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Isto Posto… Pluripartidarismo ou Partido Único?

Partidos

Com o fim da temporada de Convenções Partidárias, o resultado é um emaranhamento político difícil de ser digerido pelo eleitor brasileiro, pois as coligações desenhadas se afiguram incompreensíveis até mesmo para os mais experientes analistas.

As mais esdrúxulas alianças foram pactuadas entre partidos concorrentes das duas esferas de poder em jogo. O PSB, que se apresenta como alternativa a PT e PSDB, apoia o PT no Rio e o PSDB em São Paulo, mantem candidato próprio em Minas, apoiado apenas por parte do partido, enquanto que a outra, sob o comando de Marina Silva, da Rede optou por não se misturar aos políticos do Pacto Mofado combatido por Eduardo Campos.

O PT de Dilma, que aconchega em seu raio de importância e influência Collor, Maluf e Sarney, representantes legítimos da Política Velha, ataca a oposição por representar o passado indesejável pelos brasileiros, enquanto se alinha ao DEM entorno da candidatura do filho de Jader Barbalho no Pará.

A tucanada do PSDB ao mesmo tempo em que critica o PT pelo fisiologismo, acusando o Lula, padrinho sacrossanto do Partido dos Trabalhadores, cujo governo – dito para o povo e pelo povo – conseguira colocar no topo da lista dos bilionários da revista Forbes o empresário Eike Batista, à custa de subvenções e regalias do erário público e, recentemente, o dono da Faculdade Maurício de Nassau, José Janguiê Bezerra Diniz, confirmando a tese de que educação sempre foi um bom negócio, vale-se da mesma estratégia para arregimentar partidos insatisfeitos com o governo e promover uma debandada.

O PMDB, fisiologista de carreira, como o bom Rasputin que sempre foi, caminhará ao lado de quem sinalizar com propostas mais vantajosas, vendendo a preço de ouro sua fidelidade ou infidelidade. O PP, aliado do PT desde o governo Lula, no Rio e no Rio Grande do Sul, em vez de Dilma preferem seguir com Aécio, assegurando importância qualquer que seja o resultado da eleição presidencial.

Nos Estados, onde maior é a confusão, verificam-se coligações ainda mais estranhas. Pernambuco, por exemplo, tanto prefeitos do PSB apoiam o candidato do PTB, quanto os deste declaram apoio incondicional ao adversário  PSB, num oportunismo que se repete em todas as unidades da federação.

Isto posto, o mais próximo da verdade é dito pelo jornal comunista A Nova Democracia, ao denominar PT-PSDB-PMDB-PSB-PTB-DEM-PV-PCdoB-PP-PSD de partido único, o “PARTIDÂO”. Pois, se pudéssemos parodiar o poema quadrilha de Drummond de Andrade seria algo monstruoso mais ou menos assim: “Marina e Eduardo amavam Lula e Dilma que amam o Valdemar Costa Neto, Maluf, Collor, Sarney, Kassab, Renan que amavam FHC que amava Aécio que amava o Lula, a quem todos amam, mas que só ama a si mesmo”. De modo que o único odiado é o povo.

Por: Adão Lima de Souza

Isto Posto… A Copa das Etnias.

mario-balotelli

Duas coisas mais chamaram minha atenção nessa que o governo politicamente denominou de a “Copa das Copas”. A primeira, a grande mistura de raças dentro dos gramados que fazem desse mundial no Brasil “A Copa das Etnias”, contribuindo fortemente para o combate ao racismo no futebol, pois é notória a presença marcante de jogadores afrodescendentes em todas as equipes, principalmente europeias, oriundos de diversas nacionalidades, a exemplo da seleção francesa, cujo jogador de maior destaque no momento, Karim Benzema, não disfarça sua origem argelina, suas raízes árabes.

Mesmo a Holanda, uma das primeiras seleções a convocar jogadores negros, porém fortemente marcada, durante muito tempo, por oposições racistas, não escapa ao reconhecimento de que um de seus melhores jogadores, apesar dos holofotes mirados para Robben, Van Persie, Sneijder, é sem dúvida o meio-campista Nigel de Jong, enquanto a “squadra azzurra” depende inteiramente do atacante Mário Balotelli.

