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Brazil surreal: Dois pontos fora da curva

MONTANHAS DA JAQUEIRA – Meteorologia informa: segundo turno, previsão do tempo: ferve o sangue auriverde nas veias, nas artérias e nas tripas do Brazil.  A vitória do Capitão Marvel foi um ponto fora da curva. A vitória do candidato fantoche foi mais um ponto fora da curva. No Brazil surreal são dois pontos fora da curva. Hoje é o dia seguinte.

O diagnóstico é de hematomas nos corações, nos parafusos,  porcas e arruelas dos nossos miolos. Olha o tiro, olho a foice, olha a facada, olha o choque elétrico, a camisa de força! Olha o coice dos fanáticos ideológicos! Os zumbis da seita vermelha estão uivando para a lua, relinchando para a lua. Relincha, mundiça vermelha!

Chove uma chuva de meteoros e meteoritos nas cabeças da Pátria mãe gentil. Delira, Brazil!

Quem irá apascentar os nossos espíritos? As ovelhas e os lobos estão em fúria. São espinhos na flor da pele, espinhos nos corações.

Os cordeiros se transformaram em feras. São feras feridas.

O que será do nosso Brazil, barbarizado, escrachado e pornô?

Os ladrões de sonhos roubaram nosso petróleo, arrombaram os cofres do BNDES, roubaram esperanças e o nosso futuro. Fascistas são os ladrões de sonhos.

Confirmado em segunda instância: o 7º Mandamento da Taboa de Moisés continua em vigor: “É proibido roubar”. Houve movimentos de protesto nas montanhas de Brasília e combustão de pneus Firestone, bolas de fogo, nas rodovias. Os zumbis do cordão encarnado disseram que o 7º Mandamento era desumano, demasiadamente desumano, porque Dimas é um bom ladrão. Roubou muitos denários nas minas de ouro da Petrobras, mas distribuía bolsas com seus devotos.

A bancada de Barrabás também batalhou pela revogação do 7º Mandamento. Os discípulos citaram até um ensinamento de Brecht, Old Brecht: “Primeiro meu estômago, depois vossa moral”. Entonces, o roubo deveria ser liberado porque tudo na vida são apetites.

Moisés trovejou no alto das montanhas: o 7º Mandamento é cláusula rochedo, é cláusula de pedra, e não abro nem para o trovão azul. A bancada de Barrabás está revoltada e vai recorrer até as últimas instâncias. A ONU, segundo eles, irá recomendar a absolvição de Dimas para reconduzi-lo de volta ao paraíso em Brasília. Tudo é permitido nos paraísos do poder em Brasília. Ô lê-lê, ô lá-lá!

Judas de Kariot fez uma delação, mas Barrabás jura ser a alma mais inocente que jamais existiu neste vale de lágrimas, de corruptos e de traíras. Taí o juiz Pôncio Pilatos, de Curitiba, que não me deixa mentir, segundo ele. Líder nas pesquisas, ele participou de um plebiscito e foi vitorioso. Havia dois candidatos no plebiscito: Barrabás e uma criatura nascida na cidade de Nazaré. “É Barrabás ou não é?!” dizia slogan dos marqueteiros. Vocês sabem quem venceu. Dimas era o candidato laranja. Assim caminha a humanidade brasileira.

Por: José Adalberto Ribeiro, Jornalista e colunista do Blog do Magno Martins

Os equívocos do PT e o sonho de Lula

imagesDurante quatro a cinco décadas houve vigorosa movimentação das bases populares da sociedade discutindo que “Brasil queremos”, diferente daquele que herdamos. Ele deveria nascer de baixo para cima e de dentro para fora, democrático, participativo e libertário. Mas consideremos um pouco os antecedentes histórico-sociais para entendermos por quê esse projeto não conseguiu prosperar.

