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‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’:57 Personagens para uma capa mítica
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band rompeu várias convenções na música. Foi um dos primeiros álbuns de capa dupla, com as letras das músicas impressas, bolso interno decorado e capa desenhada por um artista famoso, Peter Blake.
Das 57 personalidades escolhidas pelos Beatles para a capa, hoje um mito, 18 eram atores e 15 escritores. Entre os primeiros, Marlon Brando, Fred Astaire, Marilyn Monroe e Tony Curtis; entre os segundos, Poe, Dylan Thomas, H. G. Wells, Oscar Wilde, Lewis Carroll e Joyce. Também aparecem Bob Dylan, Marx e Einstein. O quarteto aproveitou para colocar o jogador de futebol do Liverpool Albert Stubbins, mas nada comparado com o que fez George Harrison ao incluir quatro iogues indianos.
Esquinas inconciliáveis
Do asfalto, a quentura do sol enturvece a nossa visão. Em disputa impraticável com automóveis e outros passantes, andamos. O ar é todo buzina e recendências várias. Contígua, uma moça, morena, cabelos serpenteados, trespassa-nos, a interromper o movimento dos carros. Interessante imagem, silhueta que nos faz esquecer o cansaço. Eufóricos, transmudamos.
Antes silentes, olhamos uma mesma figura e trocamos olhares entre nós próprios, com algum comentário. Sorrimos ante o sol que nos arranca suor e, neste instante, qualquer que seja a caminhada, não nos exaspera a maior dentre as lonjuras. Ao revés, escolhemos encompridar o percurso, fazer do trajeto circunstância diferente de uma obrigação, agastamento cotidiano. Algo nos assaltara, embora não possamos afirmar, com alguma certeza, qual a parte da tal moça nisto tudo. Acendera, decerto, qualquer coisa dentro de nós, há pouco repletos de escuridões, obnubilação a medrar.
Uma silhueta despede o corriqueiro? Com que perfume afugentar a trivialidade mesquinha? Seguimos. Não mais a vemos, as esquinas várias querem nos distanciar, legar-nos o amargo sabor dos encontros interrompidos, de olhos grandes que não tremelicam ante o confronto de outros mais, confrangidos por luminosidades contumazes.
Romper com vínculo inexistente – como explicar a confusão de vocábulos tão contrariados? Declinamos da resposta, já agora na Fernando Góes, sem um mínimo rastro de pés locomotores de olhos sumidouros. Abel estertora e faz certo comentário. Recorda Baudelaire e o cansaço não obsta a consequente declamação: “(…) E cujo olhar me fez renascer de repente,/ Só te verei um dia e já na eternidade?/ Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!/ Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,/ Tu que eu teria amado — e o sabias demais!”.
Diz-me, entusiasmado, que nós também temos a nossa passante. Passante que não vê o Sena, mas que atravessa o velho Chico de barquinha e ruma em direção à Catedral. E, enquanto aguardamos os carros passarem, arremata, sem desfaçatez: “Também eu a amaria”. Sorrimos.
Como num quadro de Duchamp, Abel desenha a primavera ante o encontro com a moça desencontrada. Ambas as figuras, qual a arte de Marcel, permanecem anônimas, tamanha a quantidade de citadinos. Que frutos colher, Abel, desta árvore imaginativa que lhes separa? A verticalidade de seus corpos imprime movimento e, presentemente, só toca-lhes a fuga não consentida. Entre fumaça de coletivos e litanias despersonalizadas, quem repele quem? A tua parte, Abel, neste itinerário confuso, labiríntico, qual?
O sol, que de ordinário, bem nos parece morte, a nos acometer com o peso dos dias que se iniciam demasiadamente cedo e ainda mais breve se encerram, é-nos, ao menos hoje, afago. Abel questiona a si próprio, já não sabe se outra fluorescência, quaisquer delas, permitir- lhe- ia encontro tal. Se nublado o céu, em dias de tempo fechado, luz artificial bastaria para vivificar o instante, ao abrigo de olhos negros? – pergunta. Com que nome identificá-los? Passarão sempre no mesmo horário? Os ponteiros, amiudados, desconhecem o âmago das horas – as senhoritas que passam, os carros que estancam, os olhares que se esbarram sob raios violáceos.
Abel, suspeito, não mais será vencido pelo enfado dos dias. Penso, tão logo vejo o seu sorriso preocupado, que, doravante, seus passos serão guiados por uma ânsia, um afã irrepreensível. Tal a sua convicção, não o desconsola questões inapreensíveis, se escuro ou claro o céu, se sol ou lua. Mesmo na opacidade, creio, ele reconhecerá o brilho de olhos que há pouco surgiu-nos. E, em linguagem gutural, dirá coisas sobre os amores contrariados – força propulsora do mundo.
Breno S. Amorim
MICK JAGGER DIZ QUE NÃO ESCUTA DISCOS EM VINIL
Produtor-executivo de “Vinyl” (Vinil), série da HBO que retrata a indústria fonográfica de Nova York nos anos 70, Mick Jagger disse que não escuta música em discos de vinil. “Eu não ouço, mas meus filhos amam”, disse, rindo, o líder dos Rolling Stones durante o lançamento da série em um evento para a imprensa especializada em TV em Los Angeles, na última quinta-feira, dia 7.
O cantor participou da apresentação de “Vinyl” via videoconferência.
Jagger é produtor e criador da atração ao lado de Martin Scorcese e Terrence Winter (“Sopranos”, “Boardwalk Empire”). “Eu tive essa ideia há alguns anos e contei para o Marty (apelido de Scorcese). Tentamos desenvolvê-la primeiro como um filme, mas aí virou uma série de TV”, contou o roqueiro.
Scorcese dirige o episódio de estreia, com duas horas de duração.
O drama, que tem como protagonista Bobby Cannavale no papel de Richie Finestra, dono da fictícia gravadora em falência American Century, estreia em 14 de fevereiro nos EUA e no Brasil. O empresário cocainômano precisa descobrir nova bandas, em uma época em que o punk, a disco music e o hip hop, entre outros gêneros, começam a surgir, para não ver seu negócio falir.
A série mostra músicos como Robert Plant, do Led Zeppelin, se envolvendo em negociações com as gravadoras para não serem passados para trás.
Jagger contou que, nos anos 70, ele também participava dos acordos dos Stones com as gravadoras. “Como nós fomos realmente sacaneados nos anos 60, tivemos que nos envolver nos negócios. Então a gente sabia quem era bom e mau, quem pagava…”, disse.
Questionado se “Vinyl” poderia dar uma espécie de impulso ao rock junto às gerações mais novas, Jagger não quis palpitar. “É uma série de TV, um drama, não sei o que acontecerá com a música”.
O líder dos Stones também comentou a participação de seu filho James Jagger na superprodução. James, que também é músico, interpreta o vocalista de uma banda punk. “Ajudei ele falando sobre algumas atitudes que ele poderia ter e o encorajei a se sentir seguro atuando. Mas tudo é criação dele”.
Fonte: Lígia Mesquita/ Folha de São Paulo