Decepcionante, porém, mostra-se o Brasil, com seu histórico escravocrata, cujo preconceito racial permanecendo velado se evidencia nos cabelos alisados de Neymar, tão próximos do padrão de beleza estabelecido como superior, quando deveria exaltar sua negritude e a mestiçagem que fazem desse país objeto de admiração pelo resto do mundo.

Isto posto, para terminar, a segunda coisa chamativa é o intenso calor dos estados brasileiros, derrotando a maioria das seleções europeias ainda no primeiro tempo, pois diminui seus rendimentos. Entretanto, sob este aspecto não recai nenhum tipo de preconceito já que o sol brilha para todos.

Por: Adão Lima de Souza

Isto Posto… Não Vai Ter Copa

imagesDepois de muitos protestos contra a corrupção no Brasil, cuja maior revolta se dera em virtude da construção de estádios caríssimos para abrigar jogos da Copa, os brasileiros, em sua grande maioria, principalmente aquela que nunca abandonou sua poltrona confortável para reclamar de coisa nenhuma, repentinamente se rendeu aos encantos da seleção canarinho e voltaram a ser os mesmos cidadãos pusilânimes que sempre marcou a mais intrínseca característica desse povo tupiniquim.

Entoam, agora, o discurso de que a Copa nada tem a ver com os seculares desmandos da classe política brasileira, da roubalheira desenfreada, da cotidiana orgia com o dinheiro público, enquanto o povo agoniza em escolas e hospitais sucateados e insuficientes, gritando todos a plenos pulmões, a cada gol que os milionários atletas brazucas fazem: “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”.

Estão convencidos de que na hora exata – a hora do voto – saberão diferenciar o joio do trigo como sempre souberam. E assim, o povo trabalhador dessas “terras brasilis” compram mais uma vez a falácia quincentenária de que o Brasil é o país do futuro, portanto, tudo se resolverá nas eleições, quer dizer, os mesmos sacripantas corruptos que roubam agora serão reeleitos para continuar representando um povo apático que crê num futuro sem nunca ter tido um presente.

Isto posto, faço minhas as palavras de Ruy Barbosa: “Brasil de ontem e de amanhã; dai-nos o de hoje que nos falta!”.

Por: Adão Lima de Souza

Isto Posto… O legado da Copa: Os elefantes brancos

AMAZONIA

Muito se tem falado dos gastos excessivos na construção de estádios para a Copa no Brasil. Alegando uns que o dinheiro seria mais bem empregado em saúde, educação e segurança. Enquanto o governo, aturdido com as manifestações diárias nos grandes centros do país, tenta rebater as críticas afirmando, em caríssimos comerciais, que o legado existe e é de todo povo brasileiro, já que os investimentos, segundo a propaganda oficial, não se limitaram às arenas, mas, também a realização de obras de mobilidade urbana indispensáveis ao desenvolvimento das cidades sedes.

No entanto, por mais bem elaboradas que sejam as peças publicitárias relativas ao mundial, somado ao renitente e reticente discurso uníssono de nossas autoridades, o povo não conseguiu, ainda, vislumbrar com a mesma euforia do governo e da FIFA a importância desse excepcional legado à modernização desse país habituado ao lodaçal imundo em que se transformou a gestão política de nossas cidades e a desfaçatez com que se lança mão de desculpas esfarrapadas, como se tudo fosse justificável ante a pretensa estupidez de nosso povo.

E é talvez aí, nesse afã equivocado dos políticos de que qualquer mentira calha bem como justificativa, que o cidadão brasileiro encontrou dificuldade enorme de digerir a estratosférica soma de dinheiro gasto com a construção de estádios que sediarão algumas poucas partidas, como as arenas de Manaus, Cuiabá, Natal, Fortaleza, Recife, e depois do mundial ninguém sabe dizer o que será feito delas, já que estão situadas em Estados de nenhuma referência no futebol.

Diante disso, fica a pergunta: Quem assumirá a manutenção desses estádios depois da Copa? Os municípios, cujas finanças são comprometidas pela corrupção e a partilha injusta dos impostos arrecadados pelo Governo Federal? Ou, quem sabe, os Estados que por razões semelhantes as dos municípios, patinam ano a ano nos resultados econômicos pífios? Quiçá o Governo Federal, sempre tão prestativo com os Estados e municípios?

Isto posto, só restará o abandono desses elefantes brancos, se não se puder contar com a generosidade do contribuinte.