É do conhecimento dos historiadores, mas muito pouco da população, como foi cruenta a nossa história tanto na Colônia, na Independência como no reinado de Dom Pedro I, sob a Regência e nos inícios do reinado de Dom Pedro II. As revoltas populares, de mamelucos, negros, colonos e de outros foram exterminadas a ferro e fogo, a maioria fuzilada ou enforcada. Sempre vigorou espantoso divórcio entre o Poder e a Sociedade. Os dois principais partidos, o Conservador e o Liberal, se digladiavam por pífias reformas eleitorais e jurídicas, porém jamais abordaram as questões sociais e econômicas.

O que predominou foi a Política de Conciliação entre os partidos e as oligarquias mas sempre sem o povo. Para o povo não havia conciliação mas submissão. Esta estrutura histórico-social excludente predominou até aos nossos dias.

No entanto, pela primeira vez, uma coligação de forças progressistas e populares, hegemonizadas pelo PT, vindo de baixo, chegou ao poder central. Ninguém pode negar o fato de que se conseguiu a inclusão de milhões que sempre foram postos à margem. Far-se-iam em fim as reformas de base?

Um governo ou governa sustentado por uma sólida base parlamentar ou assentado no poder social dos movimentos populares organizados.

Aqui se impunha uma decisão. Na Bolívia, Evo Morales Ayma buscou apoio na vasta rede de movimentos sociais, de onde ele veio como forte líder. Conseguiu, lutando contra os partidos. Depois de anos, construiu uma base de sustentação popular, de indígenas, de mulheres e de jovens a ponto de dar um rumo social ao Estado e lograr que mais da metade do Senado seja hoje composta por mulheres. Agora os principais partidos o apoiam e a Bolívia goza do maior crescimento econômico do Continente.

Lula abraçou a outra alternativa: optou pelo Parlamento no ilusório pressuposto de que seria o atalho mais curto para as reformas que pretendia. Assumiu o Presidencialismo de Coalizão. Líderes dos movimentos sociais foram chamados a ocupar cargos no governo, enfraquecendo, em parte, a força popular.

Para Lula, mesmo mantendo ligação com os movimentos de onde veio, não via neles o sustentáculo de seu poder, mas a coalizão pluriforme de partidos. Se tivesse observado um pouco a história, teria sabido do risco desta política de Coalização que atualiza a política de Conciliação do passado.

A Coalizão se faz à base de interesses, com negociações, troca de favores e concessão de cargos e de verbas. A maioria dos parlamentares não representa o povo mas os interesses dos grupos que lhes financiam as campanhas. Todos, com raras exceções, falam do bem comum, mas é pura hipocrisia. Na prática tratam da defesa dos bens particulares e corporativos. Crer no atalho foi o sonho de Lula que não pode se realizar.

Por isso, em seus oito anos, não conseguiu fazer passar nenhuma reforma, nem a política, nem a econômica, nem a tributária e muito menos a reforma agrária. Não havia base.

A “Carta aos Brasileiros” que na verdade era uma Carta aos Banqueiros, obrigou Lula a alinhar-se aos ditames da macroeconomia mundial. Ela deixava pouco espaço para as políticas sociais que foram aproveitadas tirando da miséria 36 milhões de pessoas. Nessa economia, o mercado dita as normas e tudo tem seu preço. Assim parte da cúpula do PT, metida nessa Coalizão, perdeu o contato orgânico com as bases, sempre terapêutico contra a corrupção. Boa parte do PT traiu sua bandeira principal que era a ética e a transparência.

E o pior, traiu as esperanças de 500 anos do povo. E nós que tanta confiança depositávamos no novo, com as milhares comunidades de base, as pastorais sociais e os grupos emergentes… Elas aprenderam articular fé e política. A mensagem originária de Jesus de um Reino de justiça a partir dos últimos e da fraternidade viável, apontava de que lado deveríamos estar: dos oprimidos. A política seria uma mediação para alcançar tais bens para todos. Por isso, as centenas de CEBs não entraram no PT; fundaram células dele e grupos, como instrumento para a realização deste sonho.

O partido cometeu um equívoco fatal: aceitou, sem mais, a opção de Lula pelo problemático presidencialismo de coalizão. Deixou de se articular com as bases, de formar politicamente seus membros e de suscitar novas lideranças.

