A gente somos brazileiros
RIBEIROLÂNDIA – Os nervos e os neurônios estão à flor da epiderme. Reina a radicalização. Navegamos em tempos de tempestades políticas, sociais e institucionais. Amanhã o que será, que será? Um passarinho me contou e um passaralho me avisou: vamos navegar noutros mares. Bicho grilo, lá vou eu a bordo do meu submarino surreal, no reino do Brazil com Z. Voilá!
Eu sou um conservador revolucionário, um subversivo conservador. Mim achar que Brazil deve ser escrito com Z. O “S” é uma letrinha fraca, Z é uma letra irada, é fera.
Nos tempos de Pedrálvares os índios chamavam de Pindorama. Depois virou Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz. Existiu até o nome “Terra dos Papagaios”, segundo o Doutor Google. Nos anos 1930 do século passado os velhotes da Academia Brazileira de Letras disseram que o Z era arcaico, deram um golpe de Estado ortográfico, adotaram o “S” em nome da modernidade.
Antonio de Castro Alves, Ruy Barbosa, Augusto dos Anjos e dos pecadores, Machado de Assis, os luminares de nossas letras escreviam Brazil com Z. Sou fiel aos meus ídolos. Quando eu crescer e for eleito imortal da Academia Brazileira de Letras no lugar de Ribamar Sarney, vou lançar esta tese revolucionária.
Meu nome é Zé, da tribo da Ribeirolândia. A gente somos primos da turma dos Chimpan-Zés. Somos todos Zés desde os saudosos tempos das cavernas. Sou saudosista das cavernas. Não torço por nenhum time, aliás, torço contra todos os times, principalmente contra a seleção da CBF. Adorei a goleada de 8 a 0 da Alemanha contra a seleção da CBF (8 a 0, sim, pois o GOL da seleção da CBF devia ter sido anulado, no meu entender). Se seleção da CBF jogar hoje ou amanhã contra qualquer time, eu torço contra, com todo meu patriotismo.
Ainda sou um animal das cavernas. Meu sonho de consumo existencial é morar numa caverna com ar condicionado, frigobar, internet e uma namorada popozuda para me fazer cafuné. Estou num SITE DE NAMOROS procurando a freguesa para fazer um test-drive.
Gostaria de convidar os valentes imortais da Academia Pernambucana de Letras para uma cruzada revolucionária em defesa do Z. Se o meu amigo a Frade Joaquim do Amor Divino Caneca fosse vivo, tenho certeza que ele entraria nessa batalha, pois sempre foi um irredento, como dizem os intelectuais.
Vou falar com o Doutor Alvacir Fox, o meu Google de Apipucos para assuntos de letras científicas.
O Parque 13 de Maio e o Parque da Jaqueira são alguns dos pulmões de civilidade desta cidade lendária, o primeiro construído a mando do interventor Agamenon Magalhães para abrigar o Congresso Eucarístico mundial em 1938 e o segundo urbanizado pelo pref Joaquim Francisco em 1985 na resistência contra paus e pedras da especulação imobiliária dos arranha-céus. O terreno da Tamarineira continua em ponto morto.
Eu não me ufano da poluição sonora dos batuques e do som infernal nas vizinhanças e nos condomínios que transforma esta aldeia recifense numa lendária cidade tribal. As cidades civilizadas do Brasil e de outros países se ufanam parques e largas avenidas que proporcionam mobilidade urbana e qualidade de vida.
Aqui nesta terra dos altos coqueiros os progressistas são muito conservadores. Se você escrever o nome do mestre Gilberto Freire sem Ypsilone, será chamado de ignorante e jamais será eleito imortal da Academia de Letras, nem morto. Se disser que a rapadura-bolo-de-rolo-souza-leão não é uma quintessência da CULINÁRIA universal, vão querer cortar sua língua.
Também fica decretado em nome da tradição dos topônimos, em louvor ao licor de pitanga de Apipucos e aos brasões das academias, que todíssimas criaturas são obrigadas a falar, escrever e pensar “no”, “do” e “o Recife”. Eu só reverencio o topônimo se tiver direito a desconto no carnê do IPTU.
Tô fora desses provincianismos mambembes. Ao invés de topônimos e rapaduras, quero mais é saber das questões macroeconômicas e macropolíticas essenciais para a sociedade.
Por: José Adalberto Ribeiro, Jornalista.
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