Por: Adão Lima de Souza

Isto Posto… O legado da copa é uma promessa de campanha política

downloadEm virtude dos frequentes protestos, no Brasil e também em outros países, contra a realização da COPA DA FIFA, o governo tem colocado em prática milionários comerciais, a fim de convencer os brasileiros da importância da competição para melhorar a imagem do país no exterior e, sobretudo, do grandiosíssimo legado que o mundial deixará para as cidades sedes em setores como mobilidade, urbanismo e segurança.

Tais propagandas, além da tentativa, até então frustrada, de exacerbar no povo brasileiro o ufanismo comum que o futebol costuma provocar, intenta, concomitantemente, convencer os turistas estrangeiros que não vivemos uma situação de guerra, já que carros militares patrulhando ruas e os cotidianos conflitos armados em praça pública seriam vertentes de uma bem planejada e eficiente política de segurança capaz de salvaguardar a integridade física e moral de qualquer estrangeiro que venha ao Brasil assistir aos jogos da copa.

Assim sendo, diante do que parece ser um inconformismo generalizado, somado ao fracasso dos apelos oficiais ante a dificuldade de explicar as somas astronômicas de dinheiro gasto na construção de estádios e outras obras de pouca ou nenhuma serventia para o trabalhador oprimido nas filas de ônibus e trens precários, morrendo à míngua em hospitais sucateados e sufocado pelos efeitos de uma política econômica desastrosa, o governo tenta creditar, numa demonstração de aparvalhamento e desespero, seu insucesso a ataques da mídia que, segundo o Ministro dos Esportes, torce contra o sucesso da Copa.

Entretanto, em que pese setores da grande mídia, timidamente, reproduzirem matérias de jornais estrangeiros com reportagens nada alvissareiras sobre a capacidade do Brasil em organizar um evento dessa envergadura, o que se vê na imprensa que o governo acusa não colaboração é uma cumplicidade sem precedentes com a malversação de recursos públicos em obras superfaturadas, devido aos interesses comuns com a FIFA.

Isto posto, quão benfazejo seria para o Brasil se o torcedor, entre um jogo e outro da seleção canarinho, parasse e refletisse como seria melhor visto o nosso país pelos estrangeiros se o povo brasileiro ousasse  querer mais que um irrelevante hexacampeonato de futebol, já que os cinco ganhos nada acrescentou a nossa civilidade.

Por: Adão Lima de Souza

Isto Posto… Policiais Militares e o Impedimento de Greve: A Insegurança Institucionalizada.

PM

É permitido em Lei o Direito de Greve a toda e qualquer categoria de trabalhadores privados e, por analogia, também aos servidores públicos, excerto, aos militares, incluindo-se aí os Policiais Militares, como se estes não participassem da mesma relação de troca entre capital e trabalho, secularizada por um sistema econômico fortemente marcado pelos antagonismos entre os que comandam os mecanismos de produção e os que são obrigados a vender sua força laboral.

Diante de tal dissenso, produzido por uma interpretação equivocada de que estaria garantida a segurança geral, se mantidas ás forças auxiliares do poder de polícia da administração Pública o status de militar, o Brasil enfrenta agora um levante legítimo de trabalhadores submetidos a um longo regime de opressão operada por políticas de segurança inescrupulosas que desrespeitam os direitos e garantias trabalhistas sob a égide de uma norma, em que pese ser alçada ao patamar de constitucional, tem se mostrado injustiça e, por isso, perdido sua função preventiva, conforme se pode inferir das últimas greves da PM deflagradas na Bahia e Pernambuco.

O que se observa nesse embate de forças é de um lado governadores irresponsáveis, cujos privilégios legais de coerção contra a organização sindical dos Policiais Militares, festejando a disparidade de armas entre patrão e empregado, asseguram-lhes a desobrigação de negociar reivindicações da classe policial atinentes às condições inafastáveis de trabalho como salários decentes e benefícios legais, os quais deveriam fazer parte das atribuições dos gestores públicos para uma eficiente política de segurança.

E, assim, vê-se o cidadão aturdido em meio à insegurança institucionalizada por uma lei injusta que, ao oprimir, induz sua inobservância, pondo em xeque instituições fragilizadas, a exemplo do Ministério Público e o Poder Judiciário, que combalidos lançam mão de detritos autoritários como a lei de Segurança Nacional em flagrante desrespeito à Constituição Cidadã, a fim de fazer valer prerrogativas de governadores perniciosas ao republicanismo e ao Estado Democrático de Direito.