E aí veio a corrupção do “mensalão” sobre o qual se aplicou uma justiça duvidosa que a história um dia tirará ainda a limpo. O “petrolão” pelos números altíssimos da corrupção, inegável, condenável e vergonhosa, desmoralizou parte do PT e parte das lideranças, atingindo o coração do partido.

O PT deve ao povo brasileiro uma autocrítica nunca feita integralmente. Para se transformar numa fênix que ressurge das cinzas, deverá voltar às bases e junto com o povo reaprender a lição de uma nova democracia participativa, popular e justa que poderá resgatar a dívida histórica que os milhões de oprimidos ainda esperam desde a colônia e da escravidão.

Apesar de tudo, e quer queiramos ou não, o PT representa, como disse o ex-presidente uruguaio Mujica, quando esteve entre nós, a alma das grandes maiorias empobrecidas e marginalizadas do Brasil. Essa alma luta por sua libertação e o PT redimido continua sendo seu mais imediato instrumento.

Quem cai sempre pode se levantar. Quem erra sempre pode aprender dos erros. Caso queira permanecer e cumprir sua missão histórica, o PT faria bem em seguir este percurso redentor.

Por: Leonardo Boff

Quando acabarem as escolas, quero nascer outra vez

BRENOA universidade presta um grande desserviço, a saber: legitima a mediocridade. Para que a parvoíce ganhe respaldo, são necessários os muitos certificados e diplomas. Para tanto, é necessário honrar o silêncio, de modo a não deixar transparecer o real papel desta instituição, tal qual se nos apresenta. Todavia, nós, que nada temos com o ocultamento das verdades desmistificadoras, ousamos ratificar as palavras da escritora Adélia Prado: enquanto dura a trégua, vou guerrear. 

Certa ocasião, em conversa com um amigo, falávamos sobre as muitas pessoas que concluem uma graduação sem ler um mísero livro. Outras, quando leem, o fazem de maneira limitada, infantil, restringindo-se às leituras obrigatórias. Ainda assim, elas logram, passam em concursos e são tidas como “o exemplo de aluno universitário”, que merece ser reiterado. Não poderia ser diferente, decerto. Como a universidade transmite todas essas insignificâncias, resta claro que, para ser premiado, dentro desse parâmetro, é preciso muito esforço em repetir todo o conteúdo apreendido. Aqui, é importante frisar, não cabe o estereótipo do ressentimento. No entanto, se os senhores, ainda assim, relutarem em pensar de tal modo, dar-nos-emos por satisfeitos em lançar mão do direito ao ressentimento – no fundo, produto de uma crítica que lacera.

Ademais, mesmo os nossos docentes (ou principalmente eles) se utilizam da legitimação de suas tacanhices, proporcionada pela universidade. Quantos professores, com mestrado ou doutorado, não são quase analfabetos? São eles os que, quando entrevistados pelos sites das universidades, dizem estar fazendo os seus doutorados tendo em vista a consequente contribuição ao meio acadêmico. Que contribuição? A de se sentir um ser pinacular? A de perceber graúda a folha de pagamento?

A escritora supramencionada, ao ver o slogan da escola de sua filha (“seu saber é para vencer”), lamenta não poder deixá-la em casa. Entre nós, o “vencer” representa a vitória sobre o outro, um possível concorrente em um concurso, ou numa vaga de emprego. Não queremos, ao revés, entender tal signo como meio de transformação social, como “vitória” que liberta, porque imbuída de uma verdade que nos faz reconhecer a nossa própria condição.

A desolação da escritora culmina numa frase, a qual intitula este texto. Todos queremos nascer outra vez, Adélia, quando acabarem as escolas. A escolarização nos degenera, ao tempo em que nos especializa para um mercado embrutecedor.

Sim, caro Illich, que tenhamos uma sociedade sem escolas… E quem passar por último, acenda o pavio!

 Por: Breno S. Amorim