O golpe de 64 e os contragolpes
Os generais quem comandaram a quartelada de 31 de março de 1964, foram os mesmos que em 1953, ainda Coronéis, assinaram o Manifesto dos Coronéis, contra a permanência de João Goulart no Ministério do Trabalho, acusado de estar aliciando sindicatos, para implantar no País uma república sindicalista, sob a tutela do Presidente Vargas.
Getúlio cedeu e passou a ser o alvo da maior companha que um presidente já sofreu, promovida pela imprensa reacionária, financiada pelas petrolíferas americanas ESSO, Texaco, Shell e Cia, contra a implantação da Petrobras, Lei 2004, sancionada pelo Presidente, em 3 de outubro de 1953.
O objetivo era promover via o Congresso, o impeachment do Presidente, pelos deputados financiados pelo IPES e pelo IBAD (uma espécie de mensalão), um “golpe legal”, acusando o Presidente de estar acobertando um mar de lama, corrupção no seu governo e protegendo assassinos dentro do Palácio do Catete (uma referência à prisão de Gregório Fortunato chefe da guarda pessoal de Getúlio, prisão determinada pelo próprio Presidente, em função de apuração pelo inquérito aberto na Aeronáutica, autorizado pelo Presidente, pela morte do Major Vaz e segurança de Carlos Lacerda, que incriminava Gregório).
Getúlio resistiu a toda sorte de acusações e de insultos, durante sofridos 10 meses e na manhã de 24 de agosto de 1954, surpreendeu os golpistas com um tiro no peito.
Trecho da Carta Testamento: “A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.
Esse ato de sacrifício extremo, provocou uma comoção popular inédita no Brasil, eliminando qualquer chance do golpe ser consumado.
A renuncia do presidente Jânio Quadros, no dia 25 de agosto de 1961, uma clara tentativa de um novo golpe, explicitado pelo próprio Presidente Jânio, dia 28 de agosto, às 16 horas, no momento de seu embarque no navio de bandeira inglesa URUGUAI STAR, com destino a Londres quando emocionado, declarou: “Fui obrigado a renunciar. Fui expulso do Brasil. Mas como Getúlio Vargas prometo: Voltarei”, ocasionou uma profunda crise política e gerou um dos maiores movimentos populares do Brasil e do qual nós tivemos a honra de participar ao lado do bravo Gov. Leonel Brizola, comandante dessa campanha vitoriosa.
O veto dos ministros militares à posse do vice-presidente João Goulart, que se encontrava em missão oficial na república Popular da China, eleito diretamente pelo povo (na época o vice também era votado, tanto que Jango – PTB – era o vice do Mal. Lott – PSD, enquanto Jânio havia sido eleito pela UDN), desencadeou em vários pontos do país um movimento de resistência aos propósitos golpistas dos ministros, mas foi no Rio Grande do Sul, sob a liderança firme e destemida de Brizola, que requisitou a Rádio Guaíba e formou a “Rede da Legalidade”, comandando mais uma centena de emissoras em diversos estados, que se organizou o povo, na defesa da legalidade pela posse do vice-presidente eleito.
Brizola, entrincheirado nos porões da Cidadela Legalista, comandava bravamente a resistência, através dos microfones da “Rede da Legalidade”, enquanto Jango retornava da China, via Urugaui, chegando a Porto Alegre, dia 1º de setembro, onde foi ovacionado e calorosamente recebido como Presidente. (foto com nossa presença no dia que Jango pisou o solo brasileiro).
Após marchas e contra marchas, o Congresso Nacional, numa flagrante violação à Constituição, aprovou, ilegalmente, uma emenda implantando o Parlamentarismo no País. Assim, João Goulart (Jango), o único presidente do Brasil, que morreu no exilio, em 06 de dezembro de 1976, assumiu a presidência da República, em 7 de setembro de 1961, tendo Tancredo Neves como primeiro ministro.
Conciliador, Jango cedeu às exigências das elites conservadoras, mas através de um plesbicito, realizado em janeiro de 1963, o povo, por absoluta maioria, devolveu-lhe os poderes do regime presidencialista.
Assim a tentativa de um novo golpe, foi abortado pela ação corajosa e destemida do jovem e bravo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (39 anos), através da sublevação e da maior mobilização cívica jamais realizada no Brasil.
Ante a derrota sofrida no plebiscito (janeiro 1963), as viúvas do capital alienígena, com o apoio explícito da cia americana, reagiram e iniciaram uma nova campanha de denúncias e acusações fabricadas, que culminaram com o golpe fatal e a deposição de Jango em 31 de março de 1964.
Por: Hari Alexandre Brust, militante histórico do PDT e presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). Publicado em Bahia Notícias.
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