Isto Posto… Quem dará nome aos bois?
Estamos a poucos dias da eleição que definirá quem governará o país pelos próximos quatro anos e ninguém se deu conta ainda de qual projeto goza de sua preferência enquanto eleitor, melhor, enquanto cidadão diretamente afetado pelas decisões provenientes de Brasília. Decisões estas, quase sempre tomadas sob o calor das discursões vazias e a efervescência costumeira dos estratagemas de corrupção.
E isso, não resta dúvida, é consequência do inescrupuloso partidarismo que toma de assalto o eleitor brasileiro, em tempos de campanhas emocionantes e promessas renovadas de gentis candidatos que sorriem para nós e nos abraça afetuosamente falso, desviando-nos de fazer a mais importante pergunta, que assim poderia ser formulada:
Em quais projetos de governança estamos votando?
A resposta a tal questionamento seria, paradoxalmente, a pergunta: há projetos nos quais se votar? Ou nosso papel como eleitor jamais poderia ir além da adversidade entre essa ou aquela predileção por um ou outro candidato que mais ou menos consiga dizer aquilo que gostamos de ouvir, “que tudo mais mudar e agente será mais feliz inventando um lugar”, como um compositor baiano nos dissera certa vez, quando afirmava que “tudo era divino, tudo era maravilhoso”.
Então exercitemos a coragem! Façamos a indispensável pergunta sobre qual projeto escolher para ser por ele conduzido nosso destino nos anos vindouros. Analisemos, portanto, os três esboços grosseiros e grotescos postos a nossa disposição; o projeto Aécio, o projeto Marina e projeto Dilma, não necessariamente nessa ordem.
Em comum, todos sinalizam com uma mudança urgente e necessária. Falam de escola em tempo integral quando o que o país precisa é de educação integral; prometem melhorias na saúde, transporte, mobilidade urbana, enquanto recebem gordas contribuições às suas campanhas advindas dos empresários que se locupletaram à custa do sucateamento de hospitais e do transporte público em geral; alardeiam soluções mágicas para o setor de segurança partindo, ambos, do ponto equivocado de que segurança pública é caso de polícia; conclamam, por fim, a necessidade de eficientes mecanismos de combate à corrupção ao mesmo tempo em que mendiga o apoio político de notórios ladrões.
Assim sendo, quais são os projetos que temos a escolher?
O projeto Dilma é sustentado por um programa televisivo que mais parece cena do filme Matrix, mostrando um Brasil artificial, virtual, em detrimento do Brasil real que tem pessoas morrendo em macas fétidas de hospitais imundos, que tem trabalhadores disputando a cotoveladas uma vaga num ônibus ou metrô de qualquer uma das capitais, se quiser voltar para casa depois de sua jornada de trabalho, que tem uma polícia extremamente violenta torturando, matando ou fazendo desaparecer pessoas como o pedreiro Amarildo. Isso tudo num país onde, segundo o mesmo IBGE que só erra quando a verdade incomoda, mais de 60% dos cidadãos tem menos de cinco anos de escolaridade e outras 50 mil pessoas são assassinadas por ano.
Quanto ao projeto Aécio, este quer se valer de um discurso que não alcança ninguém. Não alcança a classe média nem a classe miserável que as estatísticas oficiais tentam esconder. Envelhecido, o discurso dele peca por se arrimar em diretrizes já experimentadas em governos passados, por conseguinte, também esgotado como o atual modelo de governo petista. Para Aécio só restaria o acolhimento da classe alta. Todavia, este segmento social está pouco se lixando para discursos, pois nesses estratos sociais ideologias se medem em dólar.
Por último, o projeto Marina, cuja proposta seria de uma “Nova Política contra o Pacto Mofado”, como definira seu antecessor Eduardo Campos. Entretanto, o que se vê é tanta rasura em seu esboço de governança que mesmo antes de findar já estar cheirando a mofo.
Resta, por fim, o não citado projeto PMDB, partido do qual tanto Aécio como Marina, a exemplo de Dilma, serão reféns, reafirmando a tese irrefutável de que as relações institucionais no Brasil se dão mediante chantagens.
Isto posto, caro eleitor, só lhe restará a ressaca no dia seguinte à votação e uma dor de cabeça que se prolongará por quatro anos, sem que o projeto escolhido por você lhe sirva de aspirina para sua enxaqueca moral.
Por: Adão Lima de Souza
Deixe um comentário