um amigo me contara a propósito da ojeriza por acadêmicos, conservada por Marx. Todavia, fora longe da universidade que o filósofo criara a sua grande obra. Isto, tenha em conta, num tempo em que a academia representava certa grandeza. Permanece, sabemos.

Tal não significa, como pode parecer ao leitor apressado, uma ode ao sentido contrário, pura e simplesmente. Ao revés, escapar às sensações momentâneas requer mais coragem. Necessário deliberar, por suposto. Não representa, como já se vê, o fetiche da crítica, da crítica pela crítica. Instigar o espírito discordante tem seu risco, sabemos. O que não parece pertinente é deixar-se arrastar pela corrente dos discursos miúdos.

Ora, acaso o Brasil, com tantos movimentos identitários, logra avançar? Para cada vítima forjada, uma insígnia representando a vitória da bestialidade. Todos somos boas almas, corações grandiosos. Ao mesmo tempo, apoiamos às correntes em voga, por mais díspares que possam ser. E isso sem sabermos o porquê. Somos todos índios, mamelucos… Sem ferida a acender-se, porém – mimetismo fulgurante. Colecionamos, tão sôfregos estamos por mergulhar nas questões atuais, bandeiras inconciliáveis. E, infantilmente, inflamos o peito, orgulhosos.

Os discursos enfatizados, com luz refratada para os seus estandartes, qual canto das sereias, seduzem. Ninguém quer perder o passaporte da folia, está visto. Um afã por contemporaneidade! No fundo, todos (?) nos mostramos fac-símiles do personagem Jaime Bunda, de Pepetela. Preferível, pensa o ser contemporão, manter-se alinhado à moda da estação, exigência atualíssima. Necessário, bem por isso, vir um francês para nos alertar. Badiou nos ensina a não dar ouvidos às questões que, a pretexto de transformação, fortalecem sobremodo os seus avessos.

De resto, parece-nos, ser um homem (lá vêm as feministas!) de seu tempo não significa ter como norte o ludíbrio do próprio tempo. Requer fôlego, de sorte a ir além. Sobre ele, deitarão impropérios, estigmas vários. Contudo, lembrem o jnadovismo: quando recordado, o é para ser ridicularizado.