Isto posto, como a lei não previu contrapartida do Estado capaz de evitar greves de Policiais Militares, quem sabe uma Câmara de Mediação e Arbitragem, com competência para solucionar o dissídio trabalhista que ora se apresenta com o movimento paredista das forças de segurança, como acontece na Justiça do Trabalho, o que se esperar, então, do uso da repressão através da aplicação de leis perversas do tempo da Ditadura Militar senão o desmonte do regime democrático ocasionado pela insegurança institucionalizada promovida pelo Estado?

 Por: Adão Lima de Souza 

Isto Posto… O Judiciário não pode ser instrumento de intimidação dos opositores.

images (1)Em que pese a Lei preceituar a publicidade como princípio inafastável da Administração Pública, no Brasil se vive ainda, devido aos traços fortíssimos do personalismo imperante em nossas instituições, épocas sombrias no que tange à transparência dos negócios públicos.

Pois é notória a falta de boa-fé do ocupante do cargo em recepcionar as críticas ao seu gerenciamento sem compreendê-las como ataques pessoais, uma vez que este não pode se confundir com a instituição, ou tratá-la como empreendimento privado, sob pena de afrontar mortalmente as premissas republicanas de eletividade, temporariedade e, principalmente, a de responsabilidade.

Assim, devido a essa cultura nociva ao republicanismo, os gestores públicos tendem a querer se transformar em extensão dos cargos que ocupam, reclamando para si total imunidade às críticas de quem se opõem ao modo pessoal como são tratados os interesses coletivos. E, afeitos a essa prática nefasta de administração, insistem em postular sua impunidade tentando manipular as instâncias judiciais a fim de silenciar as vozes discordantes. Agindo, portanto, sempre no sentido de fazer do Judiciário um instrumento eficaz para intimidar seus opositores, impedindo a livre manifestação e ocultando seu dever imanente ao cargo de provar sua probidade.

Por isso, não são raros processos movidos por esses agentes contra quem supostamente tentara atingir sua honra ao proferir discurso mais incisivo proclamando o dever de todo ocupante de cargo público agir com a devida transparência na execução orçamentária da instituição que comanda.

Desse modo velado – às vezes inequivocadamente escancarado – vão impondo métodos cada vez mais eficientes de censura e repressão, sob a alegação infundada de se tratar de tutela legal ao direito de reparação pelos supostos crimes contra sua honra, impetrados pelos críticos de sua conduta. E aqui se pode apontar como exemplo a prisão arbitrária de líderes sindicais como o soldado Prisco e o processo contra um defensor seu que supostamente teria desabonado a honra do governador do Estado da Bahia.

Isto posto…Se o Poder Judiciário se prestar a ser um mero instrumento de vingança, ao ser usado como meio intimidatório por quem se furta ao dever de bem conduzir a Administração Pública, condenando a oposição ao amordaçamento pretendido por gestores desonestos, que salvaguarda terá o contribuinte ameaçado de arcar com robustas indenizações pecuniárias ou, quiçá, ser preso, se sucumbente, num processo judicial que afronta os princípios constitucionais da impessoalidade e transparência no trato com a coisa pública?

Por: Adão Lima de Souza 

Isto Posto… Os Políticos não são o pior de nós.

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O mais comum no Brasil é ver o honorabilíssimo eleitor se lastimar da escolha errada que fez na última eleição. No entanto, além de tardia, a constatação do equívoco é inútil, pois pelos quatro anos do mandato, nada senão lamúrias o cidadão supostamente enganado poderá fazer para reverter as consequências danosas de sua malograda inclinação por este ou aquele candidato vendido pelos marqueteiros como produto de consumo.

Ademais, junte-se a isso um analfabetismo político crônico do eleitor brasileiro, somado à corrupção endêmica que vai do povo ao governo, e temos, então, um país chafurdado no lodaçal imundo da imoralidade administrativa, aonde princípios republicanos como a impessoalidade, a eficiência e probidade são relevados ao ostracismo por pessoas inescrupulosas, cujos propósitos são, desde outrora, saquear os cofres públicos a fim de enriquecer ilicitamente em detrimento da continuidade e suficiência da prestação de serviços essenciais de saúde, educação, segurança, lazer.

Todavia, forçoso é admitir que parcela considerável, senão a completitude das causas das mazelas na malversação do dinheiro do contribuinte, deve ser creditada ao eleitor, que movido por interesses pessoais, opta sempre por dar um voto de confiança justamente a quem se vale de expedientes escusos para captação ilícita do sufrágio.

Porque, inegavelmente, o cidadão brasileiro jamais cogita da efetividade de projetos eleitoreiros vendidos como soluções mágicas pelos candidatos a vereadores, por exemplo, para os problemas enfrentados cotidianamente nas cidades pequenas, médias ou grandes desse país continental.

Ao contrário disso, os vencedores das eleições nestas cidades, sejam vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e presidente, são beneficiados pela inclinação cultural de eleitores ávidos em apostar seu voto no concorrente que melhor sinaliza com a concessão de ganhos financeiros para o votante e sua família ou pessoa de seu círculo de relações, pouco ou nada se importando com o interesse coletivo.

Isto posto…Quando um político suspeito de roubo, fraude, desvio de verbas públicas ou outro ato qualquer de corrupção, diz estar ali representando a vontade do povo, devemos nos perguntar se realmente a nossa conduta seria diferente da dele, uma vez que é sedimentado no eleitor a certeza de que qualquer um – e isso nos inclui – lá estando, se não roubar é um tolo.

Então, caro eleitor, por que os políticos seriam o que de mais iníquo há em nossa sociedade, se são fieis a nossa vontade?

Por: Adão Lima de Souza

Isto Posto… Advogado, que causa tu defendes?

imagesSem dúvida nenhuma, o que mais contribui para que um jovem se decida pelo Curso de Direito não é tão somente o fascínio pelo status ou o glamour de profissões dignas e necessárias como a de Juiz, Promotor, Defensor ou Advogado, mas sim, ainda que inconscientemente, o ideal de justiça, ou seja, o desejo de ver triunfar a justiça sobre a opressão e a tirania, a satisfação pela coragem em manejar a espada contra a mentira e a traição e, assim, poder oferecer a balança como boa medida de equidade para que reine o bom senso.

Outro fator evidente, construtor de nossas aspirações, é a forte influência da cultura popular sobre nossas escolhas. Principalmente, para o jovem de hoje, habituado à internet como meio indispensável à troca de ideias; e ao cinema como instrumento realizador daqueles sonhos heroicos, em que a verdade e a justiça triunfam sobre as pretensões fundadas na tirania, no preconceito, na esperteza, no desrespeito ao outro e suas fragilidades e na certeza da impunidade pelos seus crimes, conspurcando o ideal humano de justiça.

E inspiração não nos falta na cinematografia moderna, cujos heróis, recrudescendo a nossa sede de justiça, fazem renovar a crença imprescindível nos valores humanos. Como no filme “Questão de Honra”, em que o ator Tom Cruise, interpretando um jovem e inexperiente advogado, é designado para defender da acusação de homicídio dois fuzileiros da base naval Americana de Guantánamo, em Cuba.

Numa atuação memorável, o jovem ator Tom Cruise, corajosamente, enfrenta a arrogância das altas patentes militares para provar que os acusados agiram em cumprimento de uma ordem superior e que seria injusto serem os únicos condenados pelo crime cometido. Neste filme, o grande ápice é o diálogo entre Tom Cruise e o excelente ator Jack Nicholson, no papel do impetuoso e prepotente Coronel Nathan R. Jessep, que quando acuado pelas perguntas do talentoso jovem advogado, ameaçado de Corte Marcial por acusar sem provas um Oficial, sentencia o coronel do alto de sua arrogância: “você não suportaria a verdade!”.

Outro magnífico exemplo cinematográfico é, também, o filme “Tempo de Matar”, onde um advogado branco (Matthew McConaughey), numa pequena cidade do Mississipi, estado que se notabilizou pelo racismo enraizado, terra da Ku Klux Klan, organização que queimava pessoas pelo simples fato de serem negras, aceita defender um negro (Samuel L. Jackson), acusado de ter matado os três homens brancos que estupraram sua filha de onze anos de idade e foram inocentados por um júri racista.

Neste filme, o advogado branco, mesmo temeroso de que tivesse sua carreira prejudicada pela defesa de um negro numa cidade racista, consegue inocentar o pai por ter este agido em legítima defesa, ao propor que o júri, apesar de racista, pudesse se colocar, por um minuto, na pela daquele pai ao encontrar sua filha pequena jogada numa estrada deserta, violentada, sangrando ao lado de sua mochila escolar.

Tanto num como no outro filme, o que está em jogo, além das fontes de inspiração que induz o jovem para a carreira de Direito, é, inafastasvelmente, a escolha que fazem esses advogados pela defesa da justiça, transformando este anseio pelo justo na sua “Causa”, enquanto profissional e, sobretudo, cidadão, ser humano.

Isto posto… Para não ficarmos apenas somente na ficção, trago à tona a grande figura do advogado dos pobres, Cosme de Farias, que com apenas o curso primário, tornou-se advogado provisionado (rábula) e passou a vida defendendo milhares de clientes que, sem condições financeiras, de outra forma não teriam condições de uma defesa. Retratado por Jorge Amado, em Tenda dos Milagres, na personagem “Damião de Souza“, para reafirmar que a ficção também imita a vida. E é, diante disso, que pergunto aos jovens estudantes de Direito, principalmente os que dividem comigo a rotina da Facape, temos também uma causa? Caros colegas, que causa vós defendeis? Por que não começais a defender vossos direitos?

Por: Adão Lima de Souza

Isto Posto … Tiradentes: herói necessário ou conveniente.

Durante a Educação Fundamental,210px-Tiradentes_Esquartejado_(Pedro_Américo,_1893) o senhor Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746/1792), um ativista político do Brasil Colônia (1530-1815), é-nos mostrado como um grande herói nacional, pois desafiou a força da Coroa Portuguesa para instituir no Brasil uma república aos moldes francês ou Estadunidense. Para tal se valeu, juntos com outros intelectuais, da insurreição contra a ganância de Dom João V em cobrar impostos cada vez maiores, a fim de custear o luxo dos nobres portugueses.

O estopim da revolta fora a instituição da Derrama, medida administrativa que permitia a cobrança forçada de impostos com prisão do devedor, de modo que fosse garantido o chamado Quinto, imposto pago semestralmente em arrobas de prata ou ouro destinadas a Real Fazenda.

O movimento se iniciaria na noite da insurreição: os líderes inconfidentes sairiam às ruas de Vila Maria dando vivas à República, com o que ganhariam a imediata adesão da população. Porém, antes que a conspiração se transformasse em revolução, em 15 de março de 1789 foi delatada aos portugueses por Joaquim Silvério dos Reis e outros sacripantas a serviço de Portugal.

Daí, a revolta foi sufocada e Tiradentes esquartejado e exibido aos pedaços pelas ruas para servir de exemplo. O Alferes foi sumariamente condenado pelo o crime de lesa-majestade, tão abominável como uma blasfêmia contra Deus, segundo consta dos anais da História:

“Lesa-majestade quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado, que é tão grave e abominável crime, e que os antigos Sabedores o comparavam à lepra; porque assim como esta enfermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem e aos com quem ele conversa. Pelo que é apartado da comunicação da gente: assim o erro de traição condena o que a comete, e empece e infama os que de sua linha descendem, posto que não tenham culpa.”

Entretanto, o mais notável nessa história trágica é como Tiradentes, ao longo dos anos, a depender de quem estivesse governando o Brasil, se militar ou civil, passou de bandido a herói segundo as conveniências do momento político.

Hoje, talvez devido à falta de instrução ou coragem dos brasileiros em coroar seus heróis verdadeiros como os Índios, Zumbi dos Palmares, Francisco Julião, Josué de Castro, as Vítimas do Regime Militar, dentre tantos outros que arriscaram sua segurança, sua vida em prol de construir um Brasil melhor, a exemplo dos sindicalistas tratados como bandidos por partidos de direita ou de esquerda – cite-se o soldado baiano preso pelo governo do PT – ou assassinados como Chico Mendes, Tiradentes seja, ainda o melhor exemplo de heroísmo que este país tem: Herói forjado na mentira e manipulável conforme os interesses de políticas mesquinhas e genocidas.

Isto Posto… Nunca é inoportuno lembrar que heróis de verdade são aqueles que perseguem um ideal de justiça como os camponeses trucidados, diariamente, por grileiros nos rincões do Brasil ou bravos soldados baianos que resistem à tirania de gerentes do Capital.

Por: Adão Lima de